Entrevista

Cidadãos bem informados

Cidadãos bem informados

Em época de eleições, uma ferramenta criada pelo Grupo de Pesquisa em Comunicação, Internet e Política da PUC-Rio (COMP) pretende ajudar os cidadãos na escolha de um representante. No site O Que Fez Seu Deputado (www.oquefezseudeputado.com.br), os 46 deputados federais do Rio de Janeiro, que tomaram posse em fevereiro de 2011, são analisados conforme a votação nas leis mais importantes, a assiduidade, as leis propostas e os discursos proferidos no Congresso Nacional. O professor Arthur Ituassu, do Departamento de Comunicação Social, que coordena o grupo de pesquisa, formado por mestrandos, doutorandos e graduandos PIBIC (Programa Institucional de Bolsa de Iniciação Científica), explica como é o projeto.

Como surgiu a ideia do projeto?

 Arthur Ituassu: É um projeto coletivo do grupo de pesquisa, que tem uma proposta de pesquisa na área de democracia digital, um super ramo da área de comunicação e política. Analisamos iniciativas que estão sendo colocadas no ambiente on-line que possam contribuir para o incremento do regime democrático brasileiro. Não à toa, estamos ligados ao Centro Avançado de Estudos em Democracia Digital, que fica em Salvador. Achamos que seria interessante a ideia de tentar produzir uma contribuição para o cidadão brasileiro no contexto das eleições. A partir disso, concebemos o www.oquefezseudeputado. com.br.

Qual o objetivo do site?

Ituassu: Basicamente, é um projeto de organização de informações. Essas informações estão muito dispersas, estão disponíveis para os cidadãos na internet, são tiradas do site do Congresso Nacional e das páginas pessoais dos deputados. Um dos grandes ganhos do projeto é o tratamento, a organização e a tradução dessas informações. Foi esse o nosso objetivo, tentar tornar mais acessível para o cidadão o que os deputados fizeram. É, em um sentido, uma maneira de a Universidade dar uma contribuição para a sociedade, para o regime democrático brasileiro e para o contexto eleitoral.

Como foi organizado o conteúdo?

Ituassu: A primeira coisa que estabelecemos é trabalhar apenas com os deputados que tomaram posse. São os 46 nomes que têm efetivamente mais visibilidade. Os suplentes não têm tanta visibilidade assim, e não existe tanta transparência sobre o que eles fazem. Cerca de 26% dos que tomaram posse foram substituídos por suplentes, é bastante coisa. É um problema para o próprio regime democrático brasileiro. Nessa experiência, também conseguimos perceber vários problemas de falta de transparência sobre a atuação dos nossos políticos. Não conseguimos as informações de como cada um votou em votações como a do Mais Médicos e da Lei Geral da Copa. Procuramos o Congresso Nacional e descobrimos que foram votações simbólicas, e nelas não há registro nominal de como votou cada um dos deputados. Mas isso não está no site do Congresso no que diz respeito à lei aprovada.

Como foram escolhidas as votações mais importantes?

Ituassu: Isso foi um problema. Inicialmente, escolhemos uma série de votações que queríamos dar mais destaque, que tiveram mais visibilidade ao longo dessa legislatura. Num segundo momento, percebemos que precisávamos reduzir essa lista, porque havia muita informação, o que dificultaria a própria acessibilidade do cidadão. Depois, tivemos problemas com duas discussões bastante polêmicas, a MP do Mais Médicos e a Lei Geral da Copa. Nós investimos muito tempo nelas, e no final tivemos que retirá-las quando descobrimos que eram votações simbólicas. Perdemos um pouquinho de conteúdo, é algo que tem que ser aprimorado. O projeto se inicia neste momento e pode se expandir para os outros deputados, não só do Rio. Como nós registramos o endereço oquefezseudeputado.com.br, também registramos oquefezseuvereador.com.br, oquefezseusenadorcom.br, oquefezseudeputadoestadual.com.br. Não vamos fazer isso tudo de uma hora para outra, mas pensamos no projeto a longo prazo. É algo em desenvolvimento, uma semente de contribuição que tentamos dar para o contexto eleitoral brasileiro contemporâneo.