Entrevista

O valor da mídia não comercial

O valor da mídia não comercial


A comunicação comunitária é a mídia alternativa produzida em conjuntos de habitações populares. Para debater a dimensão desse tipo de mídia na região sudeste, a PUC-Rio vai sediar o I Seminário de Comunicação Comunitária, entre os dias 16 e 19 de outubro, no Centro Loyola de Fé e Cultura. Organizado pelo Núcleo de Comunicação Comunitária do Projeto Comunicar, com apoio da Vice-Reitoria Comunitária, da PUC-Rio, e pela UERJ, o seminário terá palestras sobre comunicação, cultura e cidadania. Na parte da manhã, haverá painéis e, à tarde, trocas de experiências sobre projetos e publicidade. À noite, serão realizadas atividades culturais como exibição de filmes e apresentações artísticas. Representantes do Núcleo de Comunicação Comunitária, os professores Adair Rocha, da PUC-Rio e da UERJ, e Sergio Bonato, da PUC-Rio e UNIRIO, falam sobre o seminário e a importância da mídia alternativa.

Como surgiu a parceria entre a PUC-Rio e a UERJ para realizar o I Seminário de Comunicação Comunitária?

Adair Rocha – O seminário surgiu da proposta de duas estudantes do Departamento de Comunicação Social da PUC-Rio para um encontro nacional de comunicação comunitária. As alunas são Gizele Martins, coordenadora do jornal O Cidadão, do Complexo da Maré, e Daiane Ramos, da Secretaria de Cultura de Estado do Rio, que têm experiências concretas na comunicação comunitária. Depois, nós, do Núcleo de Comunicação Comunitária, procuramos a Vice-Reitoria Comunitária e decidimos limitar o encontro à região sudeste. Levamos a proposta ao Laboratório de Comunicação Dialógica da UERJ, que acolheu a ideia.

Sergio Bonato: É uma experiência nova, mas, na Rio+20, houve uma tenda sobre os problemas da comunicação comunitária e alternativa. A comunicação comunitária já tem uma história com as rádios comunitárias, jornais populares feitos nas favelas e os movimentos sociais. Existe toda uma mídia popular, alternativa à grande mídia de massa.

Quais são os objetivos do seminário?

Adair: O objetivo é relacionar os trabalhos acadêmicos com as experiências concretas de comunicação comunitária. A questão de fundo do seminário é o aprofundamento da democracia, no sentido de a sociedade se apropriar da produção de informações e ter uma visão crítica sobre a comunicação social. O processo democrático nunca termina; é inconcluso. No primeiro dia, pensadores e produtores vão discutir o que é comunicação comunitária. No segundo dia, serão abordadas a formação e qualificação do comunicador. Em seguida, haverá um dia para as diversas experiências concretas da comunicação comunitária como as rádios e televisão. Depois, será realizado um debate sobre a relação da comunicação com a cultura. 

Bonato: As comunidades têm uma criatividade muito grande para formar redes. As redes comunitárias trabalham com a expressão e os valores culturais dessas populações que não são publicados pela mídia de massa. O seminário é importante no processo de a sociedade reconhecer o que hoje é considerado marginal. A comunicação comunitária é uma expressão mais próxima do real por não estar sujeita a pressões econômicas. Ela é fundamental para a democracia participativa e para a expressão da sociedade civil.

Qual é a realidade da comunicação comunitária hoje?

Bonato: Depositamos esperanças nas novas tecnologias que disseminam mais informação e diminuem o controle sobre as notícias. Os movimentos sociais começaram a mostrar projetos que ainda são desconhecidos pela maioria. Nesses locais, despertaram-se vários valores comunitários de comunicação. Hoje é mais barato fazer comunicação comunitária, mas sempre há dificuldades financeiras porque não existem recursos de anunciantes. Por isso, esse tipo de mídia não gera muitos empregos formais.

Adair: A comunicação comunitária não pode reproduzir a mídia comercial. Pelo contrário, deve afirmar as diferenças em projetos de objetivo comum e de combate às desigualdades. Os moradores de comunidade vivem as mesmas experiências. A comunicação comunitária deve divulgar nos grandes centros urbanos a situação real da sociedade brasileira. Ainda estamos atrasados no processo democrático, inclusive as iniciativas populares, leis e políticas públicas.