Entrevistas

Carioca da Perfeição

Carioca da Perfeição

O documentário Castro Maya: Carioca da Perfeição será lançado na quarta- -feira, 21, às 14h30, na sala 102-K. Dirigido pelo cineasta e professor Silvio Tendler, do Departamento de Comunicação Social, o filme foi realizado a partir da pesquisa de pós-doutorado da professora Tatiana Siciliano, também do Departamento de Comunicação Social, sobre o colecionador de arte Raymundo Ottoni de Castro Maya. O filme será exibido durante o colóquio Lugares e Memórias da Missão Francesa: Solar Grandjean de Montigny e os Debrets de Castro Maya, que faz parte das comemorações dos 200 anos da Missão Artística Francesa no Brasil. Silvio Tendler e Tatiana Siciliano falam sobre o documentário e explicam a importância de conhecer a figura pública de Castro Maya.

 Qual a importância da figura de Castro Maya para o Rio de Janeiro?
 Silvio Tendler: Castro Maya é um visionário. Ele ajudou a recompor a Floresta da Tijuca e salvou o bairro da Glória, impedindo que fossem construídos edifícios onde agora existe a Praça Paris. Ele é o mecenas do Rio de Janeiro. No filme, nós ressaltamos a importância de ele ter ido à França negociar, comprar e trazer o acervo do pintor Debret para o Brasil. Assim como o pai, Castro Maya criou uma sociedade de bibliógrafos e comprou exemplares de pintores e ilustradores brasileiros, como Di Cavalcanti, Antônio Bandeira e Portinari. Ele era uma pessoa preocupada com a cidade e com a cultura e fez isso sem nunca abrir mão da qualidade de vida, apesar de ser um industrial muito rico.

Tatiana Siciliano: Ele nasceu na França e morreu no Brasil, tem vários quadros modernistas e uma biblioteca com livros raros. Era uma tradição da família ler muito, e ele se sentia na obrigação de disseminar e distribuir a arte por ter condições econômicas, culturais e relacionais para isso. Entre 1930 e 1940, no meio de toda a tensão da Segunda Guerra Mundial, ele traz o Debret, em um momento em que o Brasil estava preocupado com a discussão da identidade nacional.

Qual é o objetivo do filme?

Tendler: O objetivo do filme é fazer as pessoas conhecerem um personagem fundamental para a comunidade PUC, apesar de ser inteiramente desconhecido por nós. O espectador vai conhecer diversos períodos do Rio de Janeiro e o comportamento de um homem da elite brasileira, além de obras de arte importantes que existiram a partir dele. Vamos encontrar nomes de brasileiros que ajudaram a construir o Rio.

Houve alguma dificuldade para fazer o documentário?

Tatiana:
 Na pesquisa em si, a principal dificuldade era o acervo. Primeiro, o Museu Castro Maya foi uma instituição privada, depois tornou-se pública. Com a mudança de gestão, um monte dessa papelada pode ter se perdido. Nós preenchemos essa lacuna com entrevistas de pessoas que trabalharam ou que conheciam outras pessoas que conviveram com Castro Maya, a partir do momento que era alguém que nasceu ainda no século XIX e morreu em 1968.

Qual a importância de um filme como esse?

Tendler: A importância do filme é induzir os mecenas a investirem em arte e cultura. Isso é uma coisa muito importante na cultura de um país. Mecenato não é obrigatoriamente atividade exclusiva do estado. Hoje existe uma dependência do mecenato que parte do Estado e as pessoas só investem recursos porque o Estado abre mão de receber em impostos para que as pessoas invistam uma parte de seus lucros em cultura. Castro Maya não tinha isso, ele tirava dinheiro do próprio bolso e investia em cultura. Isso que ele fez aqui entre nós deve ser louvado, incentivado e divulgado.

Tatiana: Concordo em destacar uma personalidade e um modo de viver de uma elite que pode servir de inspiração contemporânea. A principal memória iconográfica do Rio de Janeiro do período Joanino é de Debret, e ele deixa o legado de Debret. A capela Mayrink, na Floresta da Tijuca, foi ele quem fez, e o Museu de Arte Moderna foi uma criação dele junto com o Rockefeller. Ele tem uma importância significativa para a cidade do Rio de Janeiro. É imprescindível ter um produto cultural em que não é preciso ser pobre ou totalmente despojado para ser fazer alguma coisa para o bem comum.

Quais foram as características mais surpreendentes da vida dele?

Tendler:
 O que mais guardo dele é o investimento generoso em arte, a qualidade de vida e o bom gosto. Ele não compra uma obra porque pensa no valor que ela vai ter daqui a alguns anos. Ele olha para a arte como um objeto de prazer, não como um investimento. Ele investe na arte porque gosta dela e para ficar disponível a todo público que queira ver. Todo mundo que quiser curtir Portinari, Di Cavalcanti, Antonio Bandeira e Debret é só ir na Chácara do Céu para conhecer.

► PROGRAMAÇÃO – Sala 102-K

9h30 – Abertura (Professora Angeluccia Habert)
10h – Mesa 1: As Memórias do Solar de Montigny (Diretora do Solar Grandjean de Montigny, professora Piedade Grinberg)

Palestras:
– Grandjean de Montigny e Debret: As Arquiteturas de Festa (professora Maria Pace Chiavari, doutora em Arquitetura,)
– Solar Grandjean de Montigny – moradia, centro cultural e museu universitário da PUC-Rio (professora Piedade Grinberg)
14h30 às 18h – Mesa 2: Memórias de Debret a partir da coleção de Castro Maya – Lançamento do filme Castro Maya: Carioca da Perfeição

Debates: – Debret Colecionador de imagens da cidade (Jacques Leenhardt, diretor da École des Hautes Études em Sciences Sociales, Paris) – Coleção Debret e construção da memória iconográfica do Rio de Janeiro (Vera Alencar, diretora dos Museus Castro Maya – IBRAM)