Eleito para a ABL, professor Paulo Henriques Britto quer ampliar alcance da pesquisa em poesia
2 de junho de 2025 as 06:30

Britto: “Gostaria de fazer com que jovens poetas se inteirassem da tradição poética”
O poeta e professor da PUC-Rio Paulo Henriques Britto foi eleito para ocupar a cadeira nº 30 da Academia Brasileira de Letras. Carioca, nascido na Tijuca, Britto é um dos maiores tradutores em atividade no país, tendo vertido mais de 100 livros para o nosso idioma. Aos 73 anos, mostra-se entusiasmado com as perspectivas a partir do ingresso na Academia, que deve ocorrer formalmente nos próximos meses. O PUC Urgente conversou com o futuro imortal sobre essas perspectivas, sua formação profissional e as atividades acadêmicas.
Como o ambiente universitário influencia suas atividades literárias?
Comecei a dar aula aqui na PUC-Rio antes mesmo de me formar. Obviamente, as minhas pesquisas são muito ligadas ao meu trabalho como professor da pós-graduação. Tenho duas linhas de pesquisa: forma poética, principalmente tradução de poesia, e poesia brasileira contemporânea. O curso de tradução de poesia eu dou no Programa de Pós-Graduação em Estudos da Linguagem, e o de poesia brasileira contemporânea eu dou no Programa de Pós-Graduação em Literatura, Cultura e Contemporaneidade, ambos do Departamento de Letras.
De que forma a Academia Brasileira de Letras pode atuar para divulgar a produção literária nacional? E como olhar para outras regiões do país, fora do eixo Rio-São Paulo?
Uma coisa que eu certamente vou fazer será organizar cursos e ciclos de debates. Conheço muitos poetas e muitos professores que trabalham com poesia, então posso chamar, por exemplo, três ou quatro escritores para discutir poesia produzida por mulheres. O que eles pedem para os acadêmicos é a realização de um curso por um ano. Sobre olhar para outras regiões do país, eu particularmente não conheço muitos poetas do Nordeste, mas conheço muitos poetas de Minas Gerais, por exemplo. Tendo a trabalhar muito a poesia daqui do Sudeste, mas agora seria interessante aproveitar essa oportunidade para me forçar a pesquisar mais a poesia de fora desse centro.
Qual é a importância de um curso voltado para a formação de escritores, como o que o Departamento de Letras da PUC-Rio oferece?
O curso da PUC começou em 2004, no mesmo ano que o da Unisinos, no Rio Grande do Sul, e esses foram os primeiros do tipo no país. O que tinha até então, e continua tendo fora das universidades, eram oficinas de curta duração dadas por poetas e críticos literários. Com a pandemia, surgiu uma nova modalidade, a oficina literária à distância. Vários poetas importantes, como o Carlito Azevedo e um mais jovem que eu gosto muito, Ismar Tirelli Neto, fazem cursos on-line. Isso é importante porque estimula que quem produz poesia leia o que foi escrito antes. Hoje em dia, tem muito uma questão de o sujeito ter escrito já dois livros e nunca ter lido nada, no máximo Drummond, Bandeira, João Cabral. O curso de Oficina de Poesia que eu dou aqui tem duas aulas por semana, e uma é voltada só para leitura. Porque escrever, quem gosta de poesia escreve, tudo bem… Mas tem que ler.
O senhor participou de algum desses cursos na sua juventude?
Não. Comecei a estudar psicologia, depois matemática, passei por cinema e só parei em Letras quando eu tinha 22 anos. A vida inteira eu escrevia até então, mas em prosa, ficção. Nunca estudei literatura na minha formação, na verdade minha formação foi em Linguística. Hoje sou professor de poesia, publico poesia, mas foi tudo sem grandes planos. Mas eu sempre li muito. Fui morar nos Estados Unidos quando tinha 10 anos, e lá descobri que não existia só poesia infantil, que era o que me davam para ler aqui. Quando cheguei lá, me colocaram para ler Shakespeare, Emily Dickinson e Walt Whitman, e então eu tomei gosto por poesia mesmo. Com 14 anos voltei para cá, e foi aí que eu comecei a ler Manuel Bandeira, Fernando Pessoa. Na escola, a poesia brasileira parava em Olavo Bilac. A ideia que se tinha é que a poesia era o que foi escrito até Olavo Bilac, o que veio depois era besteira. Não havia um olhar para o Brasil moderno. Hoje em dia isso melhorou, as crianças já leem poesia moderna, letras de música.
Quais são suas perspectivas para o ingresso na Academia?
O que pretendo fazer basicamente é levar minhas pesquisas para um público maior, não-universitário. Gostaria de fazer com que jovens poetas se inteirassem da tradição poética, não só da nossa língua. Uma coisa que eu insisto com meus alunos: para escrever verso livre, bem, tem que saber trabalhar com as formas clássicas. Com raras exceções, os grandes escritores de verso livre da língua portuguesa começaram no verso tradicional. Temos que começar do começo. A partir daí você descobre sua voz, sua expressão, e faz o que quiser.