Entrevista

Para Além da Quarentena: reflexões sobre a crise e pandemia

Para Além da Quarentena: reflexões sobre a crise e pandemia

Inez Stampa e o e-book Para Além da Quarentena: reflexões sobre a crise e pandemia (foto: acervo pessoal)

As professoras Inez Stampa e Ana Lole, do Departamento de Serviço Social (PUC-Rio), e o professor Rodrigo Lima, da Universidade Federal Fluminense (UFF), lançaram o e-book Para Além da Quarentena: reflexões sobre a crise e pandemia. É uma coletânea que reúne reflexões de diferentes autores do Brasil e do mundo sobre as crises causadas pela pandemia da COVID-19. A obra está disponível gratuitamente através do site da editora Mórula. Professora Inez destaca a importância das análises e dos assuntos que o livro digital aborda. Clique aqui para baixar o e-book.

O e-book aborda diversos assuntos relacionados à pandemia, como questões sobre saúde mental e violência. Como os debates sobre esses temas podem contribuir?
Inez Stampa: Os debates interseccionais são muito necessários, pois estamos vivendo em fogo cruzado de múltiplas agendas reacionárias que deixam evidentes as marcas da violência colonial e de gênero, do genocídio étnico-racial, das sexualidades dissidentes, dos corpos invisibilizados e das vidas sem importância que compõem as sociedades contemporâneas. Não há como tratar sobre a epidemia sem pensar sobre a violência cotidiana a que está submetida a maioria da população deste país. Violência de estado, violência policial, violência de gênero… não há saúde física e mental que resista a tantas pressões e violações de direitos diuturnamente.

Um destaque especial é dado ao trabalho de assistentes sociais no e-book. Qual a importância da profissão neste contexto atual?
Inez Stampa: O destaque dado ao trabalho de assistentes sociais porque é uma profissão que, na divisão social do trabalho, está historicamente vinculada à reprodução social e profundamente familiarizada com a perversa engrenagem da destruição de mentes e corpos. É importante considerar o trabalho dos assistentes sociais, cujas atribuições se dão na defesa do direito à vida. Embora, à primeira vista, esta pandemia e a maneira de resolvê-la se apresente focalizada no setor da saúde, argumentamos que todas as áreas em que o Serviço Social atua estão comprometidas, uma vez que a crise que assistimos salienta a necessidade de sistemas públicos de proteção social fortes, assim como um papel crítico e ativo acerca da realidade que estamos vivendo. Assistentes sociais têm sido fundamentais na defesa dos direitos da população.

Quais lições vamos levar para além da quarentena?
Inez Stampa: Recomeçar será um enorme desafio global para a saúde, a economia e a sociedade, e, igualmente, para cada um de nós. Quanto ao Brasil, temos que reconhecer que a COVID-19 vitimou um país já doente, pois, além de mais pobres, continuamos a ser um dos países mais desiguais do mundo. Precisamos de mudanças radicais no sistema político e que o Estado sirva a todos e não a uns poucos, e que tenha capacidade de liderar nosso crescimento econômico, político e social. Precisamos aprender urgentemente a construir um país soberano, mais justo e igualitário.