Entrevista

O design conquista o campus

O design conquista o campus

Na Semana, o professor Nilton Gamba quer unir os pilotis à Vila dos Diretórios, dois pólos culturais do campus. (Foto: Kathleen Chelles)

Na 17ª edição da Semana de Design, realizada entre os dias 21 e 23 de novembro, o campus será um dos componentes da mostra ao integrar diferentes espaços da Universidade. Chamada de “Fluxus”, a Semana terá oficinas e exposições com temas que vão da inteligência artificial às artes plásticas, das estéticas negras à fanfiction, da moda ao despertar do corpo. O Diretor do Departamento de Artes & Design, professor Nilton Gamba Jr., que também coordena o Laboratório de Design de Histórias do Programa de Pós-Graduação em Design, conversou com o PUC Urgente sobre a programação do evento.

A Semana de Artes e Design terá como ponto alto o desfile de moda, neste ano, na Vila dos Diretórios. Há quantos anos ocorre a Semana e como ela vem se adaptando aos novos tempos?
Nilton Gamba:
A Semana de Design será entre os dias 21 e 23, com abertura dia 21, às 10h, nos pilotis. Ela acontece há 17 anos, ocorrendo mesmo durante a pandemia de forma virtual. A cada ano, o seu modelo de organização – com atividades propostas por todo DAD (professores, alunos e funcionários) – vem permitindo uma atualização orgânica de temas e formatos, como a exposição remota na pandemia.
Este ano, como consolidação do retorno ao ensino presencial, estamos destacando o campus como mais um componente da exposição. Vamos explorar vários espaços distintos e propor um percurso entre eles, daí o título “Fluxos”.
Além dos pilotis e do subsolo do Kennedy, a mostra e as atividades vão ocupar o Solar Grandjean de Montigny, o prédio do DAD, intervenções livres no campus e o desfile será na Vila dos Diretórios. Como símbolo desse fluxo aberto e da vivência do espaço físico, teremos pela primeira vez na universidade uma escada que unirá os pilotis à Vila dos Diretórios, dois pólos culturais do campus.
Este olhar para celebrar e reaprender a usar o espaço presencial tem sinergia com um projeto maior da universidade de se conectar ainda mais com os bairros no entorno e com a cidade de uma maneira geral. Aqui, em pequena escala, damos visibilidade ao perambular, ao deslocar-se e ao estar presente.
Outra novidade desta edição é que ela contempla além da produção discente, as realizações dos técnicos dos laboratórios de ensino. Teremos uma exposição sobre os trabalhos de Leo Amaral, profissional do laboratório PRELO, e a apresentação de um produto realizado pela integração de técnicos de diferentes laboratórios em torno de um desafio de sustentabilidade ambiental, social e financeira. Outra especificidade deste ano é que incluímos outros dois eventos dentro da mostra, o Design Por Um Instante (recepção de alunos de ensino médio) em parceria com o PIUES e a recepção dos calouros de 2024, que terão suas datas de matrículas justo nos dias da Semana.

Os workshops de sonorização, fotografia, botânica, bambu e até bordado, por exemplo, têm vagas rapidamente preenchidas. É possível reconhecer novos talentos de outros departamentos da PUC-Rio nesses rápidos encontros?
Nilton Gamba:
Sim, há limite de inscrição para as atividades. Além de propiciar aos alunos uma nova forma de aprendizado e trocas, é relevante como temas ou técnicas abordadas nessas atividades retornam em projetos de alunos do curso ou em vivência de outros departamentos, já assimilados em sua formação e ganhando desdobramentos originais e criativos. A vocação interdisciplinar é grande, basta ver os temas das atividades. Além disso, os conteúdos das semanas anteriores ficam disponíveis no site do DAD permitindo essa interação não só com o material exposto naquela edição, mas com os das anteriores também. As semanas nunca acabam no seu último dia.

Como o DAD está lidando com o crescimento da inteligência artificial nas disciplinas e no dia a dia?
Nilton Gamba:
Tema fundamental da formação, da pesquisa e das atividades de extensão do DAD. Este ano, por exemplo, o professor Marcelo Pereira vai ministrar uma atualização sobre IA, no dia 21/11, que será sobre o rápido avanço da tecnologia nos últimos meses e os impactos visíveis no universo da criação. Na Semana DAD, que ocorreu no semestre passado, houve a palestra “O papel do designer na era da Inteligência Artificial Generativa” que abordou a transformação digital que ocorre com aceleração exponencial e o desafio de acompanhar o ritmo das mudanças.

As artes plásticas vão ganhar espaço no Solar, nos pilotis, no prédio do DAD. Quem são os artistas da Geração Z que estão surgindo depois da pandemia? Existe algo em comum entre eles?
Nilton Gamba:
Esta semana também celebra a consolidação de nosso currículo ampliado que tem uma nova ênfase denominada “Comunicação Multissensorial e Artes” e os trabalhos expostos vão dar visibilidade a uma área historicamente presente no DAD, as artes visuais. A nova geração de artistas já está atuante no curso e podemos citar como exemplo o fato de que este ano tivemos dois coletivos de alunos que promoveram exposições no Solar de forma autônoma e abrangente (concepção, curadoria, realização e produção).
Estes exemplos trazem a marca desta nova geração de artistas: temas de relevância social, conexão direta entre cultura, artes e design; a participação em todas as etapas de realização e a reflexão sobre implicações estéticas e políticas. Podemos também incluir nesses aspectos comuns, as pontes intergeracionais. Sejam com outros artistas egressos de outros anos dos cursos, na escolha dos temas, no diálogo com técnicos e professores da universidade e na forma de pensar o papel da arte na contemporaneidade.

A palestra sobre estéticas negras em cena contempla a busca de maior representatividade no campus?
Nilton Gamba:
Exatamente. O formato de curadoria que integra alunos, professores e funcionários permite uma representatividade de temas locais, mas, ainda assim, sempre identificamos pautas socialmente relevantes e as trazemos para o evento. Além disso, o formato aberto que permite a participação de todo o campus, e também externa, e a memória das edições no portal do DAD, pretendem ampliar essa responsabilidade social de democratização dos conteúdos, temas e inclusão social do acesso.

Assuntos atuais como personagens na fanfiction, animação analógica com zootrópio, uróboros, arte nos jogos digitais vêm ganhando mais adeptos nos últimos anos? Você pode explicar esses termos para o público leigo?
Nilton Gamba:
Na verdade, a graduação de Design na PUC-Rio sempre abordou esses temas e com bastante relevância e profundidade. O que se dá é uma continuidade que atravessa muitas das ênfases do currículo atual e que sempre se desdobram em inserções plurais dos alunos nestes nichos de mercado. Convidamos a todos para checarem a programação para ver como esses temas estão lá. Por vezes, de forma direta, mas por outras, na complexidade de referências que são necessárias para as artes narrativas de uma forma geral.

Qual é a importância das oficinas que têm como objetivo o despertar do corpo para o fazer criativo?
Nilton Gamba:
O corpo é o nome de uma de nossas novas ênfases (Corpo e Moda) e atravessa toda a formação do aluno em uma profissão que pensa a interface entre o sujeito e a cultura material e simbólica. O corpo se apresenta como mediador, suporte, codificador e realizador para o design na contemporaneidade.