Curso oferece oficinas artísticas para deficientes cognitivos
28 de julho de 2016 as 06:30
O Centro de Cursos de Extensão (CCE), em parceria com o Instituto Helena Antipoff (IHA), criou o curso Arte, Educação e Inclusão, destinado a pessoas com deficiência intelectual na faixa etária de 18 a 50 anos. O projeto é para dar continuidade à educação inclusiva de pessoas com necessidades especiais que, em sua maioria, não têm oportunidade de frequentar o espaço universitário. O curso será ministrado de 13 de setembro a 15 de dezembro, às segundas, quartas e quintas-feiras, das 13h às 17h, na Gávea. As oficinas serão ministradas pela coordenadora da Feira de Desenho Vivo e da Rede Solidária de Comedores Orgânicos, Ana Branco, a professora de artes visuais do IHA, Ana Elisabete Lopes, e a coordenadora do Núcleo de Arte Digital e Animação da PUC (N.A.D.A.), Claudia Bolshaw, que explicam alguns detalhes do projeto.
Como surgiu a ideia de criar o curso?
Ana Elisabete Lopes: Os alunos com deficiência que trabalhavam na oficina de artes visuais no Instituto Helena Antipoff vieram à PUC e se encontraram com um grupo do N.A.D.A. Então, nós começamos a desenvolver uma parceria para repensar o espaço da universidade como um lugar inclusivo e convidar essas pessoas para frequentar a universidade em outra perspectiva.
Cláudia Bolshaw: Eu já fiz oficinas de animação com este tipo de público no Instituto Helena Antipoff e sei que essas pessoas têm uma habilidade muito grande para animação e conseguem entender uma arte tão complexa. Como as pessoas com deficiência cognitiva não têm espaço quando acabam o Ensino Médio e não são absorvidas por uma educação continuada, resolvemos oferecer um curso com habilidades diferenciadas para que eles também possam estar na universidade.
Qual o objetivo do curso?
Ana Elisabete: Esse projeto entra como um caminho para ampliar as ofertas de formação universitária dentro de um curso de extensão e possibilitar a atuação no mercado de trabalho, pois a inclusão está longe de perpassar por todo o processo de formação das pessoas. A acessibilidade não pode se limitar apenas ao espaço físico, ela precisa incluir o currículo. Quando se fala de pessoas com deficiência intelectual, essa rede de apoio e suporte ainda está sendo pensada.
Como serão as aulas do curso?
Ana Elisabete: O foco está nas oficinas ligadas ao campo da arte. São trabalhos que exploram o campo das artes visuais: desenho, pintura, reciclagem, modelagem, dança, animação. A ideia é que o aluno possa frequentar os três primeiros meses e que no próximo ano ele possa dar continuidade nesse processo de educação continuada.
Cláudia: A princípio, nós vamos dar aulas três vezes por semana, com duração de duas horas. Não queremos fazer um currículo gigantesco, mas explorar qual é potencial deles. Nesse primeiro momento, vamos trazer matérias básicas que já dominamos há muito tempo para entender qual é a necessidade deles e pensar as novas disciplinas.
Qual a expectativa para o curso?
Ana Branco: Queremos escutá-los e poder descobrir o que sensibiliza essas pessoas com uma diversidade que o nosso sistema, no qual o capital prevalece, não abriga. Acredito que os alunos vão apresentar para nós um novo modo de viver nesse mundo e quero muito aprender com eles.
Claudia: Como os alunos do N.A.D.A. poderão ser monitores, eu acredito em uma troca horizontal entre o aluno que vem se matricular e os alunos da PUC. Diversos alunos com deficiência cognitiva gostam do trabalho repetitivo que a animação tem. Eles arranjam algumas possibilidades de repetição – chamamos de interpolação de frame- de uma maneira sistemática que o aluno tradicional da PUC muitas vezes não consegue chegar.