Entrevista

Serviço pioneiro de mediação de conflitos abrange de forma gratuita a comunidade universitária

Por: Giovanna De Luca

Serviço pioneiro de mediação de conflitos abrange de forma gratuita a comunidade universitária

Samantha Pelajo, Alexandre Assed e Mia Schneider

Inovador nos estudos sobre mediação de conflitos, o Grupo Interdisciplinar de Mediação de Conflitos (GIMEC) é um facilitador do acesso de pessoas de baixa renda à prática jurídica de mediação de conflitos. Há 14 anos, o serviço é oferecido gratuitamente para pessoas com renda mensal de até quatro salários mínimos. O objetivo é beneficiar a comunidade universitária, alunos, professores e funcionários da PUC- Rio com renda mensal de até seis salários mínimos. Estas pessoas podem utilizar o auxílio do GIMEC desde que os impasses não envolvam a instituição. Vinculado ao Núcleo de Prática Jurídica (NPJ), do Departamento de Direito, o GIMEC surgiu a partir de um diálogo entre o Direito e a Psicologia e é responsável por promover um intercâmbio entre duas disciplinas e capacitar alunos para atuarem como mediadores. A dinâmica tem como objetivo auxiliar pessoas que vivem um conflito e almejam resgatar um diálogo produtivo – as questões podem ser familiares ou trabalhistas. A prática mediativa se baseia em um diálogo em trio – dois extremos e um terceiro imparcial que propõe uma negociação criativa e de benefício mútuo. Responsáveis pelo GIMEC, os professores Samantha Pelajo, Mia Schneider e Alexandre Assed, do Departamento de Direito, comentam a importância da mediação de conflitos para a PUC-Rio. Para mais informações, os telefones de contato são 3257-1398 ou 3257-1399.

Quem são os clientes do GIMEC?
Samantha Pelajo:
Desde 2006, nos envolvemos em mais ou menos 500 casos, pessoas de fora e de dentro do campus. Muitos alunos já nos procuraram para auxiliar na facilitação do diálogo e do entendimento entre duas partes. Atualmente, temos dois públicos-alvos. O primeiro é a comunidade de baixa renda, as pessoas que ganham até quatro salários mínimos têm direito ao serviço de forma gratuita. E o segundo é a comunidade da PUC-Rio: alunos e funcionários com renda mensal de até seis salários mínimos podem procurar o Núcleo de Prática Jurídica e logo serão encaminhados até o GIMEC, desde que os problemas não sejam relacionados com a Universidade.

Quais alunos podem fazer parte do GIMEC e como é o processo seletivo?
Alexandre Assed:
O GIMEC é uma monitoria destinada para alunos de psicologia e direito. Os interessados devem enviar o currículo e esperar o edital rodar. Mas na grade do Departamento de Direito existem algumas matérias sobre a metodologia da negociação e, ao se matricular nestas turmas, os alunos têm a oportunidade de dar plantões no GIMEC e ter contato com a arbitragem na prática. Além disso, temos também o estágio supervisionado em mediação e, agora, a eletiva de mediação empresarial. Ambas disponíveis apenas para alunos do Departamento de Direito.

Como assegurar a privacidade dos clientes com a presença dos alunos?
Mia Schneider:
É natural que os alunos queriam assistir à mediação, mas temos o costume de limitar o número de pessoas para garantir a privacidade do cliente. Existe uma carga de subjetividade muito grande independentemente do tema.
Alexandre Assed: No presencial, tínhamos uma quantidade de assentos disponíveis. Com a pandemia, tivemos a possibilidade de ampliar o número de vagas, mas prezando pela privacidade do cliente não aumentamos significativamente o número de alunos nas mediações. Hoje, pedimos para que os alunos desliguem as câmeras e mantenham o microfone fechado para deixar os clientes mais à vontade.

Como vocês fazem para manter vivo o intercâmbio entre o direito e a psicologia?
Samantha Pelajo:
Atualmente, os únicos responsáveis pelo GIMEC somos nós três, todos professores do direito. Estamos felizes assim, mas sentimos falta de um representante de psicologia conosco. Por conta disso, estrategicamente, na hora de selecionar os monitores, escolhemos dois do Departamento de Psicologia. Ao longo desses anos, tivemos sete gerações de alunos de psicologia, e todos trouxeram aportes mais subjetivos, enquanto nós, do direito, trazemos um aporte mais da metodologia da negociação.

Vocês acreditam que a mediação de conflitos pode se estender para além do direito e da psicologia?
Mia Schneider:
Acho que seria maravilhoso que todos os cursos pudessem ter nas grades aulas voltadas para a mediação de conflitos. É algo que transcende muito o direito e a psicologia, a técnica de negociação é algo que se aplica em nossas vidas. Independente de estarmos no meio do conflito ou solucionando ele, é uma habilidade que está nas nossas relações interpessoais. Seria muito legal, mas não é o que acontece ainda.

Qual é a relação da mediação com a comunicação?
Samantha Pelajo:
A mediação não resolve apenas conflitos de natureza jurídica, qualquer tipo de conflito pode ser melhor administrado se houver um processo de facilitação de diálogo. A negociação passa muito pela comunicação e, quando a relação está desgastada, a conversa fica meio truncada e reativa, as partes levam tudo para o pessoal. No âmbito da mediação, conseguimos ajudar essa comunicação e esse entendimento.