Entrevista

Espaço, cotidiano e ação

Espaço, cotidiano e ação

A 3ª Edição do Simpósio Internacional sobre Metropolização do Espaço, Gestão Territorial e Relações Urbanos-Rurais (Simeger) começa nesta segunda-feira, 24, e se estende até sábado, 29, com palestras no Auditório Padre José de Anchieta. O tema deste ano será Metropolização: Espaço, Cotidiano e Ação. O simpósio, que vai reunir a participação de geógrafos de todo o mundo, busca debater e articular questões sobre o espaço urbano contemporâneo. Idealizador do encontro desde a 1ª edição, o professor Alvaro Ferreira, do Departamento de Geografia, conta sobre a proposta do simpósio.

O que o incentivou a promover o simpósio?

Alvaro Ferreira: O simpósio surge de uma inquietação muito grande do processo de transformações, não só das cidades em si, mas da maneira em quem se vê o espaço
urbano. Atualmente, ele ganha uma dimensão prioritária na configuração do planeta. A vida é urbana, e, mais que isso, ela é urbana-metropolitana. É a metrópole que dirige, além da economia, o modo de vida do mundo. Essa lógica faz com que a maneira como se vivência as atividades rurais se modifique, e isso muda o fundamento de gestão, que se relaciona com um raciocínio ligado à uma maneira de vender a cidade, que se torna uma mercadoria presente no mercado. E vai competir com outras cidades, que também querem ser vendidas, no sentido de conseguir investimentos, capital, atrair turistas, circulando bem no mercado internacional. O papel do prefeito passa de administrador a empresário em busca de investidores. Isso tudo muda, e essa inquietação, por causa dessa nova dinâmica, nos motivou a criar o simpósio.

Quais são os principais pontos do Simpósio Internacional sobre Metropolização do Espaço, Gestão Territorial e Relações Urbano-Rurais?

Ferreira: O eixo temático deste terceiro simpósio é espaço, cotidiano e ação, e o que nós podemos fazer para efetivamente transformar esta lógica de especulação mobiliária,
financeirização na produção do espaço que nós estamos vivendo aqui. A temática principal do encontro este ano é pensar em novas possibilidades de mudar isso, e o
grupo de convidados para falar e debater é impressionante.

Quem são os convidados?

Ferreira: O vencedor do prêmio Nobel de geografia (o prêmio Vautrin Lud) em 2008 e professor da Universidade de Barcelona, Horácio Capel, vai contribuir com o
seu olhar crítico acerca do Modelo Barcelona, que inspirou as transformações
na Zona Portuária, na cidade olímpica da cidade do Rio de Janeiro. Nós vamos ter também outro professor-pesquisador de Barcelona, o Oriol Nel.lo, que
trabalhou na Secretaria de Planejamento e Ordenamento do Território do governo da Catalunha. O maior geógrafo português da atualidade e que também teve uma participação no governo socialista português, João Ferrão, estará presente em uma palestra, além de outros grandes nomes da Europa e daqui do Brasil. A professora Maria Laura Silveira, que vem de Buenos Aires, trabalhou na Universidade de São Paulo no mesmo período que o grande professor Milton Santos, que foi o maior geógrafo do Brasil, com quem teve muito contato. Ele foi o primeiro não anglo-saxão a ganhar o prêmio Vautrin Lud, uma pessoa muito importante dentro do crescimento e do debate da
geografia.

Qual é o grande diferencial deste Simpósio para os demais da área?

Ferreira:
 É um congresso internacional com esses grandes nomes e a inscrição não é cobrada – a gratuidade existe desde o primeiro simpósio. Isso é muito sério e importante, pois em um contexto que há crítica da mercadificação de tudo, em que tudo se transforma
em mercadoria, o conhecimento não pode ser mais uma. Ele tem que ser partilhado. Este é um ideal que todos esses professores compartilham. Este simpósio é diferente também por ter convidado pessoas que tinham algo muito importante a dizer e que estão dispostas
a debater ideias.

Por que a sede é na PUC-Rio, e o que este encontro vai contribuir para a cidade?

Ferreira: Para um projeto com esses tipos de valores, em que a gratuidade e a valorização do debate fossem mantidas, não seria possível ter um evento itinerante, pelo menos não até que ele esteja mais consolidado. O simpósio tem trazido algo positivo para a cidade ao disponibilizar, ao final de cada evento, um livro com todas as falas repensadas os pesquisadores voltam para os seus países e cidades, repensam aquilo que foi
apresentado, fazem um ajuste no texto e nos enviam. Além da participação das Secretarias de Planejamento, de Urbanismo, tanto do município quanto do estado, que têm vindo a nosso convite.

De 2012 até hoje, qual o desenvolvimento que o simpósio passou?

Ferreira: Uma coisa que vemos claramente é que nós, pesquisadores brasileiros, temos um caráter muito mais teórico e metodológico, enquanto os europeus são mais pragmáticos,
eles pensam mais o fazer. O que reparamos nessa troca, é que tem sido muito positiva para os dois lados. Agora eles têm um cuidado maior com a dimensão teórica, que  dominamos muito. E, nós, a preocupação de compreender para transformar. A ação é necessária também, é o diferencial deste terceiro simpósio. A mistura entre discursos tem dado um balanço muito interessante.

► Programação

Dia 24

7h15
 – Credenciamento
8h30 – Mesa Temática 1: Espaço, Cotidiano e Sustentabilidades.
10h – Abertura do Evento
10h30 – Conferência de Abertura: Cidadania e utopia: em tempos de metropolização, como pensar uma ciência cidadã?, com o professor Horacio Capel (Universitat de Barcelona)
11h45 – Debate
12h30 – Almoço
14h30 – Palestra 1: Metropolização do espaço e a nova morfologia do trabalho, com professor Ricardo Antunes (UNICAMP)
15h30 – Debate
16h15 – Intervalo
16h30 – Mesa-redonda 1: Metropolização do espaço: financeirização, produção alienadora das cidades e indícios de insurgência, com os professores Alvaro Ferreira (PUC-Rio/UERJ), Maria Beatriz Cruz Rufino (USP) e Saint-Clair Cordeiro da Trindade Júnior (UFPA)
18h – Debate
18h45 – Encerramento das atividades com coquetel e atividade cultural.

Dia 25

8h – Mesa Temática 2: Espaço e Sustentabilidades/Transformação da Paisagem.
9h15 – Palestra: Metropolização e condições gerais de produção do urbano: quando a utopia da superação da dicotomia entre campo e cidade se realiza, com a professora Sandra Lencioni (USP)
10h15 – Debate
11h – Mesa-redonda: Metropolização, financeirização, trabalho e segregação na cidade, com as professoras Regina Célia de Mattos (PUC-Rio), Inez Terezinha Stampa (PUC-Rio), María Mônica Arroyo (USP) e Isabel Pinto Alvarez (USP)
13h – Debate
13h40 – Almoço
15h – Palestra: Espaço, governança e economia em tempos de crise, com professor João Ferrão (Universidade de Lisboa)
16h – Debate
16h15 – Intervalo
17h – Mesa-redonda: Espaços públicos, manifestações culturais, segregação e intervenções no espaço, com os professores  Angelo Szaniecki Perret Serpa (UFBA), Orlando Alves dos Santos Junior (UFRJ) e Márcio Piñon de Oliveira (UFF)
18h30 – Debate
19h – Encerramento das atividades

Dia 26

8h30 – Mesa Temática 3: Espaço e Sustentabilidades/Transformação da Paisagem.
10h – Palestra: Metropolização, território e circuito superior marginal, com a professora Maria Laura Silveira (CONICET/USP)
11h – Debate
11h45 – Apresentação de Pôsteres
12h15 – Almoço
14h30 – Palestra: Limites e fronteiras: entre a territorialização e a regionalização na metrópole, com o professor Rogério Haesbaert (UFF)
15h30 – Debate
16h15 – Intervalo
16h30 – Mesa Redonda: Economia, sociedade e território: planejamento, segregação e produção de moradia, com os professores Marcelo Burgos (PUC-Rio), Luciana Corrêa do Lago (UFRJ), Mercedes Tatjer (Universitat de Barcelona) e Jorge Luiz Barbosa (UFF)
18h20 – Debate
19h – Encerramento das atividades

Dia  27

8h30 – Mesa Temática 4: Espaço e Sustentabilidades / Transformação da Paisagem.
9h45 – Palestra 6: Escalas espaciais, Estado e intervenção na produção do espaço, com Carlos Antônio Brandão (UFRJ)
10h45 – Debate
11h30 – Palestra: Reestruturação urbana e transformações nas cidades médias: consumo e cotidiano, com professora Maria Encarnação Beltrão Sposito (UNESP-PP)
12h30 – Debate
13h10 – Almoço
14h30 – Palestra: Crise social e resposta cidadã: desafios e exemplos de participação, com o professor Oriol Nel-lo (Universitat Autónoma de Barcelona)
15h30 – Debate
16h15 – Intervalo
16h30 – Mesa Redonda 5: Transformações no rural em um contexto de metropolização, com os professores João Rua (PUC-Rio) e Denise Elias (UECE), Eve-Anne Buhler (UFRJ) e Glaucio Marafon (UERJ).
18h20 – Debate
19h – Encerramento das atividades.

Dia 28

8h30 – Mesa Temática 5: Espaço, Cotidiano e Sustentabilidades.
10h – Palestra 9: Temporalidades, políticas urbanas e planejamento: interações em contexto de metropolização e globalização, com o professor José Alberto Rio Fernandes (Universidade do Porto)
11h – Debate
11h40 – Palestra: A financeirização na produção do espaço: preço e valor, uma relação fundamental, com o professor Paulo César Xavier Pereira (USP)
12h40 – Debate
13h15 – Almoço
14h45 – Mesa Redonda 6: Lógicas econômicas e práticas espaciais contemporâneas: entre reestruturação, novos serviços, incorporadoras e financeirização, com os professores Rodrigo Hidalgo (PUC-Chile), José Borzacchiello da Silva (UFC), Flávia Elaine da Silva Martins (UFF)
16h15 – Debate
17h – Conferência de Encerramento A reprodução do espaço urbano como condição da acumulação: espaço público, privação e insurgências, com a professora Ana Fani Alessandri Carlos (USP)
18h15– Debate
19h – Encerramento do III Simpósio

Dia 29

9h30 -Trabalhos de Campo: As Transformações na Área Central do Rio de Janeiro (Opção 1) e O Rio de Janeiro Olímpico: novas transformações na Barra da Tijuca e Jacarepaguá (Opção 2)