“Brasil e China têm a oportunidade de liderar um novo capítulo da inovação global” Encontro “China-Rio: Pontes para Inovação” soma-se aos esforços contínuos da PUC-Rio para estreitar laços científicos e tecnológicos entre os dois países
8 de julho de 2025 as 06:30

Nasser: “Rio de Janeiro está no centro da agenda Brasil-China, como um hub de conexão e diálogo entre os dois países”
Em um cenário global marcado por desafios como a transição energética, a transformação digital e a busca por inovação sustentável, a PUC-Rio promove o evento “China-Rio: Pontes para Inovação”, com a participação de especialistas, autoridades, empresas e instituições do Brasil e da China.
Muito além de uma iniciativa pontual, o evento reforça a cooperação entre os dois países em áreas estratégicas e é fruto de um esforço coletivo que envolve diversas unidades da Universidade – como o Instituto ECOA, a Coordenação Central de Parcerias e Inovação, o Instituto Confucius, professores e setores administrativos – todos atuando em conjunto para promover um diálogo qualificado e resultados frutíferos.
A proposta é fortalecer a articulação entre ciência, tecnologia e desenvolvimento sustentável, dando continuidade aos laços estabelecidos em janeiro, quando uma comitiva da PUC-Rio, liderada pelo Reitor Pe. Anderson Antonio Pedroso, S.J., visitou a China. Na ocasião, foram assinados memorandos de entendimento com instituições como BJAST, CPET-CNPC e CUPB, e foram abertas frentes de colaboração com universidades e empresas chinesas.
O diretor do Instituto ECOA, professor Rafael Nasser, que integrou a comitiva, é um dos organizadores do encontro. Em entrevista ao PUC Urgente, ele destacou que o evento se insere em uma agenda institucional ampla e consistente, voltada à construção de parcerias duradouras entre Brasil e China – com foco em inovação, sustentabilidade e impacto social.
Qual a importância de discutir, e expandir, as relações entre Brasil e China no contexto atual de inovação e transição energética?
Discutir as relações entre Brasil e China hoje é falar sobre o futuro – especialmente quando os temas são inovação, transformação digital e transição energética. A China desponta como uma fonte relevante de tecnologias de energia limpa e digital, enquanto o Brasil, com sua matriz majoritariamente renovável e uma capacidade científica robusta, consolida-se como parceiro estratégico. É nesse ponto que a inovação se estabelece como ponte entre os dois países.
Os esforços crescentes de descarbonização e digitalização na indústria de óleo e gás – e em setores industriais tradicionais – aproximam empresas e centros de pesquisa brasileiros e chineses. Além disso, observa-se um movimento consistente de cooperação tecnológica em áreas como inteligência artificial, robótica industrial, computação de alto desempenho e materiais críticos – todos vetores decisivos para a chamada neoindustrialização.
Ao unir capacidades tecnológicas e estratégias complementares, Brasil e China têm a oportunidade de liderar, juntos, um novo capítulo da inovação global com base na sustentabilidade e na transformação digital.
Como o encontro “China-Rio: Pontes para Inovação” pretende contribuir para o fortalecimento da colaboração científica e tecnológica entre os dois países?
A iniciativa representa um esforço contínuo da PUC-Rio para estreitar os laços entre Brasil e China no campo da ciência, tecnologia e inovação. Não é um evento isolado, a iniciativa se insere em um conjunto mais amplo de ações que vêm sendo promovidas – cursos de mandarim, alunos chineses, eventos culturais, missões institucionais, reuniões bilaterais, encontros técnicos e acadêmicos – sempre com o objetivo de fomentar o diálogo, aproximar atores estratégicos e construir pontes de cooperação duradouras.
A proposta é criar um ambiente de escuta e reconhecimento mútuo. Conhecer o outro, compreender suas prioridades e desafios, identificar sinergias possíveis – tudo isso é parte essencial de qualquer relação internacional pautada pela confiança e pelo propósito comum.
Ao articular universidades, centros de pesquisa, empresas e representantes de governo dos dois países, a PUC-Rio busca posicionar-se como facilitadora de conexões que possam gerar frutos concretos: projetos conjuntos, inovação aplicada e desenvolvimento de soluções em áreas críticas como transição energética, inteligência artificial, digitalização e sustentabilidade.
Num momento em que o mundo exige colaboração, construir essas pontes é investir em um futuro mais compartilhado, mais inovador e mais resiliente.
Quais os principais temas que serão abordados nas palestras e debates da programação?
A programação foi estruturada para tratar de temas estratégicos da cooperação científica e tecnológica entre os dois países. Entre eles, destacam-se a transição energética, a descarbonização, a transformação digital, a inteligência artificial e a inovação voltada à indústria. Esses são também campos nos quais a PUC-Rio tem atuação consolidada, sendo reconhecida por sua liderança nacional, em parcerias com o setor produtivo, e pela forte presença em redes internacionais de pesquisa.
Receberemos autoridades do governo, como Luis Manuel Rebelo Fernandes, secretário-executivo do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI); lideranças do setor industrial, como Maria Assunção Dória, gerente executiva da Petrobras; Hu Xuefeng, vice-diretor geral da CNOOC ; Sidney Levy, presidente da Invest.Rio; Julio Leite, gerente geral de Inovação Tecnológica da Petrobras; e Mariana França, superintendente adjunta da ANP. Estarão presentes também expoentes da relação Brasil-China, como Wang Xiaogang, CTO da State Grid Brazil; e Vinicius de França Machado, gerente de P&D do Consórcio de Libra. Participam ainda especialistas como Luana Miranda, do BBM BOCOM; Luiz Augusto Castro Neves, presidente do CEBC; e o diplomata Marcos Caramuru, do CEBRI.
Essa diversidade institucional garante uma abordagem ampla e qualificada, capaz de integrar visões complementares e promover avanços concretos na agenda de inovação entre Brasil e China.
Qual o papel do Instituto ECOA na organização desse encontro?
O Instituto ECOA é uma unidade multidisciplinar de pesquisa, desenvolvimento e inovação da PUC-Rio, com foco em transformação digital por meio de tecnologias emergentes como inteligência artificial, internet das coisas, blockchain, entre outras. Desde 2017, o ECOA promove eventos e iniciativas que fomentam a inovação aberta, ecoando esse conhecimento de forma ampla, plural e conectada ao mundo digital.
Em 2019, realizamos um encontro Brasil-China cujo conteúdo permanece atual e relevante. Agora, chegou o momento de trazer o Rio de Janeiro para o centro dessa agenda, como hub de conexão e diálogo entre os dois países.
Em parceria com a Coordenação Central de Parcerias e Inovação da PUC-Rio e com o Instituto Confucius PUC-Rio, patrocínio da Invest.Rio e apoio do Consulado da China no Rio de Janeiro e do Centro Empresarial Brasil China (CEBC), tornamos esta nova edição possível — e extremamente relevante para o fortalecimento da cooperação científica, tecnológica e institucional. Assim, cumprimos o papel da Universidade de promover o encontro entre ciência, tecnologia e os grandes desafios da sociedade, criando espaços de diálogo qualificado e conexões com potencial real de impacto positivo.
Podemos dizer que a parceria Brasil-China é estratégica institucionalmente?
Sim. Este evento é parte de uma estratégia institucional da PUC-Rio voltada a fortalecer as parcerias estratégicas internacionais da Universidade, em especial com a China.
Neste sentido gostaria de destacar, reconhecer e parabenizar os esforços do Instituto Confucius, que vem promovendo cursos de mandarim e diversas atividades culturais de grande relevância; da CCCI, pela articulação de acordos acadêmicos com renomadas universidades chinesas; e do BRICS Policy Center, que, como think tank da PUC-Rio, lidera importantes debates e iniciativas no campo da cooperação internacional, tendo a China como uma de suas prioridades.
Ressalto ainda a atuação dos coordenadores de projetos com empresas chinesas e dos departamentos acadêmicos, em especial o Instituto de Relações Internacionais (IRI), bem como o engajamento de professores que têm contribuído ativamente para o fortalecimento das relações sino-brasileiras.
Esses esforços já se traduzem em resultados concretos para nossos alunos, docentes e para a consolidação de parcerias institucionais de alto impacto.
Pensando no futuro, que novas parcerias com a China apontam no horizonte?
Na verdade, estamos pensando no presente — e trabalhando intensamente nele. Projetos de pesquisa e desenvolvimento em parceria já estão em andamento. Um exemplo é nossa atuação junto ao consórcio de Libra, do qual CNPC e CNOOC são integrantes. Novas iniciativas também estão em negociação, especialmente nos setores industrial e energético. O que temos observado é o surgimento de parcerias cada vez mais duradouras e promissoras, fundamentadas em interesses comuns, complementaridade técnica e afinidade institucional.
Estamos nos preparando para receber, no Brasil, diversas delegações chinesas interessadas em estreitar laços com instituições nacionais e explorar novas oportunidades de cooperação.
A confiança mútua entre Brasil e China vem se fortalecendo dia após dia, criando as bases para uma agenda de colaboração sólida, estratégica e orientada para o futuro.