Fé Cristã e Pluralidade
30 de setembro de 2013 as 06:30
Com o tema A Inteligibilidade da Fé Cristã num Mundo Plural, será realizada A XIV Semana Teológica entre terça, 1º, e quinta-feira, 3, no Salão da Pastoral. E no terceiro dia, haverá a Celebração dos 45 anos do Departamento de Teologia da PUC-Rio com o Seminário Memória, Identidade, Missão. Os professores Ana Maria Tepedino e César Kuzma, do Departamento de Teologia, contam como será o seminário e como ele será importante para repensar a identidade do Departamento. Eles também comentam a missão do curso de Teologia, criado no fim dos anos 60, que é humanizar a pessoa pela fé.
Por que realizar o seminário em comemoração aos 45 anos do Departamento?
Ana Maria Tepedino: Eu estou há 31 anos no Departamento, então eu participo há muito tempo dessa caminhada. Como nós estamos comemorando 45 anos de existência, achamos que estava no momento de celebrar esse percurso que fizemos, rever as alegrias e os momentos difíceis, porque as coisas mudam muito rápido, e é fascinante a gente poder mergulhar na história. Pensamos em rever a memória, para repensar nossa identidade, porque a memória nos dá a história e a história nos dá a identidade, e a nossa identidade vai nos mostrar qual vai ser o nosso futuro. Por isso é importante fazer essa dinâmica, para enfrentar a pluralidade que a gente encontra no mundo contemporâneo.
Qual a missão do curso de Teologia?
Ana Maria: O curso de Teologia tem como missão a humanização da pessoa através da fé. A nossa identidade nasceu em um curso muito encarnado na realidade, em um dos anos mais obscuros da nossa história, que foi 1968. Em 1972, os fundadores do departamento, padre Antonius Benkö e padre Alfonso García Rubio, foram a Roma pedir aprovação canônica, para que a faculdade fosse reconhecida como pontifícia, e conseguiram. Em 1974, nós tivemos a primeira reformulação do curso. Então, eu acho que estamos no caminho certo. Nós chegamos até aqui porque procuramos tornar a fé cristã inteligível ao longo desses 45 anos. Nós sempre nos deixamos desafiar pelos problemas de ponta, a questão da mulher, dos negros, da economia.
Quais os desafios da Teologia frente aos novos valores, a tecnologia, o contexto atual?
César Kuzma: A teologia hoje é chamada a repensar-se de que maneira ela pode dar uma resposta autêntica para o mundo atual, mas que seja coerente com aquilo que ela é. A teologia não quer ser um discurso de separação ou enfrentamento, mas um discurso de caminhada, de transformação, de vida nova. Há valores que a teologia não abre mão. Ela trabalha com a verdade de fé, e essa verdade de fé tem que se fazer compreendida no mundo, um mundo que tem uma multiplicidade de crenças, de pessoas, de valores, posturas afetivas e políticas.
Ana Maria: A teologia é diferente. Você pode dar uma aula maravilhosa de matemática e, quando você vai dormir, dorme bem. Quando você dá uma aula maravilhosa de teologia, quando você vai para a cama, você começa a pensar, porque envolve mais a própria vida da pessoa, não é uma resposta só a partir da razão, é uma resposta da pessoa inteira.
Que tipo de reflexões serão feitas na XIV Semana Teológica?
César: São dois eventos que formam um evento só. O seminário Memória, Identidade, Missão, no terceiro dia, tem uma proposta de celebrar os 45 anos da Teologia na PUC-Rio. Se os três elementos não estiverem relacionados nós não sabemos para onde iremos. Então, buscar a memória, saber a identidade, saber quem somos e o que somos nos remete à missão, que teologia se propõe a fazer a partir daqui. Nos eventos do primeiro e do segundo dia, uma parceria da PUC-Rio com o Instituto Teológico Franciscano de Petrópolis, a ideia é que, na parte da manhã dos dois dias, se debata a questão da fé no mundo plural, qual o futuro do cristianismo, como a fé cristã responde a essas questões num mundo que hoje não é mais cristão. Há valores cristãos, mas não é mais essencialmente cristão, como a teologia se coloca diante disso. É o universo que temos hoje, complexo, plural, variado. E na parte da tarde desses dois dias, vamos aproveitar os discursos do Papa Francisco, em sua passagem pelo Brasil, e vamos tentar fazer uma reflexão. Não o que ele disse sobre isso, mas os seus discursos em um tom pastoral, profético e também político, se consegue extrair reflexões. Três professores em cada dia vão extrair reflexões dos discursos. Então, quais as perspectivas antropológicas que se tira? Quais as perspectivas pastorais? Quais as perspectivas dentro da questão moral, social, política, que ele tentou abordar? Então você traz aquilo que é atual, dialoga e tenta responder a partir disso.