Entrevista

Semana da África: o lado Oriental do continente

Semana da África: o lado Oriental do continente

Encontros de Moçambique é o tema da segunda edição da Semana da África, que será desta segunda, 21, a quarta-feira, 23, no Auditório Padre José de Anchieta. Organizada pelo Departamento de História e pelo Núcleo Interdisciplinar de Reflexão e Memória Afrodescendente (Nirema), a Semana tem como objetivo mostrar um pouco da cultura, história e dos costumes desse país que fica na parte oriental da África. A professora Regiane Mattos, do Departamento de História, comenta sobre como será a programação deste ano.

Qual é a importância de organizar a Semana da África na Universidade?
Regiane Mattos:
 A história dessa região não pode ser deixada de lado. Ela é importante assim como a história da Europa e do Brasil. Também porque temos uma relação histórica muito forte com o continente. Foram mais ou menos cinco milhões de africanos trazidos para cá como escravos. No Brasil, os estudos africanos têm crescido nos últimos dez anos, principalmente depois de 2003, quando foi aprovada a lei nº 10.639, que institui a obrigatoriedade do ensino da história da África e das culturas africanas e afro-brasileiras nas escolas e universidades. É uma lei importante porque, depois dela, se tem um movimento muito grande de formação de cursos de graduação, de formação de professores para educação básica, de pós-graduação. Há um crescimento de centros de pesquisa voltados para a África, seja na área de história, de antropologia – em geral elas são interdisciplinares. A Semana de África na PUC é importante porque a Instituição dá espaço para que os pesquisadores possam falar, discutir, apresentar ideias e dialogar entre si.

Como foi feita a escolha do tema desta edição?
Regiane:
 Fizemos a primeira Semana da África em 2014, sobre o continente de uma maneira mais ampla. Como era a primeira edição, queríamos fazer uma experiência para mostrar que existe muita gente que trabalha com a história da África. A ideia é fazer esse seminário a cada dois anos, mas agora pretendemos fazer mais discussões voltadas para algumas regiões geográficas, países, ou por tema. No caso de Moçambique, a escolha se deve, também, ao fato de que eu já pesquiso sobre o país. No Brasil, os estudos africanos, principalmente na área de história, se voltaram para a África Atlântica, ocidental, pois foi de onde os africanos escravizados foram trazidos para o Brasil. Mas vieram também escravos da parte oriental da África, principalmente de Moçambique. Isso não se converteu em uma aproximação, em um interesse forte de historiadores em relação a essa parte do continente. Percebemos que essa região oriental da África tem despertado o interesse de pesquisadores nos últimos tempos. Isso nós constatamos com o número de inscrições que recebemos para o seminário Encontros com Moçambique – foram 30. Tem muita gente no Brasil que trabalha com África e trabalha especificamente com Moçambique.
 
Como serão as mesas-redondas?
Regiane: Fizemos uma seleção dos trabalhos inscritos e agrupamos em mesas temáticas. Quando fizemos a chamada para as inscrições, não abrimos apenas para professores, pesquisadores, mas para alunos de graduação e pós-graduação também. Tentamos organizar as mesas por temas, sem ter uma hierarquia, separação por nível de formação. É importante permitir esse diálogo entre alunos, desde a graduação, até pesquisadores com a carreira consolidada. O que importa, para nós, é o diálogo, a troca de experiência e saberes. Haverá três conferências com pesquisadores que atualmente são referência nos estudos sobre Moçambique: o Valdemir Zamparoni, da UFBA, e a Fernanda Thomaz, da UFJF. A conferência de encerramento será feita pelo professor e antropólogo Lorenzo Macagno, que também é outra referência nos estudos da antropologia em diálogo com a história.

E haverá tempo para debate com o público?
Regiane: Reservamos uma parte do horário das mesas temáticas para discussão, para que os membros possam responder dúvidas do público. São mesas de apresentação de trabalhos e discussão destes. Além das outras conferências, a de encerramento será muito interessante, porque vai tratar do tema da África dentro das ciências sociais. Ela mostrará em que estágio a história e os estudos sobre a África estão dentro dessa área do saber.