Entrevista

A Utilização do Espaço

A Utilização do Espaço

O professor Alvaro Ferreira falou mais sobre o encontro que vai ocorrer na PUC de segunda, 22, a sexta-feira, 26. Foto: Gabriela Azevedo

Qual é o objetivo do encontro?

Alvaro Ferreira: Esse simpósio é o quarto que fazemos na PUC-Rio. Ele tem três características especiais. A primeira é que defendemos que o conhecimento deve ser compartilhado, não pode ser transformado em mercadoria. Portanto, o encontro é gratuito. A segunda característica é o seu eixo temático, que ganha uma importância ainda maior no momento que estamos vivendo hoje. A terceira é que priorizamos o debate, os pesquisadores convidados são grandes intelectuais, referências internacionais para essa discussão. Como, por exemplo, o maior geógrafo de Portugal, o professor João Ferrão, que participou de todas as edições anteriores. A ideia principal é reunir, durante uma semana inteira, grandes nomes internacionais para debater o tema de forma multidisciplinar.

Como foi a escolha do tema?

Alvaro Ferreira: Eu sempre faço propostas instigadoras e desafiadoras. Associar a produção do espaço, a emancipação social, o comum e a verdadeira democracia não é algo usual. Eu sempre busco desafiar esses grandes intelectuais convidados no intuito de fazer a diferença.

Quais principais pontos serão debatidos?

Alvaro Ferreira: Vamos refletir sobre o direito a produção do espaço. Em geral, achamos que não temos alternativa, que as coisas só podem ser como já são. Temos que discutir o direito de pensar que temos possibilidades. Outro ponto fundamental é a justiça social, portanto vamos abordar a emancipação. As pessoas devem poder se pensar como seres livres, em relação ao próprio corpo, inclusive, e obviamente em relação ao espaço que elas habitam. Vamos resgatar também a ideia do comum, da comunidade. Hoje o ser humano se transformou em mercadoria, isso é uma forma muito grande de alienação. Finalmente, vamos debater a questão da verdadeira democracia. Escolher um novo representante de quatro em quatro anos não é democracia. Democracia é muito mais do que isso. O cidadão deve tomar para si as decisões, precisamos de comitês populares com debates constantes.

Qual a importância de discutir esses temas na atualidade?

Alvaro Ferreira: Quando elaborei o tema, eu não imaginava que estaríamos passando por essa situação tão delicada atualmente. Talvez esse tema não seja apenas importante, mas necessário devido ao grande retrocesso pelo qual estamos passando. Se as pessoas estiverem dispostas a ouvir e debater, eu espero que possamos proporcionar uma reflexão sobre o caminho que elas estão percorrendo. O problema é que atualmente uma parcela da sociedade não está disposta a ouvir, não temos mais debates hoje em dia, e sim embates, em que as pessoas disputam como torcidas de futebol.

Há uma diversidade de assuntos, como eles se correlacionam, como eles dialogam?

Alvaro Ferreira: Quando pensamos em todos esses assuntos, a questão da utopia é muito importante. Mas não a utopia em si, aquela coisa maravilhosa, perfeita, e sim o caminho que deve ser traçado até chegarmos nela. Todas as conquistas que formos trilhando até chegar nela já estão valendo. A produção do espaço urbano foi pensada a partir de uma democracia de baixa intensidade, quem definiu como produzir as cidades foram especialistas que estão afastados dos moradores das cidades, resultando nesse planejamento segregador. Habitar é muito mais do que apenas a moradia, habitar é viver em plenitude a sua cidade. Para abraçar essa proposta, e defender esse novo projeto de mundo, o simpósio busca mostrar que a luta pelo bem comum é capaz de alcançar essa outra possibilidade de mundo.