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PUC-Rio cria curso para gestão escolar do sistema Firjan

PUC-Rio cria curso para gestão escolar do sistema Firjan

Cynthia Paes de Carvalho: "A equipe de gestão tem que ser muito 'fera' para combater o escapismo escolar”

Cynthia Paes de Carvalho destaca caráter estratégico da atuação dos gestores, inclusive do ponto de vista da política pública da educação

A PUC-Rio firmou um acordo com a Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro para a oferta de um curso de especialização em gestão escolar, direcionado a gestores das unidades do Sistema Firjan. Quem está à frente da iniciativa é a professora e Doutora em Educação pela PUC-Rio Cynthia Paes de Carvalho, que explicou a importância estratégica da formação de lideranças nas escolas:

“Essa característica de liderança é um fator de eficácia escolar, portanto, um fator a favor dos resultados”, afirma Cynthia.

A aula inaugural do curso será no dia 26 de setembro, e as disciplinas começam no dia 24 de outubro. Serão três turmas de 40 alunos, de forma semipresencial. Em um ano, Cynthia projeta que estarão formados os primeiros 40 integrantes das equipes de gestão.

Por Isabella Carvalho*

De que forma atua um gestor escolar?

O gestor não é apenas o diretor, quase sempre tem uma equipe de gestão que varia de tamanho segundo a rede em questão. Tem vice-diretor, coordenação pedagógica e vários coordenadores de diversas áreas. Gestão escolar é exatamente sobre quem está à frente da escola, já que o diretor e a sua equipe é que dão o tom do trabalho. O gestor vai tentar fazer com que tudo funcione de uma maneira eficiente para que o professor tenha boas condições de aula. E tem, acima de tudo, uma posição de liderança. É conhecido pelos professores, famílias, alunos e funcionários como alguém que tem autoridade moral, uma autoridade de fato, visto que é responsável legalmente pela escola. Essa característica de liderança é um fator de eficácia escolar, portanto, um fator a favor dos resultados. Cerca de 15% a 20% do resultado é devido também a esse fator. E aí, obviamente, a gestão passa a ser estratégica do ponto de vista da política pública da educação. Logo, a formação -o que fazem e que não fazem esses profissionais – também passa a ser muito importante.

Como é a formação dos gestores?

A formação de professores está regulamentada na lei brasileira, para as universidades e institutos de formação. A formação de diretores, por sua vez, não estava regulamentada. O MEC, no período do ex-presidente Jair Bolsonaro, criou a obrigatoriedade de regulamentar a formação em termos de competências do diretor, ou seja, o que se espera que o diretor faça ou não, saiba ou não, para se pensar uma formação depois. Não foi definido o currículo de formação, apenas competência. Eu e mais três pesquisadores fomos convidados para fazer pesquisas e para escrever essas diretrizes, que são as competências dos profissionais de direção das escolas. A formação do gestor é importante, porque ele tem um papel à frente de todo mundo no ambiente escolar. O que ele faz vai ser lido por todo mundo, vai ser verificado por todo mundo.

O curso é voltado para os gestores das escolas do Sistema Firjan. Como essas unidades podem colaborar com as escolas públicas?
Elas têm muito a colaborar com a rede pública. E não só as escolas do sistema Firjan, mas de todo o Sistema S (Sesc, Senai, Sesi etc). O novo ensino médio prevê a formação técnica também para os estudantes nessa etapa – que são os chamados itinerários formativos. Elas já têm o know-how de como ensinar e têm uma interface necessária. A formação técnica é uma formação ainda pouco existente no Brasil, mas é importante, visto que pode abrir outros caminhos. Até a educação básica, os gestores do sistema Firjan não têm como influir diretamente. Mas querem fazer parcerias com o ensino médio do Estado, com a rede estadual. Todos podem ganhar muito.

Como um profissional chega ao cargo de diretor?
O que há na Constituição e na LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional) é o princípio da gestão democrática, ou seja, deve haver consulta à comunidade. Mas isso não é obrigatório por lei. Cada sistema define como vai fazer. Assim, durante muito tempo, no Brasil, o que reinou foi a indicação. E, às vezes, a pessoa nem tem formação de magistério… Tem aumentado um pouco o número de redes que estabeleceram processos de consulta, exigindo que, pelo menos, o diretor seja professor, por exemplo. E que haja algum tipo de consulta à comunidade.

Aqui no Rio, a escolha é por indicação, mas com alguma participação da comunidade escolar. A maioria das redes, desde que houve uma mudança no Fundeb (Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação), são convidadas a terem processos tecnicamente consistentes e com consulta pública. Acho que há uma tentativa de regulamentar. O fato de a comunidade escolar escolher o diretor é uma coisa boa, mas não necessariamente garante que o diretor seja a melhor escolha. Por isso, o Ministério também pensou em estabelecer as competências.

Você acha que a relação com o alunado mudou? Como é para os novos gestores lidar com o alunado?
Já está mudando há algum tempo, diria nos últimos 10 anos, pelo menos. A mudança vem se aprofundando em termos da importância das redes sociais, com o distanciamento do jovem de perspectivas de estudo para poder ser alguém na vida. É a ilusão de que você vira um  influencer e aí vai ficar muito rico. Então, não precisa estudar, porque você vai ser influencer. Isso desestimula a ida à escola e até mesmo à universidade. E nas escolas públicas, com piores condições de funcionamento, é ainda menos atraente. Por isso, a equipe de gestão tem que ser muito “fera” para combater o escapismo escolar

Como surgiu a oportunidade de trazer o curso para a PUC-Rio?
Eu já havia feito ações de formação de diretores de redes específicas aqui do Rio de Janeiro. Em março do ano passado, a Firjan, que tem mais de 40 escolas, uma parte de educação básica e uma parte maior de educação profissional, me convidou para fazer uma palestra sobre o tema. Depois, veio o convite para pensar na proposta de um curso de especialização voltado aos diretores e equipes de gestão das escolas deles no Estado do Rio. Em conjunto com a professora Maria Luiza Canedo, elaboramos o curso, que foi aprovado em todas as instâncias, até o Conselho de Ensino e Pesquisa da PUC-Rio.

* Sob supervisão das editoras