Os muros invisíveis na cidade
15 de agosto de 2014 as 06:30
Na quarta-feira, 20, haverá o lançamento do livro Atlas das condições de vida na Região Metropolitana do Rio de Janeiro, trabalho do diretor do Departamento de Comunicação Social, professor Cesar Romero Jacob, com Dora Rodrigues Hees, também da PUC, e Philippe Waniez, da Universidade de Bordeaux. O Atlas é um estudo socioeconômico dos municípios que compõem a Região Metropolitana do Rio, com dados de origens diversas, do IBGE, SUS, ISP e TSE. Foram produzidos 112 mapas que abordam temas, como a distribuição da população, renda, estrutura demográfica, migração, domicílios, educação, emprego, religião, saúde, criminalidade e eleições. O lançamento vai ser na sala 102-K, às 14h. O e-book estará disponível gratuitamente para download no site da Editora PUC-Rio, a partir do dia 22 de agosto.
Qual é o objetivo do estudo?
Cesar Romero Jacob: Estamos publicando este trabalho seis meses antes das comemorações dos 450 anos do Rio, como uma contribuição ao maior conhecimento da cidade. Seria bom que nas comemorações do seu quinto centenário, em 2065, a cidade fosse maravilhosa não apenas para uma parcela pequena dos seus habitantes, mas para a maioria da sua população. O propósito do trabalho, então, é fazer um estudo da cidade que permita uma reflexão e, desse modo, contribuir para que políticas públicas possam ser adotadas no sentido de melhorar a vida das pessoas. É melhor uma cidade na qual todos vivam melhor. Quanto menos pobreza, melhor não apenas para os pobres, mas também para os ricos. Menos violência, menos tensão.
Quais dados serviram de base para o estudo?
Cesar Romero: O Atlas foi feito a partir do tratamento de um grande número de informações oriundas do Censo Demográfico de 2010 do IBGE, do Sistema Único de Saúde (SUS), do Instituto de Segurança Pública (ISP) e do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), para os municípios que compõem a Região Metropolitana do Rio de Janeiro, mapeadas em recortes territoriais bastante detalhados.
Quais as principais conclusões?
Cesar Romero: O Atlas revela a existência de uma clara segregação socioespacial na RM do Rio. Assim, os mapas das faixas de rendimentos, dos níveis escolares e dos programas sociais são reveladores das profundas desigualdades que marcam a sua paisagem urbana. A distribuição dos habitantes por faixas etárias, sexo e cor da pele também reforçam as acentuadas diferenças existentes entre as diversas partes da região metropolitana. O que se percebe é que existem muros invisíveis na cidade, que são dissimulados através dos diversos espaços de convivência, como praias, parques, Maracanã, Sambódromo, que permitem a interação de pessoas de classes sociais diferentes. Isso cria um clima de integração social, o que é muito bom, mas as condições de vida das pessoas que moram na periferia são muito diferentes daquelas que vivem na orla marítima. A série de mapas mostra uma organização social em que os indicadores socioeconômicos vão piorando na medida em que se afasta da Zona Sul, em direção à Baixada Fluminense. De fato, a cidade é maravilhosa, mas não para todos.
Há uma saída para reduzir a desigualdade na Região Metropolitana?
Cesar Romero: Educação pública de qualidade é uma delas. Hoje, a educação pública é ruim. E a população pobre se utiliza, sobretudo, do ensino público. A educação é precária por várias razões. O salário é baixo e falta dinheiro para a educação. Além disso, sabe- se que o dinheiro existente não é bem empregado, pois há muito desperdício. Educação é um elemento fundamental para permitir que a população pobre possa aspirar a empregos melhores. Outro fator importante para a melhoria das condições de vida da população é a melhoria do sistema de transportes. Não é razoável que as empregadas domésticas, por exemplo, que trabalham na Zona Sul e moram na Baixada, saiam às 4h para chegar às 7h no trabalho. Isso é uma coisa absurda, desumana. O sistema de transporte ruim acentua as desigualdades. Enfim, procurar solucionar os problemas que infernizam o dia a dia do cidadão e fazer do Rio de Janeiro uma cidade mais humana para os seus habitantes e acolhedora para os seus visitantes.