Entrevista

Caminhos e descaminhos da liberdade

Por: João Lustosa

Caminhos e descaminhos da liberdade

Padre Waldecir Gonzaga e Mônica Campos: ‘formar opinião é mais fácil que formar consciência’. Foto: KATHLEEN CHELLES

A XIV Semana da Cultura Religiosa será realizada entre os dias 25 e 29 de setembro, das 7h às 19h. Organizado pelo Setor de Cultura Religiosa (CRE) do Departamento de Teologia, o encontro terá como tema “Liberdade: caminhos e desencontros”. As atividades ocorrerão em formato híbrido: presencialmente no Auditório do IAG e também on-line no canal “Teologia a Distância”, no YouTube, e pelo Zoom. No dia 29, os debates serão na sala 776-L. A CRE vai promover palestras para refletir sobre a construção histórica do ‘ser livre’, temas correlatos e desdobramentos. O diretor do Departamento de Teologia, Padre Waldecir Gonzaga, e a supervisora da CRE, professora Mônica Campos, explicam a importância de refletir sobre a liberdade, tanto no âmbito religioso quanto na sociedade em geral.

Como a Cultura Religiosa pode ajudar os jovens que estão mergulhados nas mídias sociais, sem conseguir momentos para reflexão?
Padre Waldecir Gonzaga:
A Cultura Religiosa pode ajudar a partir da missão dela, que é apresentar e debater os temas atuais. A missão da CRE é, a partir dos temas e da ética cristã, sentar, conversar e refletir. Os assuntos escolhidos são temas humanos, que também têm muita importância para o Cristianismo. Em relação às redes sociais, muitas vezes, há informações sendo jogadas lá, sem que haja um momento para reflexão, pois formar opinião é mais fácil que formar consciência.
Mônica Campos: O diálogo e o serviço ajudam na criação de um país mais justo e mais equânime para, assim, poder desenvolver uma civilização. Durante a semana, por conta do modelo híbrido, haverá uma interconexão e uma tentativa de abranger estes jovens.

Qual é a importância de cultivar amizades, enriquecendo-se com as diferenças do outro?
Padre Waldecir:
Há documentos muito importantes escritos pelo Papa Francisco recentemente, que abordam a preocupação com o ser humano. A encíclica Fratelli Tutti diz que todos somos irmãos. No texto, ele nos convida a deixar de olhar o outro apenas através de suas dimensões sócio-econômicas. Ou melhor, como um rival, com quem disputamos as coisas e espaços. Devemos olhar para o outro a partir da ótica da fraternidade. O valor da amizade é incalculável, e é preciso que olhemos os outros a partir de uma visão fraterna, e isso muda o relacionamento em todos os sentidos. A amizade abre espaços e campos, e a Cultura Religiosa é um espaço para se criar amizades que se perpetuam pelo resto da vida.
Mônica: A amizade é aquilo que fundamenta, amigo é alguém com quem você pode se abrir. As amizades te tiram da solidão, e essas construções são essenciais para nos sentirmos humanos e criarmos laços. Ter um amigo é se sentir confortável na presença do outro. Por meio das aulas de Cultura Religiosa, o aluno pode sair de sua bolha e ter contato com opiniões que são diferentes, mas que se complementam.

Como foram escolhidos os convidados e temas de cada mesa da Semana?
Padre Waldecir:
Nos últimos anos, os temas da Semana da CRE foram inspirados nos documentos escritos pelo Papa Francisco, por isto, desde 2020, nos pautamos pelo texto da encíclica Fratelli tutti. Por meio do diálogo entre diretor, coordenador e professores. Em seguida, são feitas pequenas alterações de forma bastante democrática, com a participação de todos. As escolhas das mesas e dos convidados são realizadas a partir da temática de cada dia. O formato híbrido facilita a escolha do palestrante, pois ele pode estar em qualquer lugar, seja no Brasil ou fora do país. Depende muito da temática que seja mais urgente nesse momento. Em um assunto como a liberdade, há muitos caminhos, sempre procuramos fomentar pesquisas a partir do tema para contribuir com a humanidade.
Mônica: Nos dias de abertura e encerramento, nós teremos as sessões chamadas de “Liberta-Ação”, com convidados para discutir determinados assuntos. Há temas sobre os presidiários, a arte, sobre consciência crítica e educação libertadora. Foram escolhidos tópicos que têm relação com liberdade e libertação, e que podem gerar alguma ação. Os temas foram escolhidos com base no que consideramos importante, além de dialogar com as questões presentes na sociedade.

Qual a importância de refletir sobre a liberdade no contexto atual e os possíveis temas correlatos e desdobramentos?
Padre Waldecir:
É um dos grandes temas da atualidade, mas ele é muito amplo. Alguns tipos de liberdade já estão presentes no cotidiano, outros precisam ser conquistados. Vai desde a questão pessoal até a família, da liberdade no emprego, no país e no mundo com a questão migratória. A liberdade é capaz de dar asas, assim como indica o lema da Universidade, que diz que “com asas é possível voar”. A liberdade não oprime e também não pode ser oprimida, para não deixar a pessoa acuada. A pessoa que realmente é livre, vai querer o bem do outro e ajudar o próximo. Por isso estamos apostando no potencial deste tema para ajudar a sociedade ser melhor, no encontro entre academia e cotidiano, produzindo reflexões e frutos para o bem comum.
Mônica: A liberdade econômica é fundamental para todos. A mulher só conseguiu ter mais liberdade depois que ela conquistou autonomia econômica. Sem liberdade não podemos ter ética. A liberdade é dada para nós, mas também é possível construí-la. Ser livre ou autônomo requer que a pessoa assuma responsabilidade pela vida e também por seus erros