‘A prevenção é a melhor solução para o câncer de mama’
21 de outubro de 2024 as 06:30
Professor Carlos Ricardo Chagas, Coordenador da Mastologia da PUC-Rio (Foto: Arquivo)
No início deste Outubro Rosa, o Ministério da Saúde lançou a campanha “Mulher: seu corpo, sua vida”, com o objetivo de conscientizar sobre a importância da saúde feminina e promover a prevenção do câncer de mama. Na ocasião, foram divulgados novos dados sobre a doença, que segue sendo o tipo de câncer mais comum entre as mulheres, depois do câncer de pele, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA). As projeções para o Brasil em 2024 indicam 73,6 mil novos casos de câncer de mama, o que corresponde a um risco de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres. A doença é considerada rara antes dos 35 anos, porém, após essa faixa etária, a incidência aumenta progressivamente, especialmente entre mulheres acima de 50 anos. Com o objetivo de conscientizar a comunidade PUC sobre o assunto, o PUC Urgente conversou com o Coordenador do curso de pós-graduação em Mastologia da PUC-Rio, professor Carlos Ricardo Chagas.
Quais fatores biológicos, ambientais e comportamentais contribuem para o aumento significativo da incidência de câncer de mama em mulheres com mais de 50 anos?
Carlos Ricardo Chagas: A prevenção é a melhor solução para o câncer de mama. Seus principais fatores de risco podem ser divididos em dois grandes grupos: os riscos inevitáveis e os evitáveis. Entre os inevitáveis, estão ser do sexo feminino, ter mais de 55 anos, alterações genéticas, ter mamas densas, menarca precoce e menopausa tardia. Já entre os riscos evitáveis, destacamos: não ter filhos, não amamentar, obesidade, consumo de álcool, fumo, consumo excessivo de gordura animal e fazer reposição hormonal.
Por que o câncer de mama é raro antes dos 35 anos? Como as mudanças hormonais e outros fatores relacionados ao envelhecimento influenciam o risco após essa idade?
Carlos Ricardo Chagas: O crescimento do câncer de mama tem velocidade variável. Desde que surge a primeira célula neoplásica, pode demorar até oito anos para o tumor medir 1 cm (quando poderá ser palpável). Os tumores de jovens costumam crescer mais rapidamente e surgem mais cedo. Vale lembrar que um tumor de 1 cm costuma ter até um bilhão de células. Assim, os que crescem mais lentamente tendem a ocorrer menos em jovens. Os tumores que têm mutação genética e são hereditários são mais frequentes em pacientes com menos de 50 anos – principalmente, porque são necessárias duas mutações e, no câncer hereditário, o indivíduo já nasce com uma mutação. E quando não são tumores hereditários, as mutações se realizam depois do nascimento. Por isso, os hereditários acontecem mais em pessoas jovens.
De que maneira hábitos saudáveis, como alimentação balanceada, prática de exercícios físicos e controle do peso podem ajudar a prevenir casos de câncer de mama?
Carlos Ricardo Chagas: Altos níveis de atividade física diminuem o risco em aproximadamente de 20% a 40%. Os alimentos, por sua vez, podem iniciar, acelerar ou reduzir o crescimento tumoral. É importante avaliar a composição da dieta, a qualidade e a quantidade de gordura não saturada e o balanço energético. Deve-se evitar ou limitar o álcool, que aumenta o risco de câncer de mama. Mesmo em níveis baixos de consumo, é um fator que tem sido relacionado a um aumento do risco.
Diante da taxa de incidência de 66,54 casos a cada 100 mil mulheres, quais são as principais estratégias para ampliar a conscientização sobre o câncer de mama e promover o diagnóstico precoce?
Carlos Ricardo Chagas: O autoexame é fundamental para a detecção precoce, além dos exames periódicos. Quem apresenta risco médio deve fazer mamografia de rastreio anualmente a partir de 40 anos e parar o rastreio quando a expectativa de vida for menor que 10 anos. Às pessoas que apresentam alto risco, recomenda-se mamografia anual a partir de 40 anos ou 10 anos antes da idade que a parente de primeiro grau mais nova tenha tido câncer de mama (a idade mínima para início é de 30 anos). Como exames complementares, destaco a ultrassonografia e a ressonância magnética das mamas a partir de 25 anos em pacientes com parente de primeiro grau com mutação genética.