Apoiar a Extensão Universitária em cenários de vulnerabilidade
Por: Angelo Souza
17 de abril de 2023 as 06:30
Maíra Machado Martins: em 2023, incentivo aos projetos de Extensão Universitária mais abrangentes. Foto: Kathleen Chelles
O Instituto de Estudos Avançados em Humanidades (IEAHu) está com inscrições abertas para o novo edital, cujo objetivo é apoiar a Extensão Universitária em contextos de vulnerabilidade. As propostas devem ser submetidas até o dia 31 de maio e feitas por meio do sistema de requerimentos acadêmicos, disponível na página da PUC-Rio. O propósito é viabilizar projetos e ações no âmbito das Ciências Humanas e Sociais que buscam pensar, possam se desdobrar em ações possíveis ou já em curso. As propostas devem se basear na interdisciplinaridade e nas Humanidades, para se inserir no âmbito da Extensão Universitária. Coordenadora do IEAHu desde 2019, a professora Maíra Machado Martins comenta a importância de atender também a demandas que existem fora da PUC-Rio.
Em 2023, a chamada do edital do IEAHu tem como título “O apoio à Extensão Universitária em contextos de vulnerabilidade”. O que motivou a escolha desta proposta?
Maíra Martins: Esta proposta já vem sendo trabalhada desde 2020. Lançamos pela primeira vez o edital de Extensão Universitária no contexto de pandemia e íamos lançar um edital de apoio aos eventos. Mas olhamos para o que estava acontecendo em relação às respostas vindas das comunidades por causa da Covid-19. Percebemos que era importante fazer uma chamada para pesquisas e projetos que talvez estivessem olhando para essas reações nas comunidades. Lançamos o primeiro edital no contexto de vulnerabilidade no âmbito da pandemia em 2020. E conforme fomos saindo do contexto pandêmico, lançamos um edital que, na verdade, tem a cara de Extensão Universitária. Ele foi expandido para o contexto de vulnerabilidade e trabalha os projetos de Extensão Universitária de uma forma mais abrangente a partir de 2021, 2022, e, agora, 2023.
Proponentes devem ser do CTCH ou CCS, mas podem estar ligados a projetos ou organizações de fora da Universidade. O formato já foi testado anteriormente?
Maíra: O Instituto existe por conta de uma parceria importantíssima de dois centros, o CTCH, ao qual o IEAHu está ligado, e o CCS. Os dois dão apoio financeiro e político nas ações do Instituto. Temos docentes destes centros, que são especialmente contemplados no edital, mas isto não exclui a participação de docentes de outros centros, muito pelo contrário, eles são muito bem-vindos. Buscamos fomentar no Instituto a interdisciplinaridade. Existem alguns editais, inclusive, que são de grupos de pesquisa interdisciplinares, nos quais exigimos que os proponentes sejam de centros e departamentos diferentes. Outro ponto é que valorizamos os projetos que fazem parcerias com os coletivos locais onde estão sendo realizados. Isto é o que caracteriza a Extensão Universitária: a ideia é não ficar fechado dentro dos muros da Universidade, mas atender a demandas que existem fora e haja interlocução e troca de saberes com essas outras organizações, acadêmicas ou não.
O Instituto quer também financiar projetos comunitários que apoiam grupos LGBTQI+ e mulheres vítimas de violência. É possível atender a tantas áreas diversas?
Maíra: Tentamos fazer cada vez mais um edital que seja muito abrangente do ponto de vista da vulnerabilidade ou das questões territoriais que possam atingir os projetos, porque são muitos casos que podem ser contemplados. Acho que quanto mais tornamos essa discussão dos projetos diversa, mais percebemos as demandas que existem e as convergências entre eles e os grupos de pesquisa, de trabalhos que são desenvolvidos na Universidade. É possível atender a todos, e a cada vez que lançamos o edital ficamos surpresos com os novos temas que são trabalhados pelos professores. É uma grande descoberta sempre, de ver o quão diversa é a atividade de Extensão Universitária na PUC-Rio.
A interdisciplinaridade será uma questão fundamental para uma proposta ser escolhida?
Maíra: Isto não é um pré-requisito para os projetos no edital, mas percebemos que os melhores são os interdisciplinares, porque são mais abrangentes, completos, vão além. Eles têm uma capilaridade maior, uma capacidade maior de discussão e transformação, tocam em um tema e saem um pouco da área temática, de estudo e de pesquisa, para discutir com o outro. Transformam mais quando são interdisciplinares. Não é um pré-requisito, mas observamos que quanto mais conversamos fora da nossa bolha, melhor fica.
O IEAHu existe desde 2009 e já financiou inúmeras organizações, ações e práticas. Quais foram as mais bem-sucedidas?
Maíra: Para mim, um dos editais mais significativos foi o de 2020, lançado no período de pandemia, pois estávamos em uma situação completamente atípica e vimos a transformação acontecer fora da Universidade. Entendemos a dimensão que isto tinha e conseguimos formular um edital naquelas condições com recursos muito pequenos. Os professores fizeram milagres, transformaram em ações aqueles poucos recursos. Atingimos muitas comunidades que estavam na luta para enfrentar a Covid. Conseguimos ter professores engajados e que fizeram diferença nesses territórios. Foi lindo, muito corajoso da parte das lideranças dos projetos que foram contemplados. A maior parte deles, cabe dizer, composto por mulheres, muitas delas professoras do quadro complementar.