Entrevista

Democratização da leitura

Democratização da leitura

Foto: Fernanda Maia

O iiLer e a Cátedra UNESCO de Leitura lançam, na quinta-feira, 26, a plataforma Cartografias da Leitura. O site é um registro de iniciativas de leitura, públicas e particulares na América Latina e na Ibero-América. É possível encontrar decretos, políticas, leis, publicações e planos de leitura, com descrições completas de cada um. O diretor do iiLer, Alessandro Rocha, e a professora Eliana Yunes contam sobre o desenvolvimento do projeto e o benefício para o universo acadêmico.

Por que escolher o nome Cartografias da Leitura?
Eliana Yunes – A ideia de fazer um site com esse nome nasce da necessidade de mapear o que se fez e o que se está fazendo no campo da leitura: história, estudo, promoção, teorização e práticas. Mapear o que contribuiu e contribui para a prática da leitura no país, na América Latina e na Ibero-América, valorizando as trocas de experiência em espanhol e português entre os países que estão envolvidos. O conceito de cartografia é maior que o de um observatório, que mostra apenas o desenrolar do que está acontecendo; queremos fazer como nossas rotas antigas, conhecer os caminhos que foram percorridos, os que estão sendo registrados, pensando nas possibilidades a partir deles.

Alessandro Rocha – Ao mesmo tempo em que estamos recuperando o que já foi feito em políticas, por anos, programas, ações que já foram realizadas, estimulamos o que pode ser realizado. Ao mesmo tempo, Cartografias é um grande repositório, mapas para novas práticas, para novas atuações.

E como é possível acessar todo esse material no Cartografias?
Eliana –
 Cada um dos países da Ibero-América aparece com a descrição do seu plano, início e término. E os links em que a pessoa interessada pode ir direto à fonte e buscar essas referências. Como cada um tem o seu plano nacional de leitura, tentamos resgatar uma visão internacional. Além deste, existem os planos estaduais e municipais brasileiros. É seguindo o mesmo processo, mostrando o plano vigente, o link apresenta o que está acontecendo segundo o próprio responsável. Queremos dar acesso, buscamos as fontes e reunimos o material. Alguns planos existem, mas não estão em prática e, em outros lugares, a sociedade civil se mobilizou para a criação de projetos. Isso também aparece registrado sobre a ótica de indicação de ações que estão em curso.

Qual o diferencial do Cartografias?
Rocha –
 A diferença do Cartografias é que há uma reunião de todas essas rotas traçadas por muitos e não apenas para divulgar nossas pesquisas, mas mostrar uma articulação entre tudo que se tem feito para promover a leitura. Quisemos oferecer em um só espaço essa multiplicidade de práticas e de formulações sobre a promoção da leitura.
Eliana – O trabalho tem um aspecto político muito forte, porque mostramos as ações que outras instituições fizeram, tanto no tempo quanto em espaços geográficos diferentes. A abrangência disso, deste ponto de vista, é muito importante, porque não existe nenhum site, nenhum espaço na internet, que reúna essas informações. É completamente inédito e original. Os observatórios não correspondem à abrangência dessas cartografias. Reunimos todo o material que estava disponível e organizamos em um espaço relativamente enxuto, uma sistematização inexistente antes.

Qual a outra forma de o usuário participar dessa construção de conhecimento propiciada pelo Cartografias?
Rocha –
 Há previsão de interação porque construímos um mecanismo no qual, de qualquer lugar, alguém pode inscrever e comunicar o seu informe. Não só aquilo que os pesquisadores daqui fazem, mas a possibilidade de que os próprios agentes desses projetos possam mostrá-los. Eles passam por uma leitura nova e são apresentados com os outros já pesquisados. É algo que acaba por se configurar em um serviço público, tanto na disponibilização das informações, quanto na possibilidade de que outras pessoas, em outros lugares, possam alimentar e mostrar as próprias práticas.
Eliana – Este dado é extremamente importante, porque o Cartografias é um trabalho em processo permanente e vai poder ser atualizado, de forma constante, corrigido, ampliado, com reconhecimento dos que colaboram.

Que outras seções estão disponíveis no site?
Eliana –
 Na Linha do Tempo da Leitura, no caso do Brasil, começamos em 1553, e diacronicamente mostramos ano a ano tudo o que foi feito para promover a leitura, com institucionalizações diferentes da leitura. Cada ano aparece com um seu documento, como fonte da informação. O usuário pode seguir por ano ou por fonte. Esperamos que cada país possa fazer a própria linha do tempo. Por outro lado, o Sítio de Leitura, que é o nosso banco de dados, mostra o sincrônico. O Sítio da Leitura permite que identifiquemos dissertações e teses defendidas, os pesquisadores do campo da leitura, as resenhas e bibliografias, seja de livros teóricos, seja de literatura infantil, os autores principais, as editoras que estão produzindo sobre a leitura e literatura infantil, programas, vídeos e entrevistas no Brasil. É possível localizar no mapa onde está, quem fez e seu contato.

Rocha – A Linha do Tempo se torna um instrumento de pesquisa para quem pesquisa sobre leitura, livros, bibliotecas. Está sendo mapeado exaustivamente tudo realizado no Brasil com a ajuda da RELER, rede de pesquisadores da Cátedra/iiLer. Também há um elenco de prêmios dados no Brasil sobre leitura. E entre esses estão os prêmios que o Instituto oferece, o Ricardo Oiticica e o Selo Cátedra 10, que podem ser acompanhados em site próprio.

Qual a importância desse trabalho para o meio acadêmico?
Eliana –
 Este trabalho por si só justifica a existência do iiLer e da Cátedra, porque permite que, independente da equipe que está centrada aqui dentro, o país se abra a uma coleta e sistematização, reunindo dados com uma linha de conexão, com uma extensão que mesmo hoje não se consegue avaliar. É algo que ficará para outros grupos e instituições. E já dá visibilidade ao que existe. Não é só a questão das trocas, mas o dar a ver e na visibilidade há democratização da circulação da informação.