Entrevista

Por dentro do jornalismo investigativo

Por dentro do jornalismo investigativo

De 12 a 15 de outubro, a PUC-Rio vai sediar a Conferência Global de Jornalismo Investigativo, que reúne o 8º Congresso da Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), a 8ª Global Investigative Journalism Conference e a 5ª Conferencia Latinoamericana de Periodismo de Investigación (COLPIN). Os temas são Corrupção e crime organizado, Meio ambiente e recursos naturais e Esportes. Os debates realizados no Ginásio e no RDC serão transmitidos ao vivo pelo Portal PUC-Rio Digital e a programação completa está no hotsite br.gijc2013.org. Os professores Leonel Aguiar, Coordenador de Graduação de Comunicação Social, e Arthur Ituassu, Coordenador do Curso de Jornalismo, falam da importância do jornalismo investigativo na contemporaneidade.

O que a Conferência Global de Jornalismo Investigativo pode agregar à Universidade, em especial ao curso de Comunicação Social?

Leonel Aguiar: O primeiro ponto é a presença maciça de jornalistas do mundo todo que trabalham com jornalismo investigativo. Os ganhos para a Universidade, de uma forma geral, são o conhecimento que o aluno recebe do que é o jornalismo investigativo e quem são os protagonistas dessa forma de fazer jornalismo. De maneira mais específica, passaremos a conhecer as técnicas específicas que jornalistas investigativos dominam e vêm aperfeiçoando.

Arthur Ituassu: Acho que no momento temos uma discussão muito intensa sobre o papel da imprensa no Brasil e no mundo, que exige repórteres bem formados, apuração aprofundada, um poder institucional que garanta o posicionamento do jornalista em seu trabalho.

Qual o diferencial desta edição?

Leonel: A grande diferença é a de se realizar uma conferência global de jornalismo investigativo. É a primeira vez que ela é sediada no Brasil, no Rio de Janeiro e na PUC. Além da conferência da Abraji, teremos também a 5ª Conferencia Latinoamericana de Periodismo de Investigación (COLPIN) junto com a oitava conferência global. É uma grande diferença porque vai triplicar o número de representantes. A expectativa para esse evento é de 1.200 a 1.500 inscritos.

Ituassu: Teremos gente do mundo todo e isso nos proporciona uma troca de experiências, inclusive no sentido técnico. Teremos uma troca de know-how de jornalismo investigativo, que eu considero a cereja do bolo de todo esse esforço. Faremos a troca desse know-how aqui dentro da PUC e vai ser acessível aos nossos alunos, aos nossos professores, aos jornalistas brasileiros.

A conferência vai ser dividida em três blocos temáticos. Qual a importância desses temas para o jornalismo contemporâneo?

Ituassu: O tema da corrupção é um clássico do jornalismo investigativo. A questão do meio ambiente se deve à importância da temática ambiental.

Leonel: E o terceiro aspecto é o esporte no jornalismo investigativo em que, ao lado da cultura, existem menos reportagens investigativas. Como se faz esse tipo de reportagem investigativa em relação à questão do esporte? Esses recursos enormes de verbas públicas sendo movimentadas pelo esporte, com a Copa do Mundo e Olimpíadas… É preciso ensinar aos jornalistas como lidar com esses dados. Estão todos disponíveis na internet, o desafio é pegar esses dados brutos e transformar em algo inteligível para o leitor, para o internauta, para o telespectador. Como se sabe que o dinheiro de determinada obra está vazando?

Ituassu: E não foge da política. Não é porque estamos falando de esporte que estamos distantes da política e da sociedade. Os grandes municípios do Brasil são hoje obrigados por lei a divulgarem suas contas públicas online. Não é porque um dado está na internet que o sistema democrático se torna mais transparente. Aí entra o papel do jornalista investigativo, que transforma aquilo em uma informação inteligível para o leitor, para o cidadão.

Quais os desafios que o jornalismo investigativo enfrenta atualmente?

Leonel: Acho que o principal desafio que o jornalismo investigativo enfrenta é a falta de investimento das próprias empresas jornalísticas. O Eduardo Auler, do Extra, fez uma reportagem sobre evasão escolar e ganhou o Prêmio Esso. Sabe quando ele fez esse trabalho investigativo? Ele tirou férias por um mês para fazer a série de matérias que rendeu a ele o prêmio.

Ituassu: Algo que é importante e que o seminário pode ressaltar é que o jornalismo investigativo talvez seja a saída para a crise da imprensa. O diferencial está na grande apuração. A grande preocupação do curso aqui na PUC e dos jornalistas investigativos é não tornar o jornalismo irrelevante.

Leonel: A sociedade já tem uma capacidade de produzir narrativas independentes e acredita que o jornalismo não é mais essencial para o processo democrático. É fundamental destacar a importância do jornalismo na questão democrática. Não existe democracia sem jornalismo. Nós ressaltamos a importância do jornalismo no momento em que ele é tão criticado por alguns setores da sociedade, que acham que ele pode ter se tornado irrelevante, principalmente em função das tecnologias digitais de comunicação e informação.