Entrevistas

Uma questão de cara, pele e jeito

Uma questão de cara, pele e jeito

A mostra ID_BR cara :: pele :: jeito começa nesta segunda-feira, 4, no pilotis do Edifício Cardeal Leme. Organizada pela Cátedra Unesco, a exposição será em homenagem ao ex-diretor da instituição, professor Ricardo Oiticica, que morreu no dia 19 de outubro. A curadora da mostra, Luana Génot, fala sobre o evento, que tem o objetivo de discutir sobre as diversas identidades étnicas presentes no nosso país, no contexto das celebrações do Dia da Consciência Negra.

Como surgiu a ideia de fazer o ID_BR?

Luana Génot:
 A ideia surgiu quando eu estava em um intercâmbio, nos Estados Unidos. Na University of Wisconsin, fiz algumas aulas que relacionavam raça, etnia e mídia, em que debatíamos sobre a importância de discutir identidades étnicas e conceitos de raça na educação, de educar as pessoas sobre esses termos. A intenção era de um dia, quem sabe, exterminá- -los, pois o ideal seria que não se separasse as pessoas pela cor de pele ou pela raça. É uma prática comum, completamente inventada, mas também muitas vezes excludente. A partir desse contato, comecei a formular umas ideias da necessidade desse tipo de discussão no Brasil. No país, temos uma discussão muito rica, porque todo mundo é muito misturado. O ID_BR nasceu disso, da vontade de discutir identidades. Discutir não significa afirmar que exista uma identidade nacional. Pode haver múltiplas identidades. Há teóricos que afirmam isso, assim como há teóricos que dizem não existir uma identidade, mas uma mistura, uma colagem de muitas identidades, pois temos muitos imigrantes, muitas presenças de fora que se misturaram.

Qual o objetivo do encontro?

Luana:
 O objetivo é trazer a discussão sobre identidades para o meio acadêmico. Eu acho que devemos sempre discutir as identidades, ou a negação delas. É importante porque isso faz parte do nosso cotidiano, faz parte do que a gente é, do que a gente vê. Ela serve muito como do quem sou eu, como eu me diferencio dos demais. Nos inspiramos na discussão sobre identidades, sobre a diferença de cada um, ou, até mesmo, sobre o que nos unifica como pessoas.

Qual foi a importância do professor Ricardo Oiticica na concepção do encontro e de que forma ele será homenageado?

Luana:
 Estamos dedicando todo o evento em memória do professor Ricardo Oiticica que era o grande cabeça dessa mostra. Eu e o professor Oiticica trabalhamos juntos desde 2011. Ele sempre me recebia para estudarmos alguma coisa bacana para fazermos durante esse período, que é o mês da Consciência Negra. Infelizmente o perdemos no meio do caminho, no meio da empolgação que estávamos para desenvolver o projeto. Fizemos questão de fazer tudo em memória dele. No dia 4, vamos abrir a exposição com uma homenagem ao professor Oiticica, com a leitura de um poema que ele preparou para o evento, chamado ID_BR. Toda a mostra é dedicada a ele, que foi o grande idealizador e, sem ele, certamente não seria possível.

Qual a programação deste ano?

Luana:
 Após a homenagem ao professor Oiticica, temos uma palestra, às 11h, no Auditório Padre Anchieta, com ex-presidente do IBGE, Simon Schwartzman que vai falar sobre as identidades nas estatísticas. Às 13h, teremos um coquetel e, em seguida, haverá uma visita à exposição, que vai ficar nos pilotis do Edifício Leme durante toda a semana. Na quinta-feira, 7, teremos uma programação no anfiteatro, a partir das 8h, com Meton Joffily, que vai fazer um grafite baseado nas identidades étnicas no Brasil. Às 16h, haverá um show com Thiago Tomé, também no anfiteatro, em que vamos usar o grafite como background do show.