Entrevista

Universidade com olhar voltado para o meio ambiente

Universidade com olhar voltado para o meio ambiente

Fernando Walcer e Felipe Guanaes falam sobre a Semana de Meio Ambiente. Foto: Amanda Dutra

A XXV  Semana de Meio Ambiente da PUC-Rio vai ocorrer de terça, 4, até quinta-feira, 6. O tema deste ano é Visões da Amazônia, e haverá palestras, exibição de filmes e oficinas de reciclagem. A abertura da Semana será na terça-feira, 4, às 9h, com o Reitor da Universidade, padre Josafá Carlos de Siqueira S.J., no Auditório Padre José de Anchieta. Em entrevista, o diretor do Nima, professor Luiz Felipe Guanaes, e o Coordenador de Direito Ambiental, professor Fernando Walcacer, contam detalhes da programação da Semana de Meio Ambiente.

O foco da XXV Semana de Meio Ambiente deste ano é Visões da Amazônia. Por que a escolha deste tema? Qual a importância dele em relação ao contexto político, econômico e ambiental do país e do mundo?

Felipe Guanaes: Visões da Amazônia tem a ver primeiro com a importância da Amazônia para o Brasil, América Latina e o mundo. Além de ter uma quantidade única de etnias, mais de 300, e uma biodiversidade fantástica, a Amazônia tem um papel para o equilíbrio do clima da América Latina e do planeta, visto que tudo é integrado. Preservar a Amazônia é uma meta que todo o cidadão da Terra deveria ter. Além disso, este ano temos um estímulo, o Sínodo para Amazônia, convocado pelo Papa Francisco. É um encontro de bispos que vai discutir como a Igreja pode ter uma ação mais consistente para ajudar a preservar a Amazônia de uma forma equilibrada. A Laudato Si’ estabelece o conceito de ecologia integral, na qual se cria uma integração entre as questões sociais e ambientais, esse é o foco. O grande objetivo é sensibilizar o alunato para o problema amazônico e, de forma mais específica, atender ao pedido do Papa de ajudar a Amazônia.

Fernando Walcacer: A intenção é conscientizar cada vez mais em um momento difícil para o meio ambiente. Está acontecendo um processo de desmonte dos órgãos ambientais brasileiros, mas este cenário se repete por todo o mundo. Pesquisas de instituições científicas sobre o estado do planeta são cada vez mais sombrias em relação à gravidade da questão climática e à perda de biodiversidade. Um relatório publicado este mês pelas Nações Unidas afirmou que 1 milhão de espécies enfrentam risco de extinção. A Universidade é um espaço fundamental para estar antenada a esses novos tempos.

Como a Semana de Meio Ambiente se encaixa na Agenda Socioambiental da PUC-Rio?

Guanaes: A agenda é uma indicação de ações para que possamos melhorar a relação homem-natureza dentro da Universidade. De certa forma, qualquer percepção que amplie um pouco o olhar sobre o meio ambiente tem que se espelhar no dia a dia. Uma coisa é você falar de um problema, outra é vivenciar uma solução para ele. Nós acreditamos que, na medida em que se criam certos marcos no dia a dia da comunidade em relação à agenda ambiental, e um consequente respeito ao meio ambiente, você está, na verdade, cumprindo com uma missão maior, que é educacional. A noção do campus sustentável tem a ver com o testemunho de que é possível ter um comportamento um pouco mais equânime na relação do ser humano com o meio ambiente.

O que motiva a renovação da Semana do Meio Ambiente para que ela já esteja na 25ª edição?

Guanaes: A Universidade está inserida em um contexto e, de alguma forma, vibra com ele. Apesar de estarmos passando por um momento meio confuso, a questão ambiental tem um peso enorme e sua relevância vem aumentando nos últimos anos. O aluno chega à universidade cada vez mais integrado, mais preocupado. Na época em que estudei na PUC-Rio, há mais de dez anos, os grupos ambientalistas eram muito pontuais. Hoje não existe mais a cara do aluno preocupado com meio ambiente, todo mundo participa de alguma forma, é outro nível de percepção. E o Nima tenta acompanhar essas dinâmicas, sempre buscando dialogar com os acontecimentos recentes. Se você for analisar os temas das semanas de meio ambiente, eles são sempre atuais. Neste ano, temos o Sínodo, e nada mais natural do que se discutir a floresta Amazônica, apesar de estarmos a 3 mil km dela.

A Semana de Meio Ambiente já ocorria antes da existência do Núcleo. Hoje, um dos focos do encontro é a interdisciplinaridade. Isso veio a partir da entrada do Nima?

Walcacer: Se pararmos para pensar na própria sigla Nima, Núcleo Interdisciplinar do Meio Ambiente, o mais importante é a letra “i”. Esse conceito foi a grande novidade que o Nima trouxe para Universidade, não só reunindo diferentes atividades em um mesmo núcleo, mas também com ações no campus.

Qual é a importância de ter uma Semana com atividades variadas?

Guanaes: A questão ambiental é, por natureza, multidisciplinar. Hoje, temos grandes problemas que não podem mais ser observados por uma ótica disciplinar, pois ela leva a uma leitura torta da realidade. A programação da Semana engloba diferentes linguagens na socialização ambiental. Temos palestras, feiras, música, sala de leitura e workshops, com a ideia de não ficarmos restritos a uma percepção técnica. A intenção é que sejam atividades multifacetadas para dar conta da multidisciplinaridade na qual o Nima está envolvido.

Quais são os impactos que o Nima acredita que a Semana de Meio Ambiente pode acarretar na comunidade PUC-Rio?

Walcacer: Buscamos um aumento da conscientização da comunidade, dos estudantes, dos professores e funcionários para a questão ambiental, por isso vão ocorrer várias atividades diferentes. Nós estamos vivendo um momento de conscientização, e a participação da sociedade é fundamental. A Semana de Meio Ambiente se encaixa perfeitamente nesse contexto, porque traz a questão ambiental para a reflexão da comunidade acadêmica.

Guanaes: A conscientização é um trabalho de formiguinha. Você não acorda de manhã consciente, é um processo. Uma grande prova disso é o fato de já estarmos na vigésima quinta edição.