Entrevistas

Parceria entre escola e universidade

Por: Por Bernardo Brigagão

Parceria entre escola e universidade

Professora Juçara Mello está otimista com o Seminário que vai reunir trabalhos de cinco universidades / Foto: Caio Matheus

O Seminário “Ensino de História e Projetos de Extensão: encontros entre a universidade e a escola”, nos dias 24 e 25 de maio, no Auditório Padre José de Anchieta, vai debater a relação entre universidade e escola com a apresentação e análise de projetos de extensão desenvolvidos por grupos de pesquisa vinculados às instituições de ensino superior do Rio de Janeiro. O eixo estruturante do seminário consiste na concepção da escola como espaço não apenas de disseminação do conhecimento, mas de produção, no qual pesquisa e ensino se apresentam de forma indissociável. As discussões que serão realizadas apostam na potência da interdisciplinaridade e do diálogo entre teoria e prática, na aproximação entre universidade e escola, graduação e pós-graduação. Coordenadora do Laboratório de Estudos em Ensino de História e Patrimônio Cultural (LEEHPaC), que organiza o encontro,a professora Juçara Mello, do Departamento de História, assinala que o intercâmbio entre as escolas e as universidades é fundamental.

Como foram escolhidos os projetos que serão apresentados nos dois dias do Seminário?
Juçara Mello:
O critério utilizado para a escolha dos projetos consistiu no levantamento de laboratórios de pesquisa de instituições de ensino superior do Rio de Janeiro, cujos projetos tivessem por foco atividades de extensão em escolas, relacionadas ao ensino de história e de temas transversais na educação básica. Alguns desses grupos de pesquisa já são conhecidos do LEEHPaC, por já termos desenvolvido projetos em parceria em outras ocasiões. Inicialmente, o convite foi para uma reunião prévia de discussão sobre a natureza, os objetivos e o formato do Seminário, o que para nossa felicidade resultou em ampla adesão. Nesta reunião, pudemos contar com a presença de líderes de grupos de pesquisa de cinco universidades. Todos se mostraram muito empolgados com a possibilidade de trocas de experiências e de divulgação dos projetos, especialmente em função do formato proposto para o Seminário, que prevê a participação não apenas dos pesquisadores da universidade, mas de todos os envolvidos: alunos bolsistas e, sobretudo, dos sujeitos escolares, professores e alunos.

Durante as palestras do Seminário, o eixo estruturante será a produção de conhecimento. Como isto será aplicado na prática escolar?
Juçara:
Na verdade, não será, já é. A produção do conhecimento já está acontecendo na prática escolar. E é justamente aí que acreditamos estar a distinção entre o que aqui irei chamar de projeto de pesquisa tradicional e o projeto de pesquisa de caráter extensionista. É consciente a minha escolha por não contrapor projeto de pesquisa acadêmico e projeto de extensão, isto porque entendo que todos esses projetos são acadêmicos. As pesquisas científicas ao fim e ao cabo interagem com a prática social, mas no caso dos projetos de extensão, tal como entendemos, a interação dialógica com os saberes imersos na sociedade, ou seja, com a prática social, é imediato.

Como você avalia o trabalho interdisciplinar incentivado pelo LEEHPaC?
Juçara:
Pensando no âmbito da academia, acho que todos os envolvidos são beneficiados com esse tipo de trabalho. A interdisciplinaridade demanda abertura para o novo, o diferente, o desconhecido. Nos faz sair de nossas “caixinhas”. Enxergo isso como um ganho tanto do ponto de vista da produção de conhecimento acadêmico propriamente como para uma formação para a vida. Essas coisas não são indissociáveis, afinal, como nos lembra Raymond Williams (sociólogo e teórico da comunicação e da cultura), a vida não pode ser analisada em parcelas. Vejo a abertura para a interdisciplinaridade como uma abertura para compreensão do mundo social em sua complexidade. O LEEHPaC funciona como grupo de pesquisa desde 2014 e sempre esteve voltado para a interdisciplinaridade. História, Educação, Ciências Sociais, Comunicação, Artes, Literatura, Museologia, Patrimônio, Música são algumas das áreas do conhecimento com representantes e em constante interação no Laboratório, mas também buscamos diálogo com outras áreas, como o Direito.

Qual a importância de a comunidade escolar estabelecer parcerias em projetos de extensão vinculados às universidades?
Juçara:
Num momento como o que estamos vivendo, de tensões e debates sobre inclusão de minorias e valorização da diversidade étnica, racial e de gênero, o estabelecimento de parcerias entre universidade, escola e comunidade me parece fundamental. Afinal, é preciso superar o elogio da diversidade – movimento já considerado lugar comum – e dar passos adiante. Isto não vai acontecer se continuarmos achando que as universidades têm o monopólio da produção de conhecimento. E não basta dizer que elas não têm este monopólio, pois muitos já dizem isto. O passo à frente consiste agora em superar atitudes culturais de superioridade, e isto não acontece apenas com a instituição de leis, como a que tornou obrigatório o ensino da história da África e da cultura afro-brasileira e indígenas. Isto também é importante, mas é na efetiva mudança das práticas e atitudes que as transformações almejadas podem vir a ocorrer.