Corredor Cultural: um território de convivência, arte e impacto social Apoio à iniciativa, que pode ser feito de diversas formas, conta com recompensas e busca maior participação da comunidade
1 de setembro de 2025 as 06:30

O diretor do Departamento de Artes e Design, Nilton Gamba Junior, está à frente do Corredor Cultural
Por Beatriz Sousa*
O Corredor Cultural da PUC-Rio não é apenas um espaço de arte e convivência: é um projeto que costura territórios, fortalece laços comunitários e impulsiona trajetórias artísticas. Coordenado pelo professor e pesquisador Nilton Gamba Junior, diretor do Departamento de Artes e Design, o evento chega à sua segunda edição em novembro de 2025 com o propósito de democratizar o acesso à cultura e renovar as relações entre universidade, artistas e comunidades do entorno.
É possível apoiar a iniciativa, que conta com uma campanha de financiamento coletivo e opções de patrocínio. Mais do que investir em cultura, apoiar o Corredor é contribuir para um impacto social duradouro, que vai da preservação da memória de artistas à abertura de caminhos profissionais – como é o caso do fotógrafo da Rocinha Renato Errejota, que ganhou visibilidade nacional a partir de sua primeira exposição no campus da PUC-Rio.
Com curadoria voltada ao tema “territórios”, a edição deste ano reafirma a vocação do projeto como um espaço vivo de encontro, inovação e transformação.
“Queremos ampliar a participação da comunidade”, afirmou Gamba, que, em conversa com o PUC Urgente, destacou a importância da convivência em espaços abertos e públicos.
A página do Corredor Cultural reúne mais informações, inclusive sobre formas de apoiar esse circuito de experiências culturais, científicas e criativas. É só acessar https://benfeitoria.com/projeto/corredorcultural2025.
*Sob supervisão das editoras
Por que apoiar o Corredor Cultural é contribuição que gera impacto social?
No primeiro núcleo de objetivos, pensamos o apoio ao Corredor Cultural como uma rede colaborativa e comunitária, em que todos possam se sentir parte do processo. Tivemos uma resposta muito positiva na primeira edição e, para a segunda, queremos ampliar essa participação da comunidade. Há um valor simbólico importante nesse engajamento: as pessoas que contribuírem para a benfeitoria poderão receber suvenires, catálogos, algo que reforce a participação no evento. Em um segundo momento, o apoio também se traduz em investimento direto no financiamento de artistas participantes do Corredor, que são de comunidades do entorno, como a Rocinha. Isso reforça o caráter comunitário da ação.
De maneira mais ampla, o Corredor Cultural vem sendo pensado como um espaço de democratização do acesso à cultura. Não apenas uma forma de subvencionar artistas, mas de aproximar o público da arte de forma orgânica, aberta e acessível. Por isso, priorizamos a realização em espaços abertos e de circulação, para aqueles que não estão habituados ou não se sentem confortáveis em outros tipos de ambientes dentro do campus, nas galerias de arte e nos centros culturais possam ter contato com a arte e a cultura de uma maneira mais democrática.
Quais as recompensas especiais para aqueles que apoiam o evento?
As recompensas seguem dois caminhos principais. O primeiro é o convite à participação maior dentro do Corredor, por exemplo, através do financiamento da alimentação nas barracas de comida regional. Dessa forma, a pessoa vem e participa experimentando a rede gastronômica que estará presente no evento. O segundo caminho é o da memória. Uma das recompensas é o catálogo da edição do ano passado, que reúne depoimentos, entrevistas e registros das exposições realizadas, funcionando como uma lembrança e documentação da última edição.
Quais são as expectativas para o Corredor Cultural deste ano? O que o público pode esperar de diferente, de inovador?
Pretendemos manter um dos eixos centrais do Corredor, que é a convivência em espaços abertos e públicos. Outro pilar importante é ampliar o acesso das comunidades do entorno à Universidade. E, pela primeira vez, vamos trabalhar com um eixo temático: os territórios. O ponto de partida são os 70 anos do campus da PUC-Rio, que é justamente a base da estruturação do Corredor Cultural.
O tema busca refletir sobre a ideia de territorialidade, abrangendo territórios da África, da América Latina e das favelas. Assim, toda a curadoria do evento e dos subgrupos temáticos estarão conectados com essa perspectiva: como olhamos para o espaço que circulamos; o local onde moramos, os ambientes urbanos, comerciais ou acadêmicos, como é o campus da Universidade. Como inovação, também pretendemos renovar as parcerias. O Corredor é pensado como uma continuidade de antigos parceiros, renovando com novos parceiros, novas possibilidades de mostras, exposições e formatos de participação.
O evento busca integrar a Universidade com as comunidades do entorno. Como essa troca pode ser efetiva e transformadora?
No âmbito da cultura, as ações e as intervenções não têm garantias matemáticas e mecânicas. Elas partem de estudos e planejamento, mas o mais importante é o acompanhamento processual, para avaliar quais resultados são alcançados e quais relações são construídas. Essas ações vão desde aspectos operacionais, tais quais viabilizar o transporte da Rocinha até a PUC em dias de eventos relacionados à comunidade, como a batalha de rap ou a exposição de filmes da Academia de Cinema da Rocinha, até o convite de escolas da rede pública do entorno. Além disso, contamos com a parceria de instituições de artes e coletivos, que colaboram não só com as exposições, mas também na divulgação para seus públicos, ampliando o alcance e a presença no espaço da universidade.
Quais resultados sociais ou culturais são esperados com a edição deste ano?
Em todas as edições do Corredor temos buscado ampliar a relação da Universidade com os setores produtores de cultura, explorando as diferentes formas de como a PUC-Rio pode contribuir. Atuamos, por exemplo, em formação empreendedora, capacitação em áreas da cultura material, apoio tecnológico e aspectos de gestão. Pretendemos ficar ainda mais próximos desses setores, arte, cultura e design, para potencializar as capacidades da instituição e, ao mesmo tempo, colaborar com artistas e produtores. Essa é uma contribuição concreta que a Universidade pode oferecer.
Do ponto de vista social, esperamos que o convívio presencial, tão impactado pela pandemia, seja gradualmente recuperado por meio de eventos como este. Valorizamos três dimensões que foram fortemente afetadas: a presencialidade, muitas vezes substituídas por ações on-line à distância; a coletividade, fundamental para atividades que precisam ser produzidas em grupo, e o espaço público, que sempre foi central no Corredor.
Embora realizado no campus da PUC-Rio, trata-se de um espaço de portas abertas, por onde as pessoas circulam livremente, seja no trajeto entre o terminal de um ônibus e a Marquês de São Vicente, seja por lazer ou pelo interesse em conhecer a Universidade. Assim, o Corredor reafirma seu papel como espaço de encontro, convivência e reconstrução dessas relações coletivas, presenciais e públicas, ainda tão necessárias.
Qual foi o impacto mais marcante da edição de 2024?
Eu citaria dois. O primeiro é a trajetória do Renato Errejota, fotógrafo da Rocinha, que teve sua primeira exposição individual na PUC. Nós desenvolvemos um projeto de design de exposição pensado para espaços públicos e portabilidade, o que permitiu que ele realizasse outras duas mostras fora do campus, utilizando o mesmo mobiliário e modelo de impressão. Durante a primeira semana de exposição no Corredor, ele vendeu praticamente todas as suas obras. Isso abriu portas para sua inserção no mercado, resultando em novas exposições, inclusive em eventos da PUC, como o Laudato Si’ e a campanha de captação do Corredor Cultural, em que suas fotos se tornaram brindes de arrecadação. Hoje, seguimos acompanhando o Renato em aspectos como identidade visual, embalagens e estratégias de comercialização, e ele deve voltar na próxima edição do Corredor.
O segundo caso foi a exposição de Arlindo Oliveira, artista do Museu Bispo do Rosário, que acabou se tornando sua última mostra. Ele faleceu uma semana depois da abertura. Tivemos a oportunidade de recebê-lo no campus em um breve período de alta médica, quando conversou conosco. Assim, o Corredor registrou não apenas sua última exposição, mas também sua última entrevista. Esse vínculo entre o Departamento de Artes & Design e o Museu Bispo do Rosário gerou desdobramentos importantes, como o desfile de escola de samba previsto para 2026 em homenagem à obra do artista, fruto direto dessa parceria.
Esses dois exemplos já seriam suficientes para mostrar o impacto do Corredor: seja no incentivo ao empreendedorismo e à comercialização da arte, seja na preservação da memória e na valorização da obra de um artista. Mas essas são apenas duas entre mais de cem ações realizadas ao longo da semana do Corredor. Cada uma delas gerou impactos únicos e memórias importantes, que mostram como o evento cumpre sua promessa de conectar arte, universidade e comunidade.