Entrevista

Encontro anual de Prática Exploratória volta ao formato presencial

Encontro anual de Prática Exploratória volta ao formato presencial

Professoras Maria Isabel A. Cunha, Inés K. Miller e Walewska Gomes Braga: resiliência na pandemia (Foto: JP Araujo)

As professoras Adriana Nóbrega, Inés K. Miller, Maria Isabel A. Cunha e Walewska Gomes Braga, do Departamento de Letras, coordenam o 23º Evento Anual de Prática Exploratória, presencial, no dia 25 de novembro, a partir das 8h, no IAG PUC-Rio. O tema da edição – “das telas aos abraços”-, reflete sobre o isolamento social durante a pandemia. Em 2020 e 2021, os encontros foram realizados pelo Zoom. Durante este período, a troca foi intensa, uma série de reuniões foi realizada, houve acolhimento de professores da rede pública e privada e o lançamento de dois e-books (um em português e outro em inglês).

O tema do 23º Evento Anual de Prática Exploratória – “das telas aos abraços” – reflete o tempo em que ficamos dois anos isolados, durante a pandemia? O que professores e alunos ganharam e perderam longe do convívio no campus da Universidade?
Inés Miller:
Certamente, o tema deste ano está diretamente relacionado aos dois anos da pandemia, já que em 2020 e em 2021, nossos eventos anuais foram realizados pelo Zoom – tudo nas telas. Os pôsteres foram compartilhados remotamente e as oficinas também. Este ano, vamos nos abraçar, mas teremos que usar máscaras, por precaução. Cabe mencionar que o Grupo da Prática Exploratória não ficou isolado: passamos a nos reunir semanalmente por Zoom, em vez de mensalmente, no Departamento de Letras da PUC-Rio. Nessas reuniões acolhemos muitos professores de escolas particulares, municipais e estaduais que estavam totalmente isolados dos seus alunos. Todos tinham narrativas de sofrimento para contar – os das escolas particulares compartilhavam os esforços para continuar com o trabalho “adaptado” à nova realidade; os das escolas públicas lamentavam ter perdido o contato com os alunos que não tinham acesso à tecnologia. Muita tristeza e resiliência. Vale a pena mencionar que nessas reuniões também resolvemos realizar um sonho antigo. Nos dedicamos à elaboração e publicação do e-book intitulado Por que trabalhar para entender a vida em sala de aula? Depois, resolvemos traduzi-lo para o inglês e ficamos longas horas fazendo a revisão de forma remota. Ambos e-books se encontram acessíveis na página das licenciaturas da PUC-Rio. Podemos dizer que, durante a pandemia, os professores e seus alunos perderam a oportunidade ímpar de refletir criticamente, em suas escolas e universidades, sobre algumas práticas pedagógicas que precisavam ser problematizadas e que, por outro lado, entenderam a importância dos encontros presenciais.

O seu grupo estimula a crítica e a reflexão dos professores em relação à qualidade de vida dentro da sala de aula. Ser sensível às questões dos alunos ajuda no aprendizado de uma disciplina?
Adriana Nóbrega:
Acreditamos que sim. A partir da nossa longa experiência de vida e de trabalho na Prática Exploratória, entendemos que alunos e professores em diversos contextos desejam buscar entender questões sobre a(s) qualidade(s) das vidas que estão compartilhando em suas salas de aula. O trabalho crítico-reflexivo da Prática Exploratória é integrado aos conteúdos que precisam ser trabalhados e leva a uma integração maior entre as pessoas. A escuta atenta a essas questões faz com que o trabalho em sala de aula se ‘humanize’, gerando um ethos de confiança, respeito, afeto, que ajuda no aprendizado da disciplina. Outro aspecto importante é que consideramos que tanto os alunos quanto os professores são aprendizes em constante formação. Somos todos praticantes exploratórios dos processos de aprendizagem.

Por que se costuma separar a sala de aula das questões da vida?
Walewska Braga:
Nos diversos contextos escolares em que atuamos, sentimos a pressão do ensino tradicional para que alcancemos bons resultados. Testes, provas, “vestibulinho”, vestibular e o mercado de trabalho regulam os objetivos do nosso tempo na escola. Desejando boas notas, sucesso e realizações, alunos e professores aprendemos a esquecer do medo, das angústias, das incertezas que nos afetam no dia a dia da sala de aula. Os praticantes exploratórios acreditam que as inúmeras questões que surgem no dia a dia são instigantes e inspiradoras. Sem buscar resolvê-las (nem sempre é possível), o trabalhar para entender não implica deixar o conteúdo de lado: leituras de textos, pesquisas e discussões tornam significativo e motivador o processo de aprendizagem. O trabalhar colaborativo para entender as questões envolve e aproxima os participantes (professores e alunos). Todos aprendem juntos. Emocional e cognitivo interligados, se complementam.

Nem sempre é possível envolver todos os alunos durante uma aula. Como se pode enfrentar esse desafio?
Maria Isabel Cunha:
Este é um desafio para aqueles que entendem uma aula como um espaço-tempo em que os alunos são considerados como um bloco uniforme e o professor se preocupa em transmitir a sua matéria e tentar controlar o aprendizado dos estudantes. Nessa situação, o professor se considera o ator mais importante e onipotente e não percebe que todas aquelas pessoas à sua frente são seres únicos, com histórias diferentes e modos de aprendizado pessoais. E este professor também é uma pessoa com ideias e crenças próprias e com uma história de vida e profissional pessoal, que deveria ser respeitado e encorajado a refletir sobre o que acontece numa sala de aula. Quando a Prática Exploratória propõe que o trabalho deve tentar envolver todos os que dele participam, não estamos propondo um controle do envolvimento dos participantes, mas sim que o trabalho feito por todos e que respeita os interesses e as qualidades das vidas de todos terá mais oportunidades de ser alcançado, entendido e explorado.