Entrevista

Discurso midiático em pauta

Discurso midiático em pauta

Questionar a existência do discurso midiático e discutir os meios de comunicação na experiência moderna são os temas do Seminário Internacional Comunicação, Discurso e Experiência, que será entre esta segunda, 2, e terça-feira, 3, às 14h, na sala 102-K. O encontro, organizado pelo Programa de Pós-Graduação de Comunicação Social (PPGCOM), será ministrado pelo professor da Universidade de Lisboa Adriano Duarte Rodrigues e mediado pela professora do Departamento de Comunicação Social Adriana Braga. Uma das organizadoras, Adriana ressalta que o seminário tem um viés menos técnico e mais crítico. Já o professor Adriano avalia o papel da mídia no contexto da experiência.

Qual o objetivo do seminário?

Adriana Braga: A Pós-Graduação do Brasil tem dado muito apoio às parcerias interinstitucionais. Isso é louvável, porque é quando a escola se renova. A intenção é fazer com que o contato com um professor experiente e de uma universidade estrangeira gere interesses em comum de pesquisas e perspectivas metodológicas. O objetivo é unir um objetivo semelhante entre a pós-graduação e a graduação. Temos feito esforços para fazer parcerias com universidades estrangeiras e, a partir disso, pensar projetos conjuntos com essas universidades. A parceria internacional tem muito a acrescentar ao nosso corpo docente.

Por que o professor Adriano Duarte Rodrigues, da Universidade de Lisboa, foi escolhido para ministrar esse encontro?

Adriana: É um convite específico da minha linha de pesquisa, Comunicação e experiência, com a qual ele tem especialidade. Ele fundou o curso de Comunicação de Portugal, tem a experiência toda de compreensão da mídia. Adriano fez livros básicos sobre o que é a mídia para embasar o curso. Em Portugal, a diferença interessante é que os cursos de graduação não são cursos profissionalizantes, nem pretendem ser. Outra questão interessante é que na Europa nunca foi necessário diploma para exercer a profissão de jornalista. Isso nos leva a um debate sobre a mentalidade e o ensino das escolas europeias. Como funciona isso lá? Como eles lidam com a competência técnica? Essa é uma discussão relevante, porque os estudantes daqui têm uma apreensão com relação a essa questão do diploma.

Quais temáticas serão abordadas?

Adriana: Pretendemos questionar o que é o discurso midiático. Será que, afinal, a mídia produz discursos? Essa perspectiva ficou fora de moda por um tempo, mas agora voltou à moda. Nessa linha privilegia-se o sujeito, que foi tão negligenciado por teorias abstratas. Os estudos nessa área estão ressurgindo em meio à ascensão das redes sociais. Essa abordagem privilegia situações naturais. Por exemplo, no telejornalismo, numa entrevista ao vivo. A busca é entender esse sujeito personalizado.

O tema de uma de suas palestras é a relação entre a comunicação e a experiência. Sob que perspectiva será abordada a questão da experiência?

Adriano Duarte Rodrigues: Costumo distinguir três modalidades de experiência: 1) a originária, que corresponde ao regime pulsional e do desejo, que se manifesta sobretudo nos estados emocionais, 2) a tradicional, que corresponde ao conjunto dos saberes do senso comum, para os quais a única razão de ser é o fato de nos terem sido transmitidos, e 3) a moderna, que corresponde ao conjunto dos saberes para os quais podemos invocar razões. A experiência é assim formada pelos dispositivos adquiridos que desencadeiam comportamentos adequados aos diferentes quadros de interação.

Qual o papel das mídias no contexto da experiência?

Rodrigues: A mídia é o nome que damos aos dispositivos técnicos inventados pelos seres humanos para a construção do mundo. A mídia está intimamente dependente da modalidade moderna da experiência. Ela é hoje um campo autônomo que “religa” o tecido fragmentado da vida social moderna. A este propósito é muito interessante a produção metafórica dos discursos que circulam nas redes midiáticas, produção que faz circular as categorias dos outros campos sociais.