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“O livro sempre foi um grande amigo” Eleito para ABL, professor José Roberto de Castro Neves destaca importância da cultura brasileira

“O livro sempre foi um grande amigo” Eleito para ABL, professor José Roberto de Castro Neves destaca importância da cultura brasileira

“Eu sempre fui muito fã da Academia, da história e dos integrantes. Estar nesse lugar é um grande privilégio”

Por Clara Castanho

O escritor, advogado e professor de Direito Civil da PUC-Rio José Roberto de Castro Neves, de 54 anos, foi eleito para a cadeira nº 26 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Docente da Universidade há três décadas, recebeu 27 votos dos acadêmicos na eleição realizada no último dia 29 de maio. A cadeira estava vaga desde a morte de Marcos Vilaça, em março deste ano.

Castro Neves é autor de 25 livros que transitam entre o Direito, a Literatura, a História e as Artes. Recentemente, estreou na ficção com o romance “Ozymandias”. Entre seus títulos mais conhecidos estão “Medida por medida: o Direito em Shakespeare”, “Como os advogados salvaram o mundo” e “Os grandes julgamentos da História”, obras que se tornaram best-sellers.

O novo imortal já ocupava a cadeira nº 27 da Academia Brasileira de Letras Jurídicas. Em entrevista ao PUC Urgente, destacou a honra e a responsabilidade de integrar uma das instituições literárias mais respeitadas do país.

Qual a influência da prática docente na sua carreira como escritor?
É enorme, mas, curiosamente, pode ser boa e ruim. Os primeiros livros que eu escrevi foram para os alunos, livros técnicos feitos para o estudo de Direito. O lado positivo de dar aula é a clareza, pois a literatura técnica é sempre muito exata, abrangente e direta. Ao explicar um fenômeno jurídico, o objetivo é explicar os seus pensamentos e ideias com a maior clareza possível para o leitor. Para escrever um romance, a aula deseduca, porque no romance você faz o contrário, você quer seguir o caminho de abrir ao leitor a interpretação intrínseca. O objetivo é tirar do texto a melhor interpretação, conversar e abrir espaço ao leitor. Uma literatura muito explicada acaba sendo egoísta.

Como surgiu a paixão pela escrita e em que momento isso se desenvolveu?
Começou com o prazer pela leitura e a curiosidade. Eu fui um leitor muito ávido desde de criança, gostava muito de ler. O livro sempre foi um grande amigo. Para mim, era um programa maravilhoso ficar em casa lendo, eu lia tudo que passava na minha frente: poesia, fotografia, livro de história, romance e bula de remédio.

O senhor já ocupava uma cadeira na Academia Brasileira de Letras Jurídicas e agora é o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras. O que representa essa eleição?
Representa muito. Como sou um grande leitor e tenho adoração pela cultura, em especial pela cultura brasileira, estar na Academia Brasileira de Letras é uma enorme honra e alegria. Uma instituição de enorme reconhecimento na sociedade, com uma história ímpar, fundada por Rui Barbosa, Machado de Assis, que são figuras realmente icônicas, e que se mantém assim ao longo de 130 anos. É uma honra ter a oportunidade de conviver com pessoas nas quais eu acredito muito e me tornar mais uma pessoa para falar da importância do Brasil, de respeito à cultura, de educação, num país muito desigual como o nosso.

O senhor já tem em mente algum projeto ou proposta para desenvolver na Academia?
Neste momento, quero ouvir os mais experientes e tentar ajudar da melhor maneira.

Como recebeu a notícia de que assumiria a cadeira de número 26 na Academia Brasileira de Letras?
Em casa, cercado da minha família. Foi uma alegria extrema e uma honra muito grande. Eu sempre fui muito fã da Academia, da história e dos integrantes. Estar nesse lugar é um grande privilégio, além de poder conviver com pessoas incríveis e extraordinárias.

Que conselho daria a um futuro advogado?
Acredito que, para ser um bom advogado, uma pessoa deve seguir três deveres. Primeiro, ter conhecimento geral e cultural. Ler os clássicos, coisas importantes, relevantes. Ir ao cinema, gostar de artes, entender o mundo que o cerca de uma forma mais profunda. Conhecer e ter curiosidade. A segunda coisa é o estudo. O Direito é dogmático, uma ciência, e como tal, tem que ser dominado. É necessário conhecer e entender a sua atividade, e conhecer os mistérios dela. E, por fim, a ética. A gente tem que discutir e falar mais sobre ética. Um tema estudado há muitos anos, mas pouco falado. É sobre deveres morais, a conduta correta que a gente tem que adotar, a distinção do que é certo e o que é errado, que por vezes fica um pouco turva, mas não deveria. A gente deveria ter isso muito claro. Quando temos dúvidas, normalmente é porque está errado.

E a um aspirante a escritor, qual conselho daria?
Se você quer ser um bom escritor, deve ler muito. A leitura vai ser a grande escola para você se comunicar. Você vai aprender com os outros, desenvolver um pouco o teu estilo e, principalmente, se tornar uma pessoa mais interessante.