Entrevista

Nova ordem internacional

Nova ordem internacional

Em parceria com o German Institute of Global and Area Studies (GIGA), o Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio (IRI) e o Centro de Estudos BRICS organizam o seminário Rising Powers and Contested Orders in the Multipolar System, que será realizado na quinta, 19, e na sexta-feira, 20, no Salão da Pastoral. Em entrevista ao PUC Urgente, Paulo Luiz Moreaux Lavigne Esteves, diretor do IRI, explica o que será abordado no seminário.

Qual a ideia central do seminário?

Paulo Esteves:
 Uma equipe coordenadora do IRI e do GIGA produziu todo programa e geriu todo processo de organização do Seminário Rising Powers and Contested Orders in the Multipolar System. Depois, esta equipe vai trabalhar nas publicações que resultarem do seminário. A temática geral tem uma relação com o problema da emergência de novas potências no interior do sistema internacional, particularmente desde os anos 2000, e a contestação apresentada por essas potências em relação à ordem internacional, a dinâmica do sistema internacional, mas também à contestação à emergência dessas potências em suas variadas regiões. Se de um lado, a emergência de países como os BRICS significa uma tentativa de reestabelecimento de uma nova dinâmica para o sistema internacional, por outro, os próprios BRICS são objetos de contestação em suas regiões.

Qual o papel dos BRICS hoje e qual a importância de discuti-los no contexto atual?

Paulo Esteves:
 Durante algum tempo, se olharmos para a história do agrupamento BRICS, ele foi tomado por uma narrativa que nos dizia que os BRICS são importantes porque seus mercados são importantes do ponto de vista da economia global. Se essa narrativa desse todas as dimensões do problema, nós poderíamos dizer que no momento em que a economia dos BRICS está passando por dificuldades, como agora, eles deixam de ser relevantes, mas isso não é verdade do ponto de vista político. O que significa dizer que algo aconteceu ao longo dessa última década. Os BRICS, de um conjunto de mercados emergentes, se transformaram em atores políticos emergentes, e o agrupamento BRICS passou a se tornar uma coalisão influente no sistema internacional. Então não se trata mais apenas de economias. A importância não é apenas relacionada ao fato de que são economias, territórios e o tamanho das populações relevantes do ponto de vista do tamanho absoluto e relativo de cada país. Mas se deve ao fato de que, ao longo dessa década, os BRICS deixaram de ser mercados e se transformaram em uma coalisão.

Quais as diferentes visões que se tem dos BRICS hoje no mundo?

Paulo Esteves:
 Há três problemas. O primeiro deles é que cada um dos BRICS decide participar do arranjo por uma razão diferente. A China decide participar para, de alguma maneira, diminuir sua “pegada” internacional. É um país muito pesado que opta por uma ascensão internacional discreta. Uma forma de discrição é alinhar-se a outros países para dissolver, não é apenas a China que está emergindo, mas sim os BRICS. O interesse do Brasil, por outro lado, é exatamente o de se alinhar a um país que tem uma “pegada” mais forte, porque o Brasil não pode negociar nas mesmas condições que a China, por exemplo, então uma coalisão com a China fortalece a posição brasileira. O mesmo se dá em relação à África do Sul. No caso da Rússia, da própria Índia e também da China, significa a possibilidade de pelo menos balancear o peso norte-americano e europeu dentro do sistema internacional. O segundo problema seria os antagonismos e contestações dentro do próprio agrupamento. Brasil, África do Sul e Rússia são grandes produtoras de commodities, por outro lado, China e Índia são grandes importadores de commodities. Isso que parece ser complementariedade, na hora de discutir um acordo de comércio, implica em enormes dificuldades por estarem em lados distintos. E há problemas nas próprias regiões. O reconhecimento de liderança da China na Ásia não é algo que o Japão vá concordar. O reconhecimento da liderança sul-africana na África é algo que será contestado pela Nigéria, e o reconhecimento da liderança brasileira na América Latina ou América do Sul pode ser contestado pelo México, Argentina ou mesmo pelo Chile.

O que se espera como resultado do seminário?

Paulo Esteves:
 Eu acho que o seminário serve de balanço do agrupamento BRICS, e que para nós significa uma reflexão acerca de um objeto com o qual estamos trabalhando há exatamente 34 meses, que é o projeto BRICS Policy Center (BPC). Esse projeto foi criado com o apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro e, em larga medida, coroa essa primeira fase do centro de estudos BRICS, porque consegue reunir pesquisadores que já faziam parte da rede do BPC e ao mesmo tempo expande essa rede trazendo pesquisadores da Europa e dos EUA. Esperamos com esse seminário adensar nossas relações com instituições fora do Brasil em termos de agregação de qualidade ao nosso trabalho, uma vez que, a partir desse seminário, vamos ter uma série de produtos que serão organizados com essa rede que está se constituindo a partir de agora.