“O livro sempre foi um grande amigo” Eleito para ABL, professor José Roberto de Castro Neves destaca importância da cultura brasileira
23 de junho de 2025 as 06:30

“Eu sempre fui muito fã da Academia, da história e dos integrantes. Estar nesse lugar é um grande privilégio”
Por Clara Castanho
O escritor, advogado e professor de Direito Civil da PUC-Rio José Roberto de Castro Neves, de 54 anos, foi eleito para a cadeira nº 26 da Academia Brasileira de Letras (ABL). Docente da Universidade há três décadas, recebeu 27 votos dos acadêmicos na eleição realizada no último dia 29 de maio. A cadeira estava vaga desde a morte de Marcos Vilaça, em março deste ano.
Castro Neves é autor de 25 livros que transitam entre o Direito, a Literatura, a História e as Artes. Recentemente, estreou na ficção com o romance “Ozymandias”. Entre seus títulos mais conhecidos estão “Medida por medida: o Direito em Shakespeare”, “Como os advogados salvaram o mundo” e “Os grandes julgamentos da História”, obras que se tornaram best-sellers.
O novo imortal já ocupava a cadeira nº 27 da Academia Brasileira de Letras Jurídicas. Em entrevista ao PUC Urgente, destacou a honra e a responsabilidade de integrar uma das instituições literárias mais respeitadas do país.
Qual a influência da prática docente na sua carreira como escritor?
É enorme, mas, curiosamente, pode ser boa e ruim. Os primeiros livros que eu escrevi foram para os alunos, livros técnicos feitos para o estudo de Direito. O lado positivo de dar aula é a clareza, pois a literatura técnica é sempre muito exata, abrangente e direta. Ao explicar um fenômeno jurídico, o objetivo é explicar os seus pensamentos e ideias com a maior clareza possível para o leitor. Para escrever um romance, a aula deseduca, porque no romance você faz o contrário, você quer seguir o caminho de abrir ao leitor a interpretação intrínseca. O objetivo é tirar do texto a melhor interpretação, conversar e abrir espaço ao leitor. Uma literatura muito explicada acaba sendo egoísta.
Como surgiu a paixão pela escrita e em que momento isso se desenvolveu?
Começou com o prazer pela leitura e a curiosidade. Eu fui um leitor muito ávido desde de criança, gostava muito de ler. O livro sempre foi um grande amigo. Para mim, era um programa maravilhoso ficar em casa lendo, eu lia tudo que passava na minha frente: poesia, fotografia, livro de história, romance e bula de remédio.
O senhor já ocupava uma cadeira na Academia Brasileira de Letras Jurídicas e agora é o mais novo imortal da Academia Brasileira de Letras. O que representa essa eleição?
Representa muito. Como sou um grande leitor e tenho adoração pela cultura, em especial pela cultura brasileira, estar na Academia Brasileira de Letras é uma enorme honra e alegria. Uma instituição de enorme reconhecimento na sociedade, com uma história ímpar, fundada por Rui Barbosa, Machado de Assis, que são figuras realmente icônicas, e que se mantém assim ao longo de 130 anos. É uma honra ter a oportunidade de conviver com pessoas nas quais eu acredito muito e me tornar mais uma pessoa para falar da importância do Brasil, de respeito à cultura, de educação, num país muito desigual como o nosso.
O senhor já tem em mente algum projeto ou proposta para desenvolver na Academia?
Neste momento, quero ouvir os mais experientes e tentar ajudar da melhor maneira.
Como recebeu a notícia de que assumiria a cadeira de número 26 na Academia Brasileira de Letras?
Em casa, cercado da minha família. Foi uma alegria extrema e uma honra muito grande. Eu sempre fui muito fã da Academia, da história e dos integrantes. Estar nesse lugar é um grande privilégio, além de poder conviver com pessoas incríveis e extraordinárias.
Que conselho daria a um futuro advogado?
Acredito que, para ser um bom advogado, uma pessoa deve seguir três deveres. Primeiro, ter conhecimento geral e cultural. Ler os clássicos, coisas importantes, relevantes. Ir ao cinema, gostar de artes, entender o mundo que o cerca de uma forma mais profunda. Conhecer e ter curiosidade. A segunda coisa é o estudo. O Direito é dogmático, uma ciência, e como tal, tem que ser dominado. É necessário conhecer e entender a sua atividade, e conhecer os mistérios dela. E, por fim, a ética. A gente tem que discutir e falar mais sobre ética. Um tema estudado há muitos anos, mas pouco falado. É sobre deveres morais, a conduta correta que a gente tem que adotar, a distinção do que é certo e o que é errado, que por vezes fica um pouco turva, mas não deveria. A gente deveria ter isso muito claro. Quando temos dúvidas, normalmente é porque está errado.
E a um aspirante a escritor, qual conselho daria?
Se você quer ser um bom escritor, deve ler muito. A leitura vai ser a grande escola para você se comunicar. Você vai aprender com os outros, desenvolver um pouco o teu estilo e, principalmente, se tornar uma pessoa mais interessante.