Entrevista

Estratégia para o ensino de química

A cada dois anos, a PUC-Rio recebe o Fórum de Educação em Química, um evento destinado aos professores do Ensino Médio do Estado do Rio de Janeiro. Com incentivo e motivação de mestres e alunos, a Universidade pretende contribuir para o sucesso do Programa Nacional de Olimpíadas de Química. E o tema escolhido para o encontro do dia 9, terça-feira, no Auditório Padre Anchieta, foi A Olimpíada de Química como estratégia para o ensino de química. O professor André Silva Pimentel, da comissão organizadora, contou ao PUC Urgente as novidades desta edição 2013 do Fórum.

Quando e por que o Fórum foi criado?

André Silva Pimentel
: O Fórum de Educação em Química foi criado em 2011, em comemoração ao Ano Internacional da Química, e queríamos contribuir com várias atividades para o ensino da disciplina. Queríamos motivar alunos e professores a se engajarem no mundo da Química. A intenção do fórum é fazer com que os professores conheçam novas estratégias para a transmissão desse conhecimento – esse, aliás, foi o tema do primeiro encontro – mas com o enfoque maior na tecnologia, softwares e mídias digitais para salas de aula.

Além de um novo tema, o que a edição 2013 do Fórum de Educação em Química vai oferecer para os professores participantes?

Pimentel: Nós traremos palestrantes que estão voltados para a olimpíada. Na primeira palestra teremos o coordenador geral da Olimpíada Brasileira de Química, professor Sérgio Maia Melo; na segunda, receberemos o diretor de ensino do Colégio Ari de Sá, do Ceará, a instituição mais premiada de todos os anos. O Ceará tem tradição nas olimpíadas da área científica e queremos descobrir o que eles fazem de diferente, e conseguem, por exemplo, colocar quatro alunos em uma competição internacional de quatro vagas, ou seja, queremos saber o que eles fazem para obter esse sucesso. Na parte da tarde, mostraremos o que estamos fazendo aqui, já que conseguimos um aumento impressionante no número de medalhas conquistadas. Depois da terceira palestra, conversaremos sobre outro caso de sucesso: o professor Francisco Dantas Filho, que conseguiu colocar cerca de 14 mil estudantes do interior da Paraíba para disputarem a olimpíada. Só para ter uma ideia, no ano passado, o Rio de Janeiro conseguiu cerca de 2.500 alunos. A palestra de encerramento será com o coordenador da olimpíada do estado de São Paulo e ele vai falar sobre por que investir na área de Química, que está muito atrelada ao desenvolvimento do Brasil.

Como a Olimpíada de Química pode contribuir para o ensino da química?

Pimentel: A Olimpíada de Química tem como objetivo incentivar os alunos não só através da competição, mas, sobretudo, da melhoria da educação no Ensino Médio. Nós sabemos que se colocarmos uma prova difícil os professores poderão se nivelar e melhorar o seu ensino, não apenas pensando no vestibular, mas tentando fazer uma avaliação mais diferenciada. Desse modo, conseguimos atingir não só o aluno, mas o professor também, que consegue se atualizar.

O que a Olimpíada de Química tem a oferecer para os alunos que desejam aprofundar o conhecimento na área?

Pimentel: A olimpíada é um trabalho vocacional para quem está no Ensino Médio. Outro objetivo dessa avaliação é despertar talentos que, às vezes, estão escondidos na sala. Eles não conhecem a química, ouvem falar que é uma matéria que reprova. Se o candidato vai e ganha uma medalha de bronze, ele quer estudar mais para ganhar uma medalha de prata. O aluno acaba percebendo que aquela é a área dele e decide continuar o estudo na universidade.

O que é necessário para que a Olimpíada de Química consiga maior ressonância, principalmente, nas áreas do interior do Estado?

Pimentel: Falta apoio de empresas privadas e do governo. Em 2011, conseguimos realizar o fórum com ajuda financeira da iniciativa privada. Neste ano, que é um ano de Copa das Confederações, essas mesmas empresas apoiaram cem por cento a Seleção Brasileira. E zero por cento para o fórum. Nós praticamente não conseguimos atingir as escolas públicas – imagina quantos alunos teríamos se conseguíssemos? – e quando conseguimos essa participação, as escolas têm um desempenho muito ruim porque não estão preparadas, não estão no nível adequado. Acabamos por atingir apenas as escolas do governo federal, escolas militares e escolas particulares. Se o governo e as empresas nos apoiassem, ficaria mais fácil e poderíamos até pensar em medalhas melhores ou até em um troféu – que ainda não existe. O Fórum, este ano, recebeu o apoio logístico do Programa de Integração Universidade, Escola e Sociedade (PIUES) e foi financiado pelo Centro Técnico Científico (CTC) da PUC. Sem eles, não haveria o Fórum. Nós, os professores, fazemos um trabalho voluntário e não ganhamos nada por isso, a não ser satisfação pessoal ao ver os talentos serem despertados para a Química.

A Química consegue dialogar com aqueles que não a estudam? Como ela pode melhorar a nossa relação com o mundo?

Pimentel: O que estamos fazendo aqui na PUC por um semestre serve de modelo e resposta a esta pergunta. Pegamos os 20 melhores alunos do ano anterior, pedimos para eles virem aqui, juntamos mais dez ou 15 alunos convidados, levamos todos ao laboratório e oferecemos um curso de mais ou menos 12 aulas. Colocamos os alunos para fazer experiências que têm a ver com o cotidiano e ali eles conseguem entender melhor o que eles veem na teoria. Muitas vezes dizemos a eles: “Não estamos aqui para ensinar química. Estamos aqui para mostrar fatos”. Quando, na escola, eles retornam para a teoria, eles dizem “Ah, Eu já vi isso!”. Aí fica bem mais fácil. Nós usamos a metodologia científica, o que não se repete no Ensino Médio, que parte da observação e depois se trabalha com aquilo. Se usassem essa metodologia no Ensino Médio, tenho certeza que teríamos muito mais alunos amando química.