Entrevista

Curvas que fizeram história

Curvas que fizeram história

O arquiteto Oscar Niemeyer morreu aos 104 anos deixando mais de 600 obras espalhadas pelo mundo. O modernista, que sempre escapou das definições, deixa como legado toda singularidade do traçado que o fez famoso. O PUC URGENTE conversou com a professora Ana Luiza Nobre, do curso de Arquitetura, sobre as obras de Niemeyer e o reconhecimento internacional que ele conquistou.

Para você, o que representa o arquiteto Oscar Niemeyer?

Ana Luiza Nobre: Foi um artista que confiou muito na imaginação e em um projeto que tinha uma energia utópica muito grande. Os arquitetos da época buscavam um mundo melhor e acreditavam na capacidade da arquitetura de mudar o mundo. Ele sonhava sempre com um mundo melhor. Niemeyer é um dos grandes arquitetos modernos no mundo. Então, ele tem uma importância local muito grande, tem muitas obras espalhadas pela cidade, também tem uma importância muito grande no Brasil todo, porque além de ser arquiteto, ele é um dos grandes artistas do século XX. No quadro da arquitetura internacional, ele foi um arquiteto muito ligado aos princípios modernistas definidos na Europa, mas que, ao mesmo tempo, escapa dele, porque a arquitetura de Niemeyer sempre foi muito autoral e tem um caráter muito local. Acho que a grandeza do Niemeyer está nesses dois lados. Ele pertence ao grupo dos grandes mestres da arquitetura moderna, mas também coloca uma série de problemas para essa arquitetura moderna, justamente por ser tão singular e fugir da linearidade.

O que representa a obra dele para a sociedade?

Ana Luiza: A beleza e a expressão plástica das obras dele são muito fortes. Se comunicam rapidamente com o público, é muito impactante e fica gravada até mesmo na mente de uma criança. As obras dele se tornam um emblema muito forte. O Museu de Arte Contemporânea, por exemplo, virou o logotipo da prefeitura de Niterói, os ônibus em Belo Horizonte são estampados com a Pampulha e as colunas de Brasília você pode ver até nas boleias dos caminhões. As obras se tornam um vocabulário popular muito rápido, ao mesmo tempo em que tinham uma complexidade muito grande se estudadas a fundo.

Niemeyer é reconhecido internacionalmente, ao que se deve esse sucesso?

Ana Luiza: Niemeyer já tinha feitos obras importantes fora. Na década de 30, ele fez junto com Lucio Costa o Pavilhão do Brasil, em Nova York. Na década de 40, ele fez parte do grupo que projetou a sede da ONU, também em Nova York. Mas essa expansão das obras fora do Brasil se dá durante os ano 60 e 70, quando ele é forçado a sair do país devido ao golpe militar. Com isso, estabelece um escritório em Paris, onde fez diversos projetos, como o da sede do Partido Comunista, de uma universidade na Argélia e muitos outros. Este foi o período de maior produção internacional. É nesta época que ele também explora bastante a técnica do concreto armado e que conta com grandes engenheiros para isso.

Qual o peso do estilo de Niemeyer para os alunos de arquitetura?

Ana Luiza: Não existe um meio de ensinar Niemeyer. Ele foi único com estilo muito próprio, muito singular. Eu procuro fazer meus alunos discutirem a obra dele a partir do momento em que elas foram produzidas. Isso envolve pensar essa obra por diversos aspectos, pela técnica, pela estética, pelo ponto de vista social. Mas ensinar um método Niemeyer não tem como.

Não é curioso ele ter projetado tantas igrejas?

Ana Luiza: Uma coisa bonita dele é que ele era comunista, ateu, mas fez diversos templos sagrados, como a catedral, em Brasília, a igreja da Pampulha, em Belo Horizonte, entre outros espaços religiosos. Essa capacidade que ele tinha de projetar um espaço religioso sendo ateu, mostra que o sentido do sagrado independe da religião. As igrejas que ele projetou são muito bonitas, inesquecíveis.