Entrevista

Tráfico de pessoas: conscientizar para combater

Tráfico de pessoas: conscientizar para combater

Como parte das comemorações pelos 20 anos do Centro Loyola de Fé e Cultura, será realizada a palestra Tráfico de Pessoas com o professor do Departamento de Direito da PUC-Rio Adolfo Borges Filho, procurador de Justiça do Ministério Público do Rio de Janeiro. O encontro será sábado, 22, das 10h às 12h, no Edifício João Paulo II, na Glória. A palestra abordará o tema escolhido pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) para a Campanha da Fraternidade deste ano, A Fraternidade e o Tráfico Humano. Para Adolfo Borges Filho, o caminho para o combate começa com a conscientização dos cidadãos, com foco nas potenciais vítimas deste tipo de crime.

Como surgiu a ideia da palestra?

Adolfo Borges Filho: A ideia da palestra surgiu no próprio Centro Loyola, como parte da comemoração de seus 20 anos de existência, com o objetivo de enfatizar a Campanha da Fraternidade de 2014, cujo tema é justamente o Tráfico de Pessoas.

Qual a importância desse debate?

Adolfo: A importância é muito grande e diz respeito à conscientização dos cidadãos, cristãos e não cristãos, das várias modalidades em que esse tráfico de pessoas se concretiza como, por exemplo, exploração sexual, exploração do trabalho, remoção de órgãos.

Qual o caminho para combater o tráfico de pessoas?

Adolfo: O caminho é multidisciplinar envolvendo profissionais de vários setores. Penso que o principal caminho para esse combate começa com a conscientização, principalmente focalizada nas potenciais vítimas desses crimes. As entidades não-governamentais têm um papel fundamental nesse combate. E, do lado do governo, o trabalho da polícia, do Ministério Público, da Defensoria Pública e do Judiciário é relevante não só no tocante à repressão como também na prevenção desses delitos.

Segundo a ONG Walk Free, 30 milhões de pessoas no mundo são vítimas do tráfico humano. Como é possível milhões de pessoas serem traficadas e o tráfico humano permanecer oculto na sociedade?

Adolfo: A Walk Free tem feito um trabalho muito eficiente nessa área. O tráfico humano é silencioso. A propósito, a outra palestrante, Tânia Teixeira Laky de Sousa, professora doutora da PUC-SP, na sua tese de doutorado que tenho em mãos, destaca que “em raros momentos, escuta-se o discurso da vítima e pouco se conhece sobre as vicissitudes da sua trajetória de vida, suas motivações, suas necessidades momentâneas e os seus sonhos e projetos em longo prazo. É nesse sentido que entendemos que, por detrás de um discurso ativo, por vezes estridente, se silencia a realidade dos sujeitos concretos”.

O assunto recebe a devida importância por parte da mídia?

Adolfo: Penso que pouco a pouco o assunto vai se tornando mais frequente nos noticiários e, até mesmo, como parte importante de novelas. Glória Perez soube tratar muito bem do tema na novela Salve Jorge, mostrando o aliciamento das vítimas e a organização criminosa no tráfico sexual internacional.

E o tráfico de pessoas no Brasil é tão presente quanto nas outras partes do mundo?  

Adolfo: Sim. Lamentavelmente em um relatório de 2013, a Polícia Federal registrou que, entre 2005 e 2011, 157 inquéritos por tráfico internacional de pessoas para fins de exploração sexual e 344 referentes a tráfico interno de pessoas para trabalho escravo foram instaurados. O Ministério Público do Trabalho conseguiu flagrar em uma empresa de porte, no interior do país, trabalho escravo envolvendo 100 haitianos e 60 nordestinos.