Entrevista

Segurança e acolhimento na volta às aulas

Por: Maria Clara Aucar e Victoria Reis

Segurança e acolhimento na volta às aulas

Augusto Sampaio_e Pe. Anderson Antonio Pedroso. (Foto: JP Araujo)

A PUC-Rio retornou com as atividades acadêmicas no campus Gávea na segunda-feira, dia 7 de março. Após um período de dois anos sem aulas presenciais, a Universidade se preparou para receber alunos, professores e funcionários com a campanha Campus Seguro. A ação, criada pela Agência.Com/Comunicar, visa ao estabelecimento de normas sanitárias para o bem-estar social e enfrentamento da Covid-19 no ambiente da PUC-Rio. O Vice-Reitor Geral, padre Anderson Pedroso, S.J., e o Vice-Reitor para Assuntos Comunitários, professor Augusto Sampaio, ressaltam que, para uma convivência saudável, é importante respeitar os protocolos que garantam a proteção de todos. Por isto, a recomendação é que o uso de máscaras seja respeitado, inclusive, nos espaços abertos. E será necessário apresentar o comprovante de vacinação na entrada da Universidade.

Quais são as bases da campanha Campus Seguro?

Padre Anderson Pedroso: É importante destacarmos o conceito de Campus Seguro. Vivemos em sociedade e ela é regulada por leis, que devem ser respeitadas. Quando se trata da PUC-Rio, estamos em um ambiente educativo, logo, não basta apenas impor as leis, mas convencer as pessoas e mostrar o quanto as leis e orientações são importantes para o bem comum. O conceito de Campus Seguro é abordar esta temática da corresponsabilidade. Todos são responsáveis pela segurança do campus. Por isso, a premissa é esta: criamos um campus seguro e mantemos um campus seguro. Isso tem a ver com a identidade e missão da PUC-Rio, que é a preocupação com as pessoas e o bem comum. Destacaria este conceito como um campo de coletividade e cuidado com todos. E existe uma razão, que é o nosso modo de ser. A partir disso, decorrem atitudes essenciais. Quando falamos de campus, falamos de pessoas, logo não é um lugar geográfico somente e, sim, este espaço de convivência das pessoas e de uma rede de relações em que elas se encontram e constroem as suas amizades e seus estudos que deixam marcas para o resto da vida. Este ambiente de convivência tem que ser cuidado por todos. E as atitudes que marcam e protegem este lugar são aquelas recomendadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS), que são o porte de máscara, o distanciamento social e, sobretudo, o fato de estarmos vacinados. O que queremos transmitir para a comunidade acadêmica, funcionários e pessoas que frequentam a vizinhança e atravessam o campus, é um conceito de acolhimento. A Universidade abre as portas completamente, mas de forma corresponsável. Abrimos as portas, mas não de qualquer maneira, e sim com cuidado e preservação deste ambiente. O diferencial da PUC-Rio é o de como as leis são acolhidas e, neste caso, ela está baseada na ciência.

Professor Augusto Sampaio: Como a Vice-Reitoria Comunitária cuidar do campus, nós estaremos presentes neste ambiente, e é fundamental que a comunidade de alunos entenda isto. Um exemplo é a suspensão do trote, pois todo primeiro encontro na vila reúne uma multidão de pessoas. Esses encontros não vão acontecer e haverá mudanças, como no bandejão, que terá uma regra de distanciamento. A PUC-Rio está tomando cuidados em relação ao protocolo de distanciamento. As salas de aula estão com menos carteiras, e algumas atividades continuam on-line para evitar a natural concentração que ocorreria se todos estivessem juntos. Mas muitas situações vão depender da cooperação dos alunos, evitando aglomerações e confraternizações. Para entrar no campus é obrigatório o uso de máscara. A PUC-Rio pede para que todos enviem o comprovante de vacinação para a confecção de crachás, que serão apresentados pelos alunos na entrada do campus. No entanto, os crachás não ficarão prontos logo na primeira semana, portanto, é importante apresentar o comprovante de vacinação até o documento da Universidade ficar pronto.

Quais são as expectativas para a volta às aulas presenciais?

Padre Anderson: Mais do que expectativa, eu falaria de esperança. A esperança é algo que vem ao nosso encontro, que vai além de nós. Esperamos poder recomeçar, retomar o caminho, e que as pessoas estejam bem. Que os alunos, que são a nossa riqueza, o centro das nossas atenções, possam retomar a formação. Estamos muito preocupados, porque foram dois anos em que a PUC-Rio não parou, mas, certamente, teremos que revisar o impacto desse período. A nossa esperança é que os alunos se encontrem bem, que eles possam retomar o caminho de vida e de formação deles. Junto a isto, a minha esperança é que toda a comunidade se encha de entusiasmo e de alegria, porque nós estamos vivos e passando por um momento difícil. Tanta gente, infelizmente, partiu. Então, inclusive para honrar essas pessoas, nós continuamos. Queremos que a comunidade possa voltar a habitar este campus e continuar a nossa história de formação, de educação, que tem um papel fundamental na sociedade e na cidade do Rio de Janeiro e região. As expectativas dos estudantes serão ouvidas também. Será fundamental, neste começo, que haja um diálogo franco e aberto. Que este lugar de convivência, que constrói uma maneira de pensar integrada, seja reconstruído e retomado. É muito importante que os alunos tragam as expectativas deles e que participem da nossa esperança. Nós queremos que esta experiência de escuta da Vice-Reitoria Comunitária (VRC) se estenda por toda a Universidade.

Professor Augusto: Eu fico imaginando alunos que estão na PUC-Rio há dois anos, cursando a Universidade, e que nunca vieram ao campus. Um diferencial importante da PUC, entre as universidades do Rio de Janeiro, é que não existe campus igual ao nosso. Ele é acolhedor, propício à convivência e reflexão. Certamente, vamos preparar uma série de eventos, em grupos pequenos, para passar algumas informações aos alunos. Se os estudantes tiverem qualquer dúvida, chegando aqui, podem se dirigir à Vice-Reitoria Comunitária, porque esperamos sempre resolver os problemas. É importante destacar que algumas modificações foram feitas. O nosso Reitor é muito preocupado com a natureza, e podemos olhar quantas mesas e cadeiras foram colocadas pelo campus. Aumentamos os espaços de convivência e acolhimento, respeitando as normas de saúde. São atitudes que, mais do que nunca, devem ser feitas em uma universidade, porque nós acompanhamos a ciência. Qualquer medida ligada à saúde vem da ciência primeiro. Que sejam todos muito bem-vindos.

Qual a importância deste retorno, principalmente para os alunos que nunca tiveram contato com o campus?

Padre Anderson: Acho que será algo natural, porque o campus é convivência, e isto é próprio do ser humano. Nós somos seres sociais. Acho que será algo tranquilo, na medida em que respeitarmos as regras, algo que ajudará muito para que se construa um clima de serenidade. Assim, os alunos vão se adaptar de forma espontânea. O campus tem isso, a gente se acomoda de maneira espontânea e perto da natureza. E será importante ter essa convivência depois de dois anos com aulas on-line. Eu mesmo estou tendo a experiência de encontrar pessoas presencialmente, com as quais conversei muito por reuniões on-line, e agora percebo se são mais altas ou baixas do que imaginei. Acredito que será algo até divertido porque nós tínhamos uma experiência quase de avatar das pessoas, e agora saímos do virtual e passamos para o real. O ser humano é um ser social, de comunicação e diálogo, precisamos uns dos outros. Logo, o campus seguro tem o propósito de oferecer esse contato social genuíno e o melhor possível. Os professores estão preparados para este momento e ansiosos para voltar ao ambiente de trabalho. Durante reuniões com a comunidade acadêmica, o assunto que mais ouvi foi a falta do contato com os alunos, porque o ensino é feito por meio do contato. Às vezes um olhar diz mais do que uma palavra. Os bons professores são mestres, foram privados da convivência, mas agora podem voltar a ter este contato.

Professor Augusto: Diversas mudanças foram feitas na Universidade e estamos aqui às ordens para esclarecer e abertos a sugestões para aperfeiçoar medidas. Queremos acolher. Mas é importante ressaltar que este é um trabalho de toda comunidade. A Universidade enviou para os alunos um link no qual eles devem anexar uma cópia do certificado de vacinação emitido pelo ConecteSUS para a confecção de crachás que vão permitir o trânsito livre pelo campus. No entanto, estes crachás não estarão disponíveis logo na primeira semana de aula, por isto é importante estar com o certificado em mãos para apresentar na entrada da Universidade. E ainda solicitamos que o uso de máscaras seja mantido nos espaços ao ar livre, a fim de que todos se sintam seguros.

De que maneira a campanha Campus Seguro se inspira na identidade e missão da Universidade?

Padre Anderson: Falar da nossa identidade e missão é falar sobre quem nós somos e a razão de fazermos as coisas de tal maneira. Por que nós cuidamos da volta às aulas desta forma? Porque a nossa razão de ser está centrada no bem das pessoas. A nossa lógica é humanista. Sempre buscamos a razão mais profunda dos nossos atos e isto faz a diferença. A PUC-Rio não pode se conformar com o resto, no sentido de que ela tem uma maneira própria de agir e a identidade dela se mostra nos gestos – desde os menores até os mais eloquentes. A campanha explicita quem nós somos: uma comunidade educativa comprometida com o social, com a justiça social e que procura aplicar os seus ideais maiores, que coloca o ser humano no centro. É um humanismo cristão, que nasceu inspirado na fé. A raiz está na fé cristã, mas se amplia para todas as pessoas, e a PUC-Rio é isto. A produção intelectual da PUC-Rio tem que espelhar esta maneira de ser da Universidade, que é comunitária, comprometida com o social, aberta a todas as pessoas e que tem um respeito por todos os seres humanos.

Professor Augusto: Estas ações da Universidade não têm um fim publicitário. Elas fazem parte da missão da PUC-Rio.