Entrevistas

Os desafios da nova direção do Departamento de Química

Os desafios da nova direção do Departamento de Química

Professor Renato Carreira (Foto: JP Araujo)

O Departamento de Química está sob nova direção em meio a muitos desafios, como ressalta o diretor recém-empossado, professor Renato Carreira. O maior deles é conseguir equacionar as necessidades tecnológicas para atender aos objetivos de desenvolvimento sustentável trazidos pela Agenda 2030 da ONU com a restrição de recursos no pós-pandemia. Renato Carreira, que foi coordenador do PPG em Química da PUC-Rio (2013-2016) e desde 2016 coordena o Laboratório de Estudos Marinhos e Ambientais (LabMAM) da Universidade, elenca três eixos prioritários de ação: Ensino, Infraestrutura e Pesquisa/Desenvolvimento para, entre outras metas, manter a excelência no ensino. Na entrevista ao PUC Urgente, o diretor destaca que a “Química é uma ciência básica que estuda as propriedades e as transformações de elementos e substâncias e, assim, está intimamente ligada à própria vida e ao bem-estar da Humanidade”.

Quais os desafios de comandar o Departamento de Química neste momento?
Renato Carreira:
O país passa por uma grave crise econômica e social, e observamos uma queda acentuada do investimento em ciência, tecnologia e inovação. A PUC-Rio não está imune aos efeitos desta realidade. O cenário atual nos obriga a reformular práticas e procedimentos atuais e a buscar formas alternativas e de soluções ‘fora da caixa’ para a captação de recursos. Além disto, fatores como a recente reforma curricular da Engenharia, a criação de novos cursos na Universidade, as mudanças no ensino impostas pela pandemia e as transformações sociais e tecnológicas necessárias para atender aos objetivos de desenvolvimento sustentável trazidos pela Agenda 2030 da ONU terão impactos significativos sobre a oferta de disciplinas do DQ, sejam teóricas ou práticas. O grande desafio da Direção do DQ é equacionar estas necessidades com a restrição de recursos do momento, ao mesmo tempo em que devemos estar em sintonia com as demandas atuais e futuras da sociedade para cumprir a missão de uma Universidade Comunitária, que preza pela formação humanitária, socioambiental, cultural, pluralista e espiritual de nossos alunos.

Quais serão as prioridades da sua gestão?
Carreira:
Posso elencar três eixos prioritários de ação: Ensino, Infraestrutura e Pesquisa/Desenvolvimento. Nosso curso de bacharelado recebeu nota máxima (cinco) no último ENADE, e, assim, uma prioridade é garantir a excelência no ensino de graduação. Estamos discutindo uma reforma na estrutura curricular para que o aluno tenha mais protagonismo no processo de aprendizagem e que vivencie mais o Campus da Gávea. Com isto, pretendemos formar um profissional com sólido conhecimento técnico e científico, mas que também tenha ‘visão de mundo’, a fim de identificar e propor soluções aos grandes desafios que se impõem já no presente. A mesma visão sobre excelência do ensino e projeto pedagógico se aplica aos cursos de mestrado e doutorado em Química.
O segundo eixo envolve o desafio de disponibilizar uma infraestrutura de laboratórios, equipamentos e salas de aula que atenda às demandas de ensino e pesquisa do nosso departamento e dos diversos cursos que têm interface com a Química, tanto no CTC como em outros Centros. Também é prioridade garantir que tais atividades sejam realizadas com a devida segurança para a comunidade da PUC-Rio. Além disto, o DQ passou por um intenso processo de renovação do quadro de docentes – possivelmente, o mais amplo já realizado no CTC nos últimos anos. Devemos priorizar o desenvolvimento profissional destes docentes garantindo o espaço físico e o acesso à infraestrutura laboratorial e de equipamentos – historicamente, um dos grandes diferenciais do DQ.
Por fim, outra prioridade – que se relaciona com as duas já citadas – é a busca da sustentabilidade financeira do departamento para atuar em pesquisa e desenvolvimento. O DQ, embora com número reduzido de alunos, sempre teve participação ativa na captação de recursos via projetos de pesquisa e de consultoria. Estamos cientes que este assunto é motivo de um Grupo de Trabalho criado pela Reitoria, e espero que, durante meu período na direção do DQ, possamos contribuir para chegar a um novo modelo de sustentabilidade financeira da PUC-Rio.

A Química historicamente é sempre associada aos elementos químicos, mas sabemos que ela vai muito além da tabela periódica e das cadeias de carbono. O que é a Química do século XXI?
Carreira:
Há uma visão equivocada que associa a Química a substâncias tóxicas e perigosas, outros a veem como uma matéria cheia de regras e normas que precisam ser decoradas para que o aluno passe de ano. No entanto, a Química é uma ciência básica que estuda as propriedades e as transformações de elementos e substâncias e, assim, está intimamente ligada à própria vida e ao bem-estar da Humanidade. A Química tem profunda relação com outras áreas do conhecimento, como Medicina, Biologia, Engenharia e Meio Ambiente, por exemplo. Se, por um lado, temos a contaminação química como uma grande preocupação ambiental, sem a Química não será possível atender às demandas da sociedade por alimento, saúde, ar e água de qualidade, nem fornecer energias limpas e renováveis, desenvolver novos materiais, ou garantir a preservação ambiental de florestas e dos oceanos. Neste sentido, trata-se de uma ciência de grande relevância na formação intelectual e cultural de todos os alunos da PUC-Rio, não apenas dos nossos alunos de bacharelado. Precisamos trabalhar para mudar o entendimento atual sobre o papel da Química para a sociedade.

Quais as áreas hoje que mais demandam profissionais de Química?
Carreira:
Mesmo com a diminuição do tamanho da indústria nacional, o setor químico tem ainda grande relevância por representar cerca de 10,8% do PIB do Brasil. Há uma demanda elevada por produtos químicos para o consumo doméstico: em 2020, foi da ordem de US$ 260 bilhões. É um campo do conhecimento que permeia várias áreas. Assim, podemos dizer que os setores que demandam profissionais com formação em Química são o industrial (petróleo, petroquímico, farmacêutico, alimentos, cosméticos, energias renováveis, de nanotecnologia, entre outros), as atividades voltadas para a gestão, controle e avaliação ambiental, a pesquisa em ciência, tecnologia e inovação, e o ensino, visto que há grande carência de professores na educação básica.