Entrevista

O grande laboratório verde da PUC-Rio

O grande laboratório verde da PUC-Rio

Um estudo a respeito da biodiversidade da flora da PUC-Rio, encomendado pela Vice-Reitoria de Infraestrutura e Serviços, foi realizado pelo Departamento de Biologia. O intuito da pesquisa foi catalogar as diferentes espécies presentes no campus da Universidade para proporcionar as melhores soluções possíveis em caso da contaminação por pragas, riscos de tombamento e acidentes. Além disso, esse trabalho é necessário para a preservação da biodiversidade local: ao todo, foram identificadas 295 espécies, mais da metade exótica. Em entrevista para o PUC Urgente, os professores Gabriel Sales e Richieri Sartori, dois dos responsáveis pela pesquisa, expuseram a importância e os resultados do estudo para a PUC-Rio.

Vocês podem falar um pouco sobre a pesquisa? Como e por que ela surgiu?
Gabriel Sales:
A pesquisa surgiu após um pedido da Vice-Reitoria de Infraestrutura e Serviços, que desejava conhecer o estado atual da flora e da vegetação do campus da PUC-Rio. O objetivo é subsidiar ações futuras de conservação e otimização do manejo do espaço universitário e adequação pedagógica de tais áreas como espaços para atividades de ensino com múltiplas abordagens. Dessa maneira, foi realizado um censo das espécies arbustiva-arbóreas, bem como foi feito o diagnóstico da vegetação do campus. O trabalho foi conduzido pelo Departamento de Biologia, contou com a participação de alunos do curso e o apoio do NIMA para confecção de mapas.

Qual a importância dessa catalogação da flora para a Universidade?
Richieri Sartori:
Essa pesquisa possibilitou atualizar a nomenclatura dos indivíduos que estavam com antigas placas de identificação e ampliar nosso conhecimento sobre a flora do campus da PUC-Rio. Cabe destacar, ainda, que este estudo avaliou diferentes aspectos dos indivíduos, proporcionando identificar aqueles que necessitam de trato. Considerando esses aspectos, o manejo das áreas verdes do campus deverá ter como meta otimizar a manutenção e uso didático deste espaço, além de melhorar a diversidade. O campus da PUC-Rio deve desempenhar de forma eficiente o papel de área verde no bairro da Gávea e arredores, prestando variados serviços ecossistêmicos e funcionando como corredor ecológico entre as áreas verdes vizinhas. Nesse sentido, é relevante destacar, ainda, a importância do campus da PUC-Rio para a conservação da biodiversidade. Em sua composição, há diversas espécies classificadas sob algum grau de ameaça, bem como inúmeras espécies utilizadas pela fauna – por exemplo, para a alimentação e moradia –, especialmente pela avifauna.

Em relação aos métodos utilizados, como foi o processo da pesquisa? Houve algum desafio ou dificuldade?
Gabriel Sales:
Pensávamos que não teríamos tantos indivíduos no campus e, por isso, coletar tantas informações sobre cada um deles provavelmente foi o maior desafio. O levantamento da vegetação foi realizado no campus da PUC-Rio, bem como no Centro de Pesquisa Padre Matteo Ricci, Casa da Medicina, Laboratório de Inteligência Computacional Aplicada e Centro Loyola de Fé e Cultura. Todos os indivíduos com diâmetro a altura do peito (DAP) maior ou igual a 5 cm foram registrados. Cabe destacar, ainda, que o levantamento considerou tanto canteiros e ruas, como as áreas florestadas e matas ciliares. Os indivíduos mortos de pé também foram computados, pois tais informações são de fundamental importância para manejo adequado dos espaços da PUC-Rio. Além das espécies arbustiva-arbóreas, também foram incluídas no levantamento as touceiras de bambus, bananeiras e palmeiras. Cada indivíduo foi numerado com uma etiqueta de alumínio. Amostras vegetais foram coletadas para identificação taxonômica e posterior inclusão no Herbário Friburguense (FCAB). Além disso, foram coletados os dados do diâmetro a altura do peito, altura total e comercial e coordenada geográfica.
Richieri Sartori: Foram levantadas também informações referentes à existência ou potencial de dano causado ao calçamento, a fitossanidade (classificação do estado do indivíduo em relação à sua condição ante à existência de pragas e doenças), impacto sobre a fiação elétrica e o grau de inclinação de cada indivíduo. A partir dessas indicações, tornou-se possível calcular um “Índice de Manejo”.

Quais foram as descobertas mais significativas? Quais são as principais características da flora da PUC?
Richieri Sartori:
No total, foram amostrados 2.960 indivíduos no campus da PUC-Rio, identificadas 295 espécies, subordinadas a 58 famílias e 13 indivíduos que estão aguardando identificação. Entre o total de espécies determinadas, 196 são nativas do Brasil e 93 exóticas. Apesar de encontrarmos muitas espécies nativas no campus, observamos que o número de exóticas supera as nativas: 1.561 são exóticas, enquanto 1.352 são nativas.
Gabriel Sales: Outra questão que merece destaque é a presença de espécies de todos os biomas brasileiros: Amazônia, Caatinga, Cerrado, Mata Atlântica, Pampa e Pantanal. Podemos destacar, então, espécies emblemáticas da Amazônia, como o pau-mulato e a seringueira, bem como da Mata Atlântica: jequitibá, pau-brasil e pau-rei.
Há a pretensão de estender a pesquisa, dar algum tipo de continuidade a esse projeto?
Gabriel Sales:
Sim, inclusive já estamos trabalhando no desenvolvimento de outros estudos a partir dos resultados obtidos. As pesquisas vêm ao encontro, por exemplo, de ações de extensão, possibilitando atividades transdisciplinares. Esses resultados já estão sendo trabalhados para a elaboração de outros produtos como: um guia da flora do campus, além do aporte de tal conteúdo nos beacons, ou tótens, espalhados pela Universidade. Além disso, esse estudo já está servindo de base para novas pesquisas. Por exemplo, estamos iniciando estudos sobre a diversidade funcional do campus e a percepção da comunidade da PUC-Rio em relação à flora. Outro projeto diz respeito à elaboração de mapas temáticos. Esses materiais podem auxiliar nas ações de manejo, bem como na organização dos dados em uma plataforma digital interativa. Isso vai ajudar os tomadores de decisões no cuidado do campus e vai permitir o acesso aos dados para toda a comunidade. As possibilidades são muitas e diversas.

Os resultados da pesquisa estarão disponíveis para o público? Em algum site, por exemplo?
Richieri Sartori:
A disponibilidade dos dados em uma plataforma digital possibilitará o uso dinâmico das informações sobre a flora por diferentes atores da comunidade nas mais diversas abordagens. O campus da PUC-Rio é um grande laboratório didático e precisamos potencializar o olhar da comunidade para este espaço.