Entrevista

O valor da cultura afro-brasileira

O valor da cultura afro-brasileira

Luiza Helena Nunes e Mariana Trotta

Como é o Panorama Afro na Universidade?

Luiza Helena Nunes: A Converdgencia – Organização da Sociedade Civil de Interesse Público que tem como missão difundir a educação focada na sustentabilidade social e ambiental – trabalha conosco há algum tempo fazendo o Panorama Afro. Eles trazem a temática prática e nós organizamos isso dentro da PUC. Não podemos abandonar a referência acadêmica e quem entra com esta referência especifica é o Departamento de Direito, com a professora Mariana Trotta, que monta, juntamente com a Converdgencia, os seminários. Toda a ideia dos quilombos, as pessoas e os atores são trazidos pela Converdgencia. O grande objetivo é promover a cultura afro-brasileira e, para isso, temos os seminários, a Exposição AfroArt e até as comidas típicas da cultura.

Como o Departamento de Direito organiza os seminários?

Mariana Trotta: Temos a preocupação de construir uma mesa interdisciplinar, que traga a dimensão das várias esferas do conhecimento que trabalham com essa temática. Nós nos preocupamos em concatenar a discussão antropológica, jurídica e educacional e, ao mesmo tempo, valorizar o conhecimento dos militantes, dos diretamente envolvidos, de forma a valorizar essas experiências e não fazer um corte entre o conhecimento acadêmico e o conhecimento popular. Dar a oportunidade de eles exporem os desafios do cotidiano, o impacto do racismo. Dar fala aos que muitas vezes não têm voz.

Qual a importância de debater a regularização fundiária de territórios quilombolas?

Mariana: A temática é importante, pois tem baixa efetivação. A titulação dos territórios quilombolas é baixíssima, no Rio de Janeiro só existem dois quilombos titulados: Campinho da Independência e Preto Forro. Nós estamos trabalhando na perspectiva acadêmica de entender quais são os obstáculos, por que há uma dificuldade de reconhecer os direitos dos negros a este território como reparação história do processo sofrido de escravidão. Houve uma previsão de igualdade formal sem pensar na materialidade dessa igualdade, sem oportunidades efetivas aos negros na sociedade brasileira. É também uma forma de pensar na própria desigualdade nesse processo da exclusão da propriedade da terra para os negros do Brasil. Além disso, nesse ano, na última prova da OAB, pela primeira vez caiu uma questão sobre quilombo, o que mostra a importância de debater e estudar o assunto.

Por que a mudança do nome Feira para Exposição AfroArt?

Luiza Helena: Essa feira se transformou em um espaço de arte. Os alunos se interessam pelo material, pela cultura, eles ficam fascinados. O expositor, que não é um camelô, sabe explicar porque a pedra é cortada de um jeito e, na barraca do lado, a mesma pedra é cortada de maneira diferente. Os alunos saem com turbantes, com trancinhas, é uma quebra de paradigma porque, uma pessoa que inicialmente não entendia um determinado tipo de roupa ou acessório, passa a consumir, a internalizar, a história daquela peça e leva a cultura para o seu meio de convívio. A pessoa vai saber explicar como foi realizada a confecção daquela roupa, daquele adorno. Vai falar daquele assunto e isso, aos poucos, vai descontruindo uma série de conceitos já estabelecidos.