PUC-Rio: motivo de gratidão e esperança
12 de dezembro de 2022 as 06:30
Reitor da PUC-Rio, Padre Anderson Antonio Pedroso, S.J (Foto: Divulgação)
Na quinta-feira, 15, às 15h, o Reitor, Padre Anderson Antonio Pedroso, S.J., preside a Assembleia Universitária 2022 que, este ano, será realizada ao ar livre, nos pilotis do Edifício Padre Laércio Dias de Moura,S.J. A programação do dia inclui uma missa solene, celebrada às 12h, na Igreja do Sagrado Coração de Jesus, pelo Grão-Chanceler, Cardeal Dom Orani João Tempesta, O.Cist, e a apresentação da Orquestra Sinfônica Jovem do Rio de Janeiro, após o encerramento da Assembleia. Além de apresentar as atividades do ano e os principais projetos para 2023, o Reitor também dará posse aos dois novos vice-reitores da Universidade: a professora Jackeline Lima Farbiarz, como Vice-Reitora de Extensão, e o professor Luiz Fernando Campos Martha, como Vice-Reitor de Infraestrutura.
Na última edição de 2022 do PUC Urgente, Padre Anderson Antonio Pedroso, S.J, destaca mudanças já promovidas no sentido de uma renovação institucional e uma política de transparência da PUC-Rio e aponta caminhos para o futuro da Universidade, reforçando a necessidade de unidade e colaboração de toda a comunidade.
Há quase seis meses, o senhor tomou posse como Reitor da PUC-Rio. O seu discurso contemplou vários pontos de sua futura missão na Universidade. Quais os primeiros resultados da sua gestão?
Sim, o discurso de posse foi programático, sem, no entanto, a pretensão de totalidade. Enfatizei o modelo de funcionamento PUC-Rio como um “ecossistema” formado por indicadores, que funcionam como realidades complementares: autonomia das partes e unidade profunda do todo; liberdade de pesquisa e compromisso ético; crença na transcendência do ser humano e de sentido de justiça socioambiental. O mais importante é compreender que estes indicadores são valores fundamentais que se complementam performaticamente. Não se pode afirmar um sem o outro. Só poderemos garantir uma autonomia saudável se ela não for confundida com uma independência que esquece de que somos uma comunidade. Creio que, nestes meses, crescemos nesta consciência da importância de nos mantermos comprometidos com o todo da Universidade. Creio que foi fundamental a visita aos Departamentos, quando me apresentei e falei com liberdade da real situação da PUC-Rio. Percebi que, por falta de informação e pelo ritmo corrido do trabalho, poucos entendiam a situação preocupante no sentido de um enfraquecimento na sustentabilidade financeira. Há questões de gestão e de visão institucional que precisam ser redesenhadas. Como as outras universidades comunitárias (sem fins lucrativos), temos um grande desafio pela frente. Creio que um primeiro resultado seja ter iniciado um processo de renovação institucional por meio de uma governança sistêmica pautada por uma política de transparência.
Onde encontrou inspiração para o estabelecimento deste modelo?
Quando tomei a decisão de estabelecer uma governança sistêmica pautada por uma política de transparência, segui o ensinamento e a inspiração do Papa Francisco. Em seus gestos e ensinamentos, assim como em sua gestão, ele nos mostra o quanto devemos nos comprometer com a vida real. Em teologia, falamos em “encarnarem-se”. Celebraremos isso no Natal. Um fato paradoxal e impressionante da Divindade que vem ao encontro da humanidade. Em outros termos, Deus não escolheu uma rota evasiva diante do drama da História humana, mas se fez um ser-humano concreto, encarnou-se. O que isto significa? Que a salvação só se realiza nesta dinâmica de descida até o chão da realidade. Só assim resolvemos nossos problemas e vivemos plenamente nossa vida e missão. Ao ver a realidade com clareza, podemos entender como transformá-la. Assim, a transparência tem também uma dimensão ética e política. Somos chamados a ser verdadeiramente livres, coerentes e corajosos para exercer nossas funções com reta intenção, honestidade e dignidade. Isso significa ser compreensível com os que erram, mas muito firmes em lhes solicitar que corrijam seus erros, sobretudo quando se trata de erros que prejudicam a comunidade, no caso a Universidade. Para ser bem concreto: todo recurso perdido significa uma ajuda a menos aos bolsistas. Por isso, devemos manter uma certa austeridade nas contas, um profissionalismo no trabalho e uma gratidão imensa por estarmos em uma instituição que é um verdadeiro projeto para nosso país tão sofrido. Este senso de justiça com os recursos me move a trabalhar todos os dias. Até sábado e domingo eu venho, pois a PUC-Rio é a minha missão. Tudo o que está sendo feito é para garantir a sustentabilidade e, consequentemente, os empregos. O Reitor, enquanto responsável maior da instituição, trabalha para que, neste momento de crise econômica, todos possam manter suas funções e, assim, suas famílias e seus projetos. Desejo a felicidade a todos. Mas isso é uma construção coletiva: a comunidade precisa colaborar.
A criação de duas novas vice-reitorias – Extensão e Infraestrutura – e do consórcio de iniciativas pastorais já é o início de um novo modelo de gestão para 2023?
No discurso de posse, anunciei algumas linhas de força. Dentre elas, a Extensão. Já naquele momento compreendi que não se tratava de algo complementar ou um apêndice. Por isso, somente uma nova Vice-Reitoria poderia ajudar a Universidade a dar este passo de acordo com nossa identidade e missão. Assim, a responsabilidade desta Vice-Reitoria será a de visibilizar nossa responsabilidade social e, ao mesmo tempo, trazer inovações pedagógicas, sobretudo do ponto de vista metodológico. A partir deste passo, poderemos repensar, com toda a comunidade acadêmica, uma atualização sistemática das salas de aula, por exemplo.
A Vice-Reitoria de Infraestrutura é, certamente, algo que vai nos ajudar no modelo de governança que estamos propondo nesta gestão. Trata-se basicamente de conectar, de forma inteligente e sistêmica, serviços fundamentais que envolvem todas as unidades que compõem a Universidade. Assim, corrigimos a pulverização e a duplicação de serviços, que são causa de desperdício e gastos. Mas, para além desta questão de busca de sustentabilidade financeira da PUC-Rio, esta Vice-Reitoria traz em si uma cultura de maior comunicação entre todos e de uma resposta eficaz para com a comunidade, especialmente os alunos e pais. Eles precisam ser atendidos com excelência humana e tecnológica. Isso é irrenunciável hoje. No coração do campus será instalada a Ouvidoria. Assim, começaremos a estabelecer protocolos de escuta e ação imediatas, realizando realmente nossa identidade e missão.
O consórcio de iniciativas pastorais é um modelo de trabalho conjunto no qual se mantém a autonomia dos entes, inserindo-os em uma dinâmica de colaboração sistêmica. Os espaços e funções não são mais exclusivos, mas estão a serviço de todos os membros. Ao mesmo tempo, este modelo de gestão colaborativa repousa sobre uma única plataforma administrativa (centro de custo). Assim, recursos e serviços são acompanhados de maneira mais próxima e, consequentemente, alcançam mais eficácia.
Todas as universidades brasileiras vão apresentar, ano que vem, propostas de programas e projetos de extensão que tenham ênfase em inclusão social. Como a PUC-Rio se prepara para este desafio?
Assim que cheguei, há mais de dois anos, encontrei iniciativas de extensão que eu definiria como uma cultura viva em muitos membros da comunidade. Agora o desafio é de sistematizar (e curricularizar) estas iniciativas, além de criar outras mais inovadoras. Creio que estamos diante de uma grande oportunidade, pois a Extensão, assim como ela é agora entendida, tem a vocação e função de transformar o todo acadêmico das universidades. Na medida em que estará em contato com o “extramuros”, a Universidade irá se transformar. Por isso falamos de ensino-aprendizagem. A experiência dos alunos e professores será potencializada quanto maior for o contato com a realidade e a predisposição para a transformação mútua. Aprenderemos mais do que pretensiosamente queremos ensinar. Servir os demais é uma escola que prepara para a vida, e que faz a diferença na formação das pessoas. Estou confiante que se fizermos um bom processo, isto tornará a PUC-Rio mais atrativa para novos alunos e responderá à necessidade dos veteranos – que precisam se destacar em termos de experiências que tragam maior empregabilidade. Trata-se de um processo a médio prazo que deve contar com todos os membros da comunidade. Estou contente como Reitor, pois sei que está havendo muita colaboração e corresponsabilidade.
A PUC-Rio é reconhecida em todo o país por sua pós-graduação. Manter esta posição é um dos grandes desafios de sua gestão?
O grande desafio de toda universidade em nosso país é a sustentabilidade. Mas, é verdade, a PUC-Rio é considerada uma universidade que se destaca em pesquisa. Este modelo, que foi sendo construído há décadas, chegou ao seu momento mais alto neste ano. O reconhecimento da pós-graduação pela CAPES é histórico. Para manter a pesquisa, precisamos sempre estar atualizados com os novos protocolos éticos e de sustentabilidade que os contratos com grandes empresas nos pedem. Estaremos trabalhando a questão de Compliance. Enfim, para garantir a autonomia que os professores têm em propor projetos em nome da PUC-Rio, precisamos conservar a reputação ilibada que sempre tivemos. Isso é mais que fundamental hoje em dia. E não é algo garantido. Como Reitor, tenho uma visão mais clara da Universidade como um todo. Muitas vezes, para preservar as pessoas e processos, preciso tomar decisões estratégicas. O mais importante é que devemos estar muito atentos aos contatos, aos contratos e ao acompanhamento minucioso dos processos. Esta é uma das funções primordiais da Reitoria de uma universidade de pesquisa como a PUC-Rio. Tenho me dedicado a isto. Cada vez que assino um contrato, penso nos alunos, especialmente nos bolsistas. Penso no bem que podemos fazer com o recurso que pode ser gerenciado. Precisamos manter a estrutura e investir mais na graduação, que precisa de atenção especial.
Neste sentido, qual a relação entre ensino e pesquisa para a sustentabilidade geral da Universidade?
Pode parecer paradoxal, mas para manter o modelo de universidade de excelência nacional em pesquisa, que se refletiu no resultado da Capes, precisamos cuidar muito de nossa graduação. Além do chamado quadro principal de professores dedicados à pesquisa, tenho consciência de que os professores que se dedicam à graduação são fundamentais! Como vemos, temos que pensar em todos, no todo e como um todo. Isso manterá o êxito do modelo PUC-Rio. Finalmente, a graduação é a porta de entrada dos alunos. Eles são nossa razão de ser. Por isso, sem deixar de investir na pós-graduação, precisamos continuar este cuidado com a graduação, para que seja uma experiência motivadora para os jovens que escolhem a PUC-Rio como sua alma mater. Além disso, tenho repetido que nosso Campus faz pensar em uma pequena cidade, uma pólis, raiz da palavra política. Sim, a universidade é um lugar emblemático de formação política no sentido de cidadania. Não se trata de um espaço de reivindicações unilaterais, mas de construção propositiva de soluções para os grandes desafios econômicos e socioambientais de nossa cidade e país. Como Reitor, estou muito confiante e contente, pois a comunidade da PUC-Rio está correspondendo a todas as nossas iniciativas com generosidade. Isso é motivo de gratidão e de esperança.