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Multidesafio inédito na indústria de óleo e gás

Multidesafio inédito na indústria de óleo e gás

Prof. Godoy é o mediador de uma das mesas do II Fórum de Inovação em Energia e Sustentabilidade

Descomissionamento de plataformas offshore, em debate na Casa de Inovação, envolve questões tecnológicas, ambientais e legais

Por Cristian Caldas*

Organizado pelo Centro Técnico Científico da PUC-Rio (CTC/PUC-Rio) em parceria com a Coordenação Central de Parcerias e Inovação (CCPIN), o II Fórum de Inovação em Energia e Sustentabilidade tratará de uma operação inédita no país: o descomissionamento na indústria de óleo e gás.

Em entrevista ao PUC Urgente, o Decano do CTC/PUC-Rio e mediador de uma das mesas do encontro, Professor José Godoy, afirmou que o tema engloba diversos campos do conhecimento, como Biologia e Sustentabilidade, e traz uma série de oportunidades para a comunidade acadêmica nas áreas de pesquisa e atuação profissional.

Godoy enfatizou que a atividade tem um mercado que movimenta bilhões de reais, assim como toda a logística — desde a instalação das plataformas até o descomissionamento. A questão é perpassada pela Inteligência Artificial (IA) e envolve diversos atores para dar coesão ao processo.
“A discussão deve ir além dos temas propostos pela COP 30, a gente tem que pensar no ciclo do processo como um todo, desde a instalação da plataforma até o descomissionamento”,
explica Godoy.

*sob supervisão das editoras

O tema central do encontro será o descomissionamento na indústria de óleo e gás. Pode explicar como funciona esse processo?
Descomissionamento significa retirar a plataforma de operação. Tirá-la do meio do mar, a centenas de quilômetros da costa, e trazê-la para um porto onde vai ser desmantelada. Nesse processo, há uma série de desafios tecnológicos, porque o objetivo final do descomissionamento é você reaproveitar o máximo possível do material das plataformas. É preciso classificar, verificar onde existe material contaminado, com o que está contaminado, quais são as formas de descontaminar esse material, a forma de “cortar” as peças etc. Tudo isso está envolvido nesse processo de descomissionamento e também na parte final de gerência dos resíduos. É uma operação bastante complexa que oferece, do ponto de vista tecnológico, muitos desafios.

Qual a importância da Universidade ao receber especialistas da academia, da indústria e de órgãos reguladores para debater os principais desafios e oportunidades dessa atividade?
O descomissionamento é um tema transversal que engloba vários departamentos, não só o CTC/PUC-Rio, mas também outras áreas, como Biologia e Sustentabilidade. Assim, traz uma série de oportunidades e negócios para a própria Universidade. É importante transmitir para a comunidade o que é isso, quais são os desafios e onde a gente pode atuar futuramente.

O envolvimento de diversos atores torna mais complexa a aplicação do descomissionamento?
Certamente, porque é algo que deve ser feito com muito planejamento, não é uma operação fácil. Há uma série de questões, até mesmo jurídicas, envolvidas nesse processo. Tudo tem que ser muito bem estruturado para que, uma vez colocada a plataforma no porto, seja possível fazer o processo sem muitos contratempos. É claro que contratempos vão existir, principalmente nas primeiras operações. Nos próximos anos, cerca de 30 plataformas serão descomissionadas no Brasil, e isso é um mercado de vários bilhões de reais envolvidos.

A Petrobras prevê um gasto de R$ 11 bilhões com descomissionamento até 2028. O alto custo dificulta a implementação desse processo?
O descomissionamento tem que ocorrer. Assim, é preciso planejar adequadamente para que se minimize esses custos, que não se tenha retrabalho, e que se diminua também as surpresas que venham a ser encontradas ao longo desse processo.

A resolução 817/2020 da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP) esgotou a necessidade de se discutir os riscos sanitários e ambientais do descomissionamento?
Em alguns casos, todo o processo de destinação final desse material já está previamente estabelecido. O material vai para os depósitos de resíduos perigosos. Mas há outros casos em que ainda se discute qual a melhor destinação. A própria legislação vem sendo adaptada para permitir a deposição de alguns materiais nesse tipo de armazenamento. É uma operação inédita no país, sendo necessário ser bem discutida a questão legal para que, uma vez iniciado o processo, não seja interrompido porque alguma coisa não ficou clara na lei.

A discussão sobre esses riscos deveria ser levada para a COP 30, que vai ser realizada em Belém, em novembro?
A discussão deve ir além dos temas propostos pela COP 30, a gente tem que pensar no ciclo do processo como um todo, desde a instalação da plataforma até o descomissionamento. A retirada de operação dos pipelines (dutos) gera muitos desafios tecnológicos, como identificar bem o material utilizado para evitar que as empresas de reaproveitamento recebam itens contaminados. Toda essa cadeia tem que estar muito bem ensaiada e certificada, para que se rastreie tudo que foi retirado da plataforma e em que condições foram retirados. É uma questão logística bastante importante.

Como a Inteligência Artificial (IA) pode contribuir para maximizar os resultados das iniciativas de descomissionamento?
Em parte, a IA está presente desde o início do processo. Por meio dela, colhem-se as informações das boas práticas que foram empregadas em outras plataformas fora do Brasil. É possível retirar essas informações que estão dispersas para trabalhar no planejamento. Além disso, há toda a parte de catalogação das peças, de criar um sistema que possa recuperar dados de modo ágil. Tem bastante campo para aplicar IA.