Entrevista

Natureza e cultura em diálogo no Encontro promovido pelo Laboratório de Biogeografia e Ecologia Histórica

Natureza e cultura em diálogo no Encontro promovido pelo Laboratório de Biogeografia e Ecologia Histórica

Alexandre Solorzano e Ana Machado

O I Encontro Espaços-tempos: diálogos entre naturezas e culturas ocorrerá em formato virtual desta segunda, 16, a quarta-feira, 18, com a proposta de discutir a relação entre as sociedades e a natureza sob uma perspectiva histórica. A abordagem é fruto do trabalho desenvolvido no Laboratório de Biogeografia e Ecologia Histórica (LaBEH) da PUC-Rio. O Diretor do Departamento de Geografia e Meio Ambiente, Alexandro Solórzano, e a professora Ana Brasil, ambos coordenadores do LaBEH, contam nesta entrevista que, no mundo atual, não é mais possível compreender a natureza livre das modificações exercidas pela humanidade e, diante disso, Encontro reúne pesquisadores de diferentes origens como Biologia, Economia, Geografia, Antropologia e História. Gratuito, o seminário será transmitido no Canal do Laboratório no YouTube. Haverá emissão de certificados para quem participar de 2/3 das atividades, e os interessados podem fazer a solicitação aqui.

Qual é a importância do I Encontro Espaços-tempos: diálogos entre naturezas e culturas para a Universidade e os alunos?
Este evento apresenta uma relevância significativa para a PUC ao levar para o público um debate contemporâneo das Humanidades Ambientais, um campo diversificado e emergente de pesquisa interdisciplinar que busca analisar e investigar as complexas inter-relações entre a atividade humana (cultural, econômica e política) e o meio ambiente, o que estamos chamando de relações naturezas – culturas. Analisar e abordar as questões ambientais requer uma compreensão da relação recíproca entre natureza e cultura. Humanidades Ambientais se apresenta como um campo guarda-chuva que abriga subcampos das humanidades e ciências sociais que buscam transpor a lógica da dicotomia natureza – sociedade, tais como: Geografia Histórica, Ecologia Histórica, História Ambiental, Filosofia Ambiental, Antropologia e Sociologia Ambiental, Ecologia Política, Geografias Híbridas e Pós-Humanas e Ecocrítica.


Assim, parte-se do pressuposto que no mundo atual não é mais possível compreender a sociedade independente das dinâmicas naturais, bem como não é mais possível compreender a natureza livre da presença e modificação humanas. O I Encontro Espaços-tempos: diálogos entre naturezas e culturas reúne pesquisadores de diferentes origens como Biologia, Economia, Geografia, Antropologia e História, em torno de uma discussão sobre a interação de diferentes grupos sociais com os seus ambientes em diferentes períodos históricos, mas que tem reflexos nas paisagens contemporâneas.

Como foi organizado o encontro, que já estreia no modelo on-line, e quais as vantagens deste formato?
O evento já estava previsto para ocorrer em 2020. Com a necessidade de distanciamento social, não hesitamos em mantê-lo ainda que on-line. O trabalho científico e de divulgação não parou e não pode parar, sobretudo em um momento de crise como o que vivemos. A ciência e o debate de ideias nos parecem fundamentais para nos reorientarmos e construirmos novas formas de interação entre humanos e entre humanos e não-humanos. A comissão organizadora é integrada por professores (Alexandro Solórzano, Rogério Oliveira e Ana Brasil), pós-graduandos (Gabriel Salles, Lucas Brasil e Vicente Leal) e e graduandos (Alexandre Loureiro), todos integrantes do LaBEH e do Departamento de Geografia e Meio Ambiente. O modelo on-line permitiu que contássemos com palestrantes sediados em outros países, fortalecendo as redes de pesquisa já constituídas e tecendo novas. Ademais, alcançaremos um público mais amplo e mais espacialmente disperso. Já contamos com mais de 180 inscrições de participantes de mais de 50 instituições, de todas as regiões do Brasil e de outros países.

As palestras do seminário podem ser interessantes para alunos de outros cursos?
As temáticas do seminário são essencialmente interdisciplinares. Geografia Histórica, História Ambiental e Ecologia Histórica são campos do conhecimento que transitam e dialogam com várias disciplinas – é um fazer coletivo de Ciência. Trata-se de enxergar as relações em duas mãos entre o ser humano e a natureza. Este saber, para abarcar a sua complexidade da proposta, só pode ser feito a partir do encontro de várias disciplinas como a História, a Antropologia, a Geografia, a Biologia. Por isto, esse seminário deve atrair gente de muitas áreas, incluindo Arquitetura e Paisagismo, Direito, Engenharia Ambiental, Ciências Ambientais, entre outras, gerando um debate muito rico.
 
O que o público pode esperar dos debates sobre temas que envolvem a sociedade comum?
Diante do cenário político em que vivemos, é preciso encarar o fato de que a nossa forma de atuar com aquilo que chamamos natureza não tem sido um bom caminho. No entanto, em outros espaços, em outros tempos, outras culturas teceram múltiplas co-atuações com o “ambiente”.  Investigar o passado é uma forma de nos conhecermos melhor e, assim, imaginarmos outros presentes e futuros possíveis. Além disso, a Geografia, a História Ambiental e disciplinas correlatas são ciências “mundanas”. Se interessam pelo chão que pisamos, as paisagens que contemplamos, as técnicas que adotamos para transformar os espaços. Conversaremos, ainda que muitas vezes a partir de uma perspectiva metodológica, sobre o mundo que compartilhamos.

Que contribuição o Laboratório espera retribuir para a sociedade com este debate?
Como pensar a Ciência no Brasil atual? Em uma época de polarizações e pulverizações do conhecimento, como a que vivemos hoje, os debates que teremos no seminário relativizam e contextualizam vários problemas da atualidade. Este debate é feito baseado em uma interdisciplinaridade e em um clima de diálogo, que resgata a ideia de Ciência como algo que traz novas perspectivas e paradigmas aos problemas que nossa sociedade vive hoje. A proposta de fundo do seminário é “drenar o passado para irrigar o futuro”.
 
Qual a função e como é o trabalho do Laboratório de Biogeografia e Ecologia Histórica (LaBEH) da PUC-Rio?
O Laboratório de Biogeografia e Ecologia Histórica, do Departamento de Geografia e Meio Ambiente, é um grupo de pesquisa certificado pelo CNPq, que tem como principais objetivos: investigar como se deu o processo de transformação da paisagem, tanto em âmbito urbano quanto rural; integrar a dimensão sociocultural com a ecológica, apoiando-se no alicerce teórico-metodológico da Geografia Histórica, da Ecologia Histórica e da História Ambiental, bem como no framework de Sistemas Socioecológicos, Novos Ecossistemas e Serviços Ecossistêmicos; compreender o padrão de distribuição espacial de diferentes organismos e suas relações com os seres humanos; analisar os legados socioecológicos impressos e manifestos na estrutura material, biológica e cultural da paisagem. Além do mais, estamos cada vez mais engajados com a divulgação científica, pois acreditamos ser vital fazer a ponte entre academia e sociedade como forma de reconfigurar as interações socioecológicas visando construir relações mutuamente benéficas entre os humanos e não-humanos

O LaBEH é coordenado pelos professores Alexandro Solórzano, Rogério Oliveira e Ana Brasil-Machado e conta com mais 27 participantes, entre pós-doutorandos, doutorandos, mestrandos e graduandos, a maioria em Geografia na PUC-Rio, mas tem participantes de outras instituições também. Nos nossos encontros semanais, realizamos discussões de textos, debates com palestrantes externos convidados, apresentação e atualização dos projetos dos membros do LaBEH e também encontros para organizar eventos, elaboração de projetos e debates de filmes e documentários relevantes para a área, além de realizarmos trabalhos de campo em diferentes áreas de estudo. Temos uma página de divulgação no InstagramFacebook e um site próprio.