Entrevista

Diálogo para conviver com a diferença

Diálogo para conviver com a diferença

Padre Paul e Guilherme Borba. Foto: Amanda Dutra

Que Igreja você quer? é o tema do encontro para jovens organizado pela Comunidade de Vida Cristã Universitária (CVX-U) e o Centro Loyola de Fé e Cultura. A meditação inaciana vai ser conduzida pelo coordenador da Pastoral Universitária da PUC-Rio, padre José Abel de Souza, S.J., no sábado, 6, das 10h às 16h, no Centro Loyola. Em entrevista, padre Paul Schweitzer, S.J., professor emérito do Departamento de Matemática, e o estudante Guilherme Neuman Borba contam como será o encontro e comentam a importância do diálogo na juventude.

Como foi a escolha do tema?

Guilherme Borba: Ao logo dos últimos dois anos e meio de encontros da CVX-U, percebemos que esse tema é muito recorrente. Existem muitas perspectivas de Igreja. A espiritualidade não é só uma visão de Igreja, mas uma visão de Deus. O tema surgiu muito relacionado ao período político, pelas divisões encontradas dentro da própria Igreja e de cada um de nós. E chegamos na questão que igreja queremos para nós e para a sociedade? Independentemente de você praticar ou não uma religião, a Igreja está na sociedade.

Padre Paul Schweitzer: Hoje, muitos têm fé em Deus e estão procurando uma espiritualidade, mas não querem compromisso com a instituição. Porém, assim como a sociedade não pode existir sem empresas, governos, comunidades, é preciso ter organização também na questão religiosa. A instituição é flexível, e nós queremos que as pessoas, especialmente os jovens, possam dizer como deveria ser a Igreja, porque o futuro é dos jovens.

Qual o objetivo do encontro?

Guilherme: Aideia é partilhar, fazer uma meditação e refletir sobre o tema. Mas é um momento em que queremos saber o que as pessoas pensam. O principal objetivo é discutir o assunto. Queremos, também, apresentar o nosso grupo como uma opção de vivência e conversa dessa Igreja.  

Padre Paul: A proposta é que as pessoas encontrem um grupo pequeno de amigos com quais podem conversar sobre as coisas importantes da vida, com confiança mútua.

Como será conduzida a meditação?

Guilherme: Um método de oração é a meditação. É um momento de interiorização, todo o processo do transcendente passa pelo autoconhecimento e pela meditação. No Centro Loyola, temos a intenção de inserir o método de meditação dos exercícios espirituais de Santo Inácio, mas, ao mesmo tempo, deixamos em aberto para quem quiser refletir de sua maneira também. 

Padre Paul: Envolve também conversar com Deus. Ele está presente em nossa alma e, quando refletimos, o Espírito vai nos inspirando, nos guiando. Essa é a dimensão divina dessa meditação. Padre Abel vai fazer uma apresentação para estimular a discussão e o debate. Logo depois, vamos ter uma meditação individual.

O Papa Francisco diz “Apenas os que dialogam podem construir vínculos”. De que maneira o encontro pretende ampliar o diálogo entre os jovens?

Guilherme: O grupo CVX-U já é um passo para isso. O vínculo do diálogo é o mais importante. Nosso grupo é composto por pessoas com opiniões muito diferentes sobre Deus e sobre a Igreja. Isso é um desafio enorme. As pessoas tendem a fugir das opiniões divergentes, pois requer sair da zona de conforto. Mas é preciso. Eu me digo católico hoje, mas, com certeza, sou totalmente diferente de outra pessoa que se diz católica, cristã ou ateia. No fundo, a gente precisa discutir as mesmas coisas. O vínculo vem depois, mas precisamos começar a discutir a partir das diferenças e na juventude.

Qual igreja o jovem de hoje deseja?

Guilherme: É difícil falar por todos os jovens, mas eu quero uma igreja que, de fato, viva o mandamento do amor que Jesus colocou. Uma instituição que esteja mais preocupada no que Jesus colocou de amor, mas de amor independente da crença em Jesus. E que, principalmente, não aponta o dedo na cara dos outros e que respeita as decisões das pessoas. Ao desejarmos uma igreja unificada, não teremos um pensamento comum, mas devemos viver o respeito com pensamentos diferentes.

Padre Paul: A igreja existe dentro da sociedade, e a sociedade tem uma cultura que vai mudando. E hoje em dia muda muito rápido. Para expressar as mesmas verdades, realidades e praticar as mesmas virtudes, a instituição tem que se adaptar. Os jovens têm que procurar o que podem construir e como será. Lembrando que Deus quer que nós sejamos felizes. Não é para ter um peso para carregar, mas sim para ver como podemos viver uma vida com sentido, construindo algo positivo em busca da felicidade. 

No momento, vivemos uma polarização de opiniões e ideologias. Como a Igreja tem observado esse cenário?

Guilherme: Temos duas realidades: aqueles que fogem da Igreja por ela reprimir e aqueles que fogem para dentro da Igreja para estarem protegidos de discutir.

Padre Paul: É importante pensar e refletir que a vida tem momentos difíceis, a pessoa que quer viver uma vida sempre coerente não vai ter desafios. Às vezes, sabemos o que fazer, mas não encontramos força de vontade. Por isso, é muito importante a relação com Cristo, que nos dá forças pelo seu Espírito. Isso não é somente entre mim e Deus, mas entre nós e Deus. Ele vai arrumando e ajudando a cada um de nós através dos outros.