Entrevista

Mostra de Cinema Pra Não Esquecer

Mostra de Cinema Pra Não Esquecer

A mostra Pra Não Esquecer ocorrerá de terça, 7, a sexta-feira, 10 na sala 102-K e trará a exibição de curtas e longas-metragens com temáticas político-sociais. Após, as exibições, haverá debates com professores da Universidade e também com os diretores Gabriel Marinho, do filme O Prólogo (2013), e Silvio Tendler, de Jango (1984). Diretora do Departamento de Comunicação Social, professora Angeluccia Habert explica um pouco como a mostra foi organizada e diz que o objetivo é retornar às raízes do passado para entender o que está acontecendo agora.

No que consiste a Mostra Pra Não Esquecer?

Angeluccia Habert: A mostra consiste em 13 filmes produzidos entre 1964 e 2015 que serão exibidos sem ordem cronológica. A ideia surgiu da necessidade de pararmos para pensar em uma condição política e social. Queremos retomar alguns temas e preocupações. As produções recentes são mais significativas porque são feitas por pessoas mais jovens. Os anos 60 são um tema recorrente, assim como o diálogo do momento político daquela época com a atualidade. Como exemplo, o Orestes, de 2015, do diretor Rodrigo Siqueira, que fala sobre os anos 60 e anistia. É um filme que mistura o político com o individual, e a questão da subjetividade aparece fortemente. É para pensarmos também o momento que nós vivemos, porque só tomamos consciência do que acontece quando as ideias são organizadas, e isso o cinema faz com facilidade, porque mistura e encurta. Centralizamos no filme Terra em Transe, de Glauber Rocha, que sempre foi considerado um filme profético. Na época, 1967, ninguém entendeu do que se tratava, mas Glauber estava fazendo algo contra o sentido da época, que era de transformação e emancipação. Eu diria que essa é uma das obras principais.

Qual foi a ideia de trazer os debatedores?

Angeluccia: Buscamos mesas de debates compostas de duas pessoas e montamos a relação de acordo com a disponibilidade de cada participante. Se duas pessoas vão debater o filme, elas podem contextualizar melhor. Isso vai fazer com que os presentes vejam que os momentos políticos vão e voltam, algumas coisas permanecem, o que acontece hoje há semelhanças com o passado.

Por que o título escolhido para a mostra é Pra Não Esquecer?

Angeluccia: O nome é este para não esquecermos dos problemas sociais e políticos e questões que nos atravessam. A ideia é de retornar às raízes do passado para entender o que está acontecendo agora. Proposta reforçada pelo texto que colocamos no cartaz, O Narrador, de Walter Benjamin, que fala sobre a troca de experiências. Benjamin diz que há dois tipos de narradores, o que viaja e o que permanece. O que permanece conta a tradição, o que vai em viagem, e retorna, conta o desconhecido. O narrador retira da experiência o que ele relata, ninguém pode trabalhar sem ter a própria experiência.

A mostra tem como foco os alunos de cinema ou está aberta ao público?

Angeluccia: Não, convidamos todos os alunos da PUC, os alunos de cinema não necessariamente têm um compromisso a mais porque a mostra será na parte da tarde. Como é uma questão política, os espectadores não vão assistir só porque estão lá, mas porque querem saber da problemática.

O foco são diretores nacionais, mas há também diretores estrangeiros?

Angeluccia: Sim, com exceção de dois, o diretor Costa Gravas, que é grego, do filme Estado de Sítio (1972) e Luis Puenzo, no filme História Oficial (1985). Os dois filmes tratam da questão das ditaturas na América Latina.

Além da questão política, que outras temáticas podem ser abordadas nos filmes da mostra?

Angeluccia: Além da parte política, há a questão profissional. Por exemplo, no filme de Glauber, o personagem principal é um jornalista. Já o documentário Mercado de Notícias, de Jorge Furtado, discute a questão do poder da mídia, ele entrevista diversos jornalistas e usa o humor para fazer uma crítica e as dificuldades da vida diária, de selecionar notícias. Este é um filme que realmente deve ser discutido em escola de jornalismo.

Quais os benefícios da mostra para os alunos?

Angeluccia: É justamente não esquecer, porque temos sentido que certas coisas estão acontecendo politicamente. No cinema você é livre, você faz relações daquilo que lhe é transmitido com as suas emoções, com as experiências. O filme só acaba com a interpretação do espectador, e são filmes para pensar. Eu gostaria muito que os alunos assistissem ao filme O Prólogo (2013), de Gabriel Marinho, porque foi feito por um diretor jovem e ele virá para o debate.

Programação Mostra Pra Não Esquecer

• Terça-feira, dia 7

9h – Filme: Memória pra uso Diário (2007, 84’) Beth Formagini
Debate: Andréa França

13h – Filme: Batismo de Sangue (2006, 110’) Helvécio Ratton
Debate: Ney Costa Santos e Adair Rocha

16h – Filme: Mercado de Notícias (2014, 94’) Jorge Furtado
Debate: Leonel Aguiar e Adriana Braga

19h – Filme: Terra em Transe (1967, 111’) Glauber Rocha
Debate: Joel Pizzini e Daniel Pereira

• Quarta-feira, dia 8

13h – Filme: Orestes (2015,93’) Rodrigo Siqueira
Debate: Hernani Heffner, Angeluccia Habert e Drauzio Gonzaga

16h – Filme: Utopia e Barbárie (2009, 120’) Silvio Tendler
Debate: Denise Lopes e Leise Taveira

19h – Filme: Estado de Sítio (1972, 120’) Costa Gravas
Debate: Eric Nepomuceno, Flávio Kactuz e Natalia Urbina

• Quinta-feira, dia 9

13h – Filme: Retratos de Identificação (2014, 71’) Anita Leandro
Debate: Patricia Machado e Liliane Heynemann

16h – Filme: Quase dois irmãos (2004, 102’) Lucia Murat
Debate: Lilian Saback e Márcia Brito Neto

19h – Filme: História oficial (1985, 112’) Luis Puenzo
Debate: Adriana Vianna e Rachel Barros

• Sexta-feira, dia 10

13h – Filme: Jango (1984, 115’) Silvio Tendler
Debate: Silvio Tendler e Larissa Costard

16h – Filme: Você daria um presunto legal (1971, 40’) Sergio Muniz
Debate: Amir Haddad, Flávio Kactuz e Zimara Fagundes

19h – Filme: O Prólogo (2013, 94’) Gabriel Marinho
Debate: Bruno Pereti, Gabriel Marinho e José Mariani