Suaíli Digital
14 de setembro de 2018 as 06:30
A professora Regiane Augusto de Mattos, do Departamento de História, comenta sobre os conteúdos do Acervo Digital Suaíli. Foto: JP Araújo
Fruto do Projeto de Pesquisa Histórias e Culturas do norte de Moçambique: experiências de inclusão social por meio do ensino de história e das mídias digitais (Brasil-Moçambique), o Acervo Digital Suaíli foi feito para reunir os materiais obtidos no país africano. A equipe do projeto foi formada por professores do Departamento de História da PUC-Rio, pesquisadores do Centro de Estudos Africanos, da Universidade Eduardo Mondlane, e estudiosos do Centro de Estudos em Direito e Negócios (CEDIN), da Ilha de Moçambique. A professora Regiane Augusto de Mattos, do Departamento de História, fala sobre a elaboração do acervo, que ganhou um edital do ProÁfrica, programa de cooperação internacional do CNPq. Regiane comenta também sobre o livro As dimensões da resistência em Angoche: da expansão política do sultanato à política colonialista portuguesa no norte de Moçambique (1842-1910), que será lançado nesta segunda-feira, 17, às 17h, no Auditório do IAG.
1 – O que levou à criação do Acervo Digital Suaíli?
Regiane Augusto de Mattos – A criação dessa plataforma on-line de acesso livre com todos os materiais da pesquisa já estava no projeto desde o início. Toda a documentação que encontramos e a produção que fizemos em Moçambique, como as entrevistas e os registros em vídeo das manifestações culturais, estão disponíveis nesse acervo. O projeto tem a preocupação de refletir sobre como é que o ensino de história das sociedades africanas pode promover a inclusão social, pensando na valorização dessas pessoas e em uma articulação com a história do Brasil, sobretudo de populações que foram marginalizadas historicamente, como a dos afrodescendentes. A digitalização desses documentos serve como material para ser usado em sala de aula, de forma que essas histórias sejam inseridas nos currículos escolares e universitários. Com isso, o acesso à informação pode ser um transformador social.
2 – Quais foram os principais materiais obtidos no Projeto de Pesquisa Histórias e Culturas do norte de Moçambique: experiências de inclusão social por meio do ensino de história e das mídias digitais (Brasil-Moçambique)?
Regiane – Encontramos uma série de documentos históricos como os manuscritos que estavam com as famílias que vivem no norte de Moçambique. Muitos desses documentos estão escritos nas línguas africanas daquela região, mas com caracteres árabes chamados ajami. No acervo, disponibilizamos os documentos manuscritos digitalizados e uma tradução para o português. Temos também as entrevistas com lideranças locais e com pessoas que transmitem os saberes de forma oral sobre as histórias dessas populações. Reunimos também mapas, áudios, vídeos das manifestações e fotografias antigas, que também estavam com as famílias, e que revelam um pouco dessas narrativas históricas locais.
3 – Qual a importância de desenvolver hoje um acervo sobre o grupo étnico-cultural Suaíli?
Regiane – A proposta que a equipe pensou quando organizou esse projeto é tornar público as histórias dessa população que passou por vários processos de marginalização histórica. É trazer à tona as histórias produzidas e narradas pelos próprios indivíduos a partir da relação que eles têm com a própria história. A escolha do grupo Suaíli tem a ver com uma trajetória minha de pesquisa e com essa relação de serem sociedades que foram historicamente marginalizadas, então tem essa aproximação com experiências brasileiras.
4 – O seu livro As dimensões da resistência em Angoche: da expansão política do sultanato à política colonialista portuguesa no norte de Moçambique (1842-1910) será lançado nesta segunda-feira, 17. O que esta obra aborda?
Regiane – Este livro é a minha tese de doutorado, que é sobre uma associação de resistência que ocorreu no final do século XIX e começo do século XX no norte de Moçambique, sobretudo nessa região de Angoche. Foi quando alguns líderes e alguns grupos da região, os agentes sociais da região, se uniram e fizeram uma série de ações contra a implementação do sistema colonial português. Na verdade, todo o projeto é em decorrência do livro, que foi quando eu comecei a estudar sobre Moçambique.