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44 mil jovens em 44 anos. NEAM celebra pioneirismo na transformação social com incentivos à leitura e à educação

44 mil jovens em 44 anos. NEAM celebra pioneirismo na transformação social com incentivos à leitura e à educação

Marina e Davison: em 2025, mais inclusão pelo programa de jovens aprendizes com deficiência

Por Ana Beatriz Aprigio*

Marina Moreira ainda era estudante de Jornalismo na PUC-Rio quando pensou em uma forma de melhorar a vida das pessoas por meio da Universidade. Com outros colegas da graduação, criou a campanha “Gente que é gente ajuda o menor carente”, que arrecadou mais de 10 mil brinquedos nos Pilotis. Foi a semente que, em 1981, com ajuda da Professora Thereza Penna, daria início a um núcleo que mudaria a vida de milhares de jovens das comunidades do Rio. Nascia o NEAM – Núcleo de Estudos e Ação Mundo da Juventude, projeto que completa 44 anos este ano e já beneficiou mais de 44 mil jovens.

Este ano, há novos projetos no radar, como trilhas de tecnologia, nas áreas de programação e IA. E mais inclusão à vista:

“Estamos trabalhando com o RH a admissão de jovens com deficiência, fomos buscar conhecimento para aprender a trabalhar com esses jovens. Começamos este ano com uma turma piloto de jovens aprendizes com deficiência”, conta a professora Marina, que conversou com o PUC Urgente ao lado do coordenador pedagógico, Davison Coutinho, sobre os feitos do núcleo e as celebrações do aniversário.

*sob supervisão das editoras

Qual é a missão do NEAM?
Davison Coutinho: Nossa missão é qualificar os jovens. Oferecer uma formação integral, cidadã, uma formação que busca fazer com que essas pessoas sejam felizes e atuantes em seus territórios. A gente quer formar jovens não apenas para que cresçam e ganhem o mundo, mas para que tenham consciência social e a vontade de transformar o local em que moram. Geralmente, nossos alunos conseguem trazer outros colegas de suas comunidades, impactam a casa, impactam a família. Esse é o objetivo maior do NEAM.

Qual a importância de um núcleo como o NEAM na PUC-Rio?
Davison Coutinho:
A importância é a de abrir as portas da Universidade para a comunidade. O NEAM é pioneiro nessa inclusão. Surge muito antes do ProUni, antes até mesmo da política de bolsas da Universidade. E os jovens das periferias passam a se sentir capazes de pertencer a esse espaço universitário. São jovens que, na maioria, são os primeiros da família a entrar na Universidade, e o contato deles com os alunos daqui faz com que pensem: “Poxa, posso ser um deles também, né?”. Essa é a importância do NEAM, formar multiplicadores para uma sociedade melhor.


Nesses 44 anos, quais foram os principais projetos que NEAM já promoveu?
Marina Moreira:
Em 1988, surgiu um projeto com o BNDES, de formação de micro empresas para a Rocinha. Foi quando começou a parceria com a liderança comunitária da Rocinha, na figura de Dona Elizia de Medeiros Pirozi. Ela já era professora formada e virou nossa antessala da Rocinha. Eu não ia para lá sem ela, e ela não vinha à PUC sem mim. E, assim, com o dinheiro que recebemos do BNDES, estruturamos mais de 50 cursos e construímos um prédio, o Centro Comunitário Rocinha, lugar de lazer e onde também são ministrados cursos de férias. Além desse espaço, tem a creche comunitária “União faz a força”, que atende 150 crianças.

Davison Coutinho: Temos um programa de jovem aprendiz, o programa Aluno NEAM, onde eles aprendem tecnologia, sustentabilidade e meio ambiente. Há cursos de extensão comunitária, de educação continuada comunitária e, agora, o de audiovisual, em parceria com o professor Ernani Ferraz. Este ano, a gente também celebra a conquista de dez anos do programa Jovem Aprendiz pela lei federal – que a Universidade cumpre junto do núcleo. O NEAM já era pioneiro antes da lei, já colocava jovens estagiando em departamentos desde a sua fundação, em 1981, mas em 2015 foi regulamentada a lei. Agora, após dez anos, fizemos uma pesquisa que revelou o número de 326 jovens atendidos.

Vocês podem falar um pouco mais sobre esse levantamento?
Davison Coutinho:
Essa mesma pesquisa mostra nossa pluralidade. Por exemplo, sempre falamos da Rocinha, porque é nosso ambiente impulsionador, por conta da proximidade. Mas atuamos em diversos bairros, não só da Zona Sul, Zona Oeste e Zona Norte, mas também nos da Baixada. Em dez anos de aprendizado, atendemos 46 bairros. Temos uma parceria de mais de 20 anos, com bolsas integrais de inglês, com a Cultura Inglesa. E são mais de 700 alunos ativos na Sociedade Brasileira de Cultura Inglesa, SBCI. Esses jovens, uma vez que têm a possibilidade de aprender inglês, a possibilidade de bolsa, ficam aptos a concorrer a programas internacionais.

Existe algum projeto novo?
Davison Coutinho:
Começamos este ano com trilhas novas, voltadas para tecnologia. A gente faz parcerias com o ECOA, que traz a parte de produção de tecnologias emergentes, programação, IA. Também fechamos com o Núcleo de Memória, onde os jovens estão aprendendo sobre o uso do audiovisual atrelado a memória e elaboração de eventos.

Marina Moreira: E trabalharemos em um projeto apoiado pela FAPERJ, em prol do Instituto TMJ Rocinha. Esse foi um dos três projetos contemplados no edital PISTA (que fomenta ideias baseadas em Ciência, Tecnologia e Inovação).

O nosso projeto faz parte do Parque de Inovação Social, Tecnológico e Ambiental. O Davison é um dos fundadores. Vai ter impressão 3D, moda e costura, em parceria com departamento de Artes & Design, e audiovisual, em um prédio que reformaremos no alto da comunidade.

Qual é o segredo para a duração de um projeto que muda a vida de tantos jovens?
Marina Moreira:
Amor a Deus, amor ao próximo, humildade, paixão, vontade de crescer, vontade de ser um time e não só um jogador, ter a interdisciplinaridade como vertente e apreciar o outro como você se aprecia. Mudar o que está errado de forma carinhosa, afetuosa, solidária. O que a gente tem
é cuidado.

A Universidade sempre nos apoiou muito, e oferece uma coisa imbatível para os adolescentes: a comida. O bandejão é o nosso grande aliado. Com fome ninguém aprende nada, e há muita fome na praça.

Davison Coutinho: O que garante essa longevidade são as parcerias, uma rede de apoio. Em memória, gostaria de ressaltar o papel de Augusto Sampaio, que foi o Vice-Reitor responsável pelo NEAM por mais de 30 anos.

Como será a programação da comemoração dos 44 anos?
Marina Moreira:
No dia 10, teremos uma Missa de Ação de Graças, e as crianças do Coral Alegria vão cantar. A celebração vai ser com o Vice-Reitor Geral, Padre Miguel,S.J, e o Reitor da Igreja Sagrado Coração de Jesus, Padre Arnaldo. No final da missa, vamos distribuir 700 livros doados pela Cátedra UNESCO de leitura da PUC-Rio.

Davison Coutinho: No dia 11, temos uma programação pela manhã no RDC, uma mesa com parceiros históricos da Universidade. Vamos ter a presença de alguns jovens que já passaram pelo NEAM. Depois teremos bolo e almoço. E haverá oficinas de fotografia, reciclagem, animação e contação de histórias.