A ação afirmativa sob diferentes perspectivas
21 de fevereiro de 2014 as 06:30
Um panorama diversificado sobre ações afirmativas – políticas de inclusão social para minorias – em quatro países. Essa é a proposta do livro Ação Afirmativa em Questão: Brasil, Estados Unidos, África do Sul e França, que será lançado na terça-feira, 25, às 19h, no salão da Pastoral. O trabalho, que é uma compilação de artigos escritos por profissionais da educação, foi concebido pela professora do Departamento de Ciências Sociais Angela Paiva. Para ela, a discussão sobre o assunto é fundamental para diminuir as desigualdades. A professora considera que o maior desafio enfrentado pelo sistema de cotas é manter o aluno nas universidades.
Como surgiu a ideia para o livro e qual é o objetivo dele?
Angela Paiva: O livro é resultado de uma pesquisa que fiz em 2006 sobre ações afirmativas em universidades públicas. Em 2012, realizei um seminário apresentando os resultados dessa pesquisa, que foi apoiada pela Financiadora de Estudos e Projetos (FINEP). Durante o encontro, que teve a participação de professores brasileiros e estrangeiros, os profissionais presentes escreveram artigos apontando problemáticas dessa questão em seus respectivos países. O estudo foi pioneiro, porque até então não existia pesquisa de campo nessa área. Entrevistei pessoas responsáveis pela implementação dos planos formulados pelos conselhos universitários e constatei que a maior parte da política de ação afirmativa é pensada para alunos de escola pública. O segundo público-alvo é a população indígena, e o terceiro é a população negra, que sempre está subordinada à instituição pública. O livro foi criado, então, com o objetivo de refletir sobre as práticas de ações afirmativas.
Por que os países selecionados como referências para o estudo foram o Brasil, os EUA, a África do Sul e a França?
Angela: Escolhemos esses quatro países porque eles trabalham com ações afirmativas. Os EUA, por exemplo, começaram com a política de implantação dessas medidas há três décadas. A África do Sul tem uma situação semelhante à nossa, pois lá existe um grave problema de desigualdade racial. Depois da democratização de 1994, surgiu a necessidade de pensar políticas de inclusão para a população negra africana. A França também está pensando essa questão, só que como “discriminação positiva”. Eles têm um problema novo, que é a imigração, e estão pensando em como oferecer o mesmo nível de escola para os imigrantes árabes, por exemplo. E o nosso país foi escolhido porque aqui essa discussão é de extrema relevância para resolução dos problemas sociais.
A cota nos concursos públicos é um modo eficaz de combater a desigualdade social?
Angela: Essa questão do concurso é complicada, pois nesse caso existe a meritocracia. Ou seja, passa quem tem uma pontuação maior. Entretanto, há um impasse, porque se você dá uma ação afirmativa na universidade, teoricamente o negro não precisa de uma ação afirmativa no mercado de trabalho. Mas acho que, no momento, isso é necessário, porque ainda temos um mercado de trabalho racista. Nesse sentido, acredito que cada instituição deveria responder à questão e se posicionar a respeito do assunto na hora de selecionar seus funcionários.
Qual é o maior desafio enfrentado pelo sistema de cotas?
Angela: Manter o aluno na universidade. Há problemas que impedem isso, como a ausência de recursos para permanecer no ambiente acadêmico. Cursos também precisam ser oferecidos, pois estamos lidando com alunos que têm capital cultural em desvantagem em relação a uma classe média que já tem acesso a vários elementos da educação desde cedo. O aluno é bom e tem um nível parecido com os demais estudantes, isso está confirmado em pesquisas. Entretanto, muitos desistem. Isso envolve uma série de variáveis, que vai desde a falta de adaptação até impossibilidade de conciliar emprego com as salas de aula – é importante lembrar que é significativo o número de alunos de baixa renda que precisa sustentar a família. Portanto, aí consiste a maior dificuldade no trabalho das medidas de inclusão social.