Entrevistas

Novo capítulo na Cidade Cerzida

Novo capítulo na Cidade Cerzida

Em Cidade Cerzida – A costura da cidadania do Morro Santa Marta, o professor de Comunicação da PUC e da UERJ Adair Rocha ajuda a desmistificar o estereótipo de lugar de criminalidade e discute a relação entre asfalto e favela na primeira comunidade a ser pacificada. Na terceira edição, o livro apresenta um novo capítulo, intitulado É possível uma outra cultura de segurança?, que fala sobre a implantação da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) no morro. O lançamento será na quarta-feira, 13, às 19h, na quadra da Escola de Samba Santa Marta.

O que é discutido no novo capítulo?

Adair Rocha: Procurei fazer uma avaliação a partir do que os moradores do Santa Marta estão pensando e como estão avaliando a presença da UPP. A primeira grande novidade é que a UPP recoloca a discussão da segurança da cidade como um todo e não apenas de um espaço. É preciso rediscutir completamente a vida da cidade, e nesse diálogo, chamo atenção para o questionamento de como as favelas precisam ser privilegiadas, já que historicamente estão excluídas.

O que muda com a implantação da UPP?

Adair: Ela ajudou a criar uma relação de aceitação dos moradores da própria favela em relação à polícia. Além disso, a retirada do poder armado deu o direito de ir e vir e atraiu muitos turistas. Por outro lado, na concepção crítica dos moradores, o poder público ainda precisa se voltar para o conjunto dos moradores e não apenas para a Associação de Moradores.

Qual a ideia de uma “cidade cerzida”?

Adair: O termo “cerzida” faz analogia a uma costura do cotidiano que explica que a construção da cidadania só pode ver a cidade como um todo e traz a universalização da concepção de cidade. Portanto, o poder público e outras instâncias têm uma grande dívida com os moradores das favelas e periferias por estarem no centro da produção, e ao mesmo tempo distantes do acesso a uma escola de qualidade, um sistema de saúde, cultura. Esse cerzimento é um processo real que vem acontecendo aos poucos.

Com a UPP, haverá cidadania?

Adair: O que não podemos dizer é que a cidadania depende da UPP. Acho que é difícil ter uma posição contra ou favor quando tratamos de algo que tem que se constituir. Do ponto de vista da Constituição, enquanto política pública, sou a favor, pois acho que é uma mudança do tipo de relação que o estado estabelece com a população. Dentro dessa mudança, é a população que tem ser o sujeito. Nesse sentido, acredito que a UPP só pode trazer coisas positivas, não só para a favela, mas para toda a cidade.

Que tipo de consciência você quer levar aos leitores?

Adair: O que está em jogo nesse momento é pensar a favela como parte da cidade, a partir da sua potencialidade e não das fragilidades. Quando olhamos para o potencial que os moradores podem ter, certamente teremos outro pensamento a respeito do desenvolvimento, da construção e da cultura da cidade.