Entrevistas

A ética é o caminho fundamental

A ética é o caminho fundamental

O que significa para a PUC receber o Fórum da ICSU, o Ideias Justas da IIED e a Semana do Meio Ambiente?

Josafá Carlos de Siqueira, S.J.: Significa ampliar a nossa participação, ao contrário da ECO 92, em que a PUC-Rio teve uma participação muito tímida. Significa também acolher e discutir abordagens e enfoques diferentes nas questões socioambientais relacionadas com a sustentabilidade. Significa mostrar que estas preocupações globais fazem parte da nossa agenda local.Qual é a importância da Semana do Meio Ambiente antecedendo as discussões da Rio+20?

Padre Josafá: A semana do Meio Ambiente da PUC-Rio, este ano, tem um diferencial. Nesse contexto dos eventos nacionais e internacionais, podemos contribuir com ideias, reflexões e propostas. Ela é uma motivação local para uma participação mais ampla da comunidade nas questões de natureza global. Esta participação local nos prepara para os desafios planetários.Na opinião do senhor, quais seriam as melhores maneiras de se enfrentar as mudanças climáticas?

Padre Josafá: Mudanças climáticas são, hoje, um fenômeno concreto. Precisamos, em primeiro lugar, de medidas mitigatórias para amenizar a situação. Além disso, precisamos buscar alternativas sustentáveis, diversificando nossas matrizes tecnológicas. Precisamos criar mecanismos de adaptação às mudanças do clima, educando e engajando a sociedade no enfrentamento das questões que afetarão o cotidiano das pessoas e a organização do espaço social. Para tanto é necessário um processo contínuo de educação e conscientização ambiental, com redução do consumo exagerado.O que mudou da ECO 92 até hoje?

Padre Josafá: De 92 para cá, a consciência ambiental cresceu enormemente, da mesma forma que os problemas também se tornaram mais complexos. Muitos deles estão associados às sucessivas crises econômicas dos países desenvolvidos e à falta de coragem politica para buscar consensos em temáticas relevantes. Nos próximos eventos, três tipos de racionalidade devem prevalecer nos debates: a politíca, que vai ser muito forte nas reuniões oficiais, dos chefes de estado; a civil, que vai envolver a sociedade de forma mais ativa, para buscarmos outros caminhos e repensarmos nossos modelos hegemônicos; e a cientifica, da tecnologia e inovação, que é importante devido à bagagem de conhecimento extraordinária, que deve ser consultada nas decisões importantes por uma sociedade cada vez mais justa e ecologicamente sustentável.

Nesses últimos 20 anos, a Universidade também deu passos grandes na linha da sustentabilidade socioambiental. A linha de sustentabilidade da Universidade está muito melhor definida também. A universidade cresceu muito no nível da interdisciplinaridade e com as preocupações ambientais. Diversos cursos e disciplinas foram criados e projetos foram desenvolvidos nessa área. Então é normal que a participação da PUC seja maior na Rio+20.Como o novo livro pode colaborar para as discussões ambientais?

Padre Josafá: Meu livro é composto de 20 reflexões que fiz ao longo do tempo sobre questões socioambientais, do ponto de vista ético, teológico e espiritual. É bilíngue para que essas reflexões, de vertente ética, possam chegar a mais pessoas, universalizando o pensamento local. De forma secundária, ele pode colaborar um pouco na promoção da PUC enquanto instituição de ensino preocupada com a questão ambiental.Qual é o papel da ética nesse contexto sustentável?

Padre Josafá: Nosso planeta está muito ferido e a ética é o caminho fundamental para um planeta mais equilibrado, com menos desajuste social, miséria e pobreza. Ferido também porque nosso ecossistema, nosso bioma e a natureza estão fragmentados. A ética pode ajudar o ser humano a conseguir curar essa ferida, com uma visão mais integradora das coisas. Nossa ferida ambiental é mais profunda, não se cura do dia para a noite. Temos que começar a agir agora, antes que ela se torne uma infecção planetária generalizada. Todos esses eventos que serão realizados na cidade estão voltados para o bem comum. Querem a dignidade à criação, à natureza, à condição humana, oferecendo alternativas aos desafios que nós temos pela frente.De que forma a espiritualidade pode contribuir na preservação do meio ambiente?

Padre Josafá: A consciência ambiental hoje não pode ser apoiada numa cosmovisão fragmentada, baseada na luta setorizada por melhorias sociais e ambientais. O processo de interdisciplinaridade e o desejo planetário por uma consciência mais integradora passa por várias áreas do saber e experiências humanas. A espiritualidade é uma delas. A espiritualidade dá a mística para tudo, não pode mais estar fora desses movimentos ambientais. A ciência responde o que são as coisas. A espiritualidade questiona o sentido das coisas, e isso ajuda a inspirar as pessoas a ter uma perspectiva mais transcendente da realidade. É importante que as pessoas possam se integrar mais com a natureza, não só de forma biológica, mas também teológica, para perceber a grandeza do amor de Deus nas plantas, nos animais e nos seres humanos.