Biblioteca recebe acervo de Antonio Cicero
6 de outubro de 2025 as 06:30

Luiz Camillo Osorio e Ana Ribeiro: alcance do acervo ultrapassa a comunidade acadêmica (Foto: Ana Beatriz Magalhães / Comunicar)
Comunidade PUC-Rio terá acesso a cerca de 6,5 mil volumes do poeta e filósofo, que morreu em outubro do ano passado
“Guardar uma coisa não é escondê-la ou trancá-la”.
O verso de Antonio Cicero resume o espírito da doação de seu acervo pessoal, composto por cerca de 6,5 mil livros, à PUC-Rio. Em uma cerimônia marcada para 8 de outubro, às 10h, na Biblioteca Central, a Universidade vai receber a coleção do filósofo, poeta e letrista, que morreu há cerca de um ano. Refletindo seus interesses em filosofia, poesia e cultura, o conjunto reúne obras que acompanharam a trajetória intelectual e artística de Cícero e passará a integrar o acervo da Divisão de Bibliotecas e Documentação (DBD), tornando-se uma nova referência de pesquisa e preservação da memória cultural brasileira.
Para falar sobre a doação e o processo de incorporação do material à Universidade, o PUC Urgente conversou com a diretora da Biblioteca Central, Ana Ribeiro, e com o decano do Centro de Teologia e Ciências Humanas (CTCH) e professor do Departamento de Filosofia, Luiz Camillo Osorio.
Qual a dimensão e a composição do acervo de Antonio Cicero que será incorporado à Biblioteca?
Ana Ribeiro: O acervo é composto de aproximadamente 6,5 mil volumes, sendo cerca de 4 mil sobre filosofia e 2,2 mil sobre poesia. Trata-se da biblioteca particular de Antonio Cicero, construída ao longo de sua trajetória. Nesses livros vemos refletido o direcionamento de seus interesses e o rigor de sua pesquisa, bem como a relevância das leituras e referências que fundamentaram sua produção autoral. A incorporação do acervo confere à Divisão de Bibliotecas e Documentação (DBD) da PUC-Rio um patrimônio de referência nacional, ao mesmo tempo especializado e plural, que fortalece de forma singular as coleções da Universidade.
Como foi o processo de doação para que o acervo passasse à Biblioteca?
Luiz Camillo Osorio: O Marcelo Pies, herdeiro do Antonio Cicero, procurou o Professor Pedro Duarte, meu colega no Departamento de Filosofia, pois era desejo deles que o acervo viesse para a PUC-Rio. Como eu estava assumindo o decanato do CTCH e também era amigo do Cicero, fomos juntos procurar a Divisão de Bibliotecas e a Reitoria. Ambas acolheram a ideia e, a partir daí, começou o processo de efetivar a doação.
De que forma a PUC-Rio pretende disponibilizar esse material para estudantes, pesquisadores e o público em geral?
Ana Ribeiro: Os livros ficarão disponíveis em estantes de livre acesso no 2º andar da Biblioteca Central, que conterá uma placa identificando a Coleção Antonio Cicero. Todos os títulos serão integrados ao catálogo on-line, acessível tanto nos terminais da própria Biblioteca quanto pelo site da DBD. O tratamento técnico adequado e a disponibilização da coleção em tempo mais ágil só serão viabilizados em razão do apoio da Prefeitura do Rio de Janeiro, por meio da Secretaria Municipal de Cultura, que fará a contratação de uma empresa especializada.
O público externo poderá fazer consulta local a todos os volumes. O empréstimo dos livros é direcionado à Comunidade PUC-Rio. A DBD, no entanto, faz parte de um serviço que possibilita Empréstimo Entre Bibliotecas (EEB), permitindo que universidades parceiras com bibliotecas cadastradas em nosso sistema, também tenham acesso à coleção. Cada biblioteca conveniada poderá solicitar o empréstimo de até três títulos por vez, ampliando o alcance do acervo para além da nossa comunidade acadêmica.
Há planos de organizar exposições, eventos ou atividades acadêmicas a partir do acervo?
Luiz Camillo Osorio: O principal é que possamos incorporar este acervo ao conjunto de doações importantes da Biblioteca da PUC-Rio, tentando trazer intelectuais ligados ao contexto carioca para perto da Universidade. Antonio Cicero e Leandro Konder são dois exemplos notáveis. A partir disso, seria importante pensarmos em organizar encontros e seminários para discutir o legado do Cicero, não só como poeta e filósofo, mas como um nome determinante da produção cultural brasileira contemporânea, com letras e parcerias musicais emblemáticas.
Que importância esse acervo tem para a preservação da memória cultural e intelectual brasileira e como reforça o papel da PUC-Rio nesse campo?
Ana Ribeiro: Este acervo representa não apenas a biblioteca de um filósofo, poeta e letrista fundamental na cultura brasileira, mas também um registro vivo de sua formação e de suas conexões intelectuais. Ao receber e preservar essa coleção, a PUC-Rio reafirma seu compromisso com a memória cultural e intelectual do país. Para a Universidade, trata-se de um gesto que amplia seu papel como guardiã de acervos significativos e como instituição aberta ao diálogo entre saberes, reforçando sua missão de promover a pesquisa, a cultura e a cidadania acadêmica.
Luiz Camillo Osório: Acolher a biblioteca do Cícero é apostar no papel criativo da leitura e dos livros. A biblioteca de um poeta é o lugar de germinação de ideias que podem se materializar como conceito filosófico, como poesia ou como letra de música. É papel da universidade, e a PUC-Rio sempre teve esta missão, inserir-se no ecossistema cultural da cidade e do país. Isso vem se fortalecendo ultimamente. O Corredor Cultural da PUC-Rio, que terá sua segunda edição em novembro deste ano, incorporou como um dos seus eixos temáticos o território dos livros, trazendo a biblioteca, este espaço de reflexão e produção de ideias, para o centro do debate. As bibliotecas são um oásis no meio do ambiente acelerado da vida contemporânea.