Entrevista

Formar mais em obras do que em palavras

Formar mais em obras do que em palavras

Coordenador da Pastoral Universitária Anchieta, Padre Paulo Veríssimo, S.J.

No campus da Gávea, Padre Paulo Veríssimo, S.J., pode ser confundido com um jovem aluno de Teologia. Mas que ninguém se engane: o potiguar que chegou ao Rio de Janeiro no fim do ano passado trouxe na bagagem projetos de renovação e pontes inter-religiosas entre todas as pessoas. Ao assumir a coordenação da Pastoral Universitária Anchieta, Padre Paulo sintetizou o trabalho como uma busca pelo amor, em uma Universidade que não deve formar os melhores do mundo, mas os melhores para o mundo. No dia 22 de março, às 15h, haverá o primeiro encontro do Grupo de Vida Cristã (GVX), uma das novas atividades da Pastoral, cujo objetivo é reunir jovens universitários para vivências de partilha, acolhimento, discernimento e espiritualidade.

A PUC-Rio é constituída por uma grande diversidade de pessoas que têm referenciais socioculturais e religiosos muito diversos. Qual o sentido de se desenvolver uma atividade “pastoral” na Universidade?
Padre Paulo Veríssimo:
Antes de mais nada, esse serviço é parte constitutiva da identidade e da missão dessa instituição educativa que, além de comunitária, é também confessional. Na Igreja Católica, pastoral, que vem, sim, da figura agrícola do pastor, frequentemente aparece associada ao zelo que o pastor deve ter por cada ovelha de seu rebanho. Prefiro falar, assim, de zelo pastoral. A ênfase da atitude que se entende pastoral não está na coerção sobre o comportamento do “rebanho”, como muitos pensam, mas no cuidado atencioso às suas necessidades. É essa compreensão de pastoral como cuidado e serviço que se deve ter presente. A Pastoral Universitária é o serviço à comunidade acadêmica oferecido desde a experiência cristã católica, sob o entusiasmo da fé, do Evangelho e dos valores do Reino de Deus. Isto não exclui, mas, antes, supõe o encontro, o diálogo e a convivência intercultural e inter-religiosa, com o devido respeito a todas as diferenças. A Pastoral Universitária existe, primeiramente, para ajudar à comunidade cristã católica também presente na Universidade a integrar fé e vida desde sua realidade; mas também existe para fazer pontes com pessoas e grupos que queiram promover os mesmos valores que dignificam a vida humana e ser sinal da experiência de um Deus que ama a todos indistintamente e que olha preferencialmente para os que sofrem ou são mais fragilizados. O sentido da Pastoral na Universidade é o serviço às pessoas, para que vivam bem seu tempo na Universidade e saibam que, desde sua experiência de fé, existe uma comunidade disposta a acolher e ajudar a todos.

A partir de importantes mudanças estruturais na PUC-Rio, percebemos estar vivendo um tempo de renovação que exige a revisão de muitos processos ou modos de conduzir alguns trabalhos. Como a Pastoral Universitária Anchieta tem se organizado para desenvolver sua missão na Universidade?
Padre Paulo:
Nós, enquanto equipe, vivemos ao longo de 2022 um bonito processo de discernimento comunitário e planejamento apostólico. Isto se refere a um método participativo de rever a história e a finalidade da Pastoral Universitária, traçando novas linhas de atuação com decisões discernidas, apoiadas sobre um olhar para as exigências que a realidade atual apresenta à nossa atuação, confrontadas também ao que sentimos que Deus nos pede. Optamos por desenvolver projetos e ações articuladas em cinco eixos: 1. Fé e espiritualidade; 2. Pedagogias da formação integral; 3. Juventudes e desafios contemporâneos; 4. Promoção da justiça socioambiental e 5. Diálogo intercultural e inter-religioso. Para este ano de 2023, assumimos um lema, que é uma frase de um antigo Superior Geral dos Jesuítas, o Padre Adolfo Nicolás, S.J.: “Não se trata apenas de formar os melhores do mundo; senão os melhores para o mundo.” É com essa inspiração que temos discernido e organizado nossa missão: para sermos e formarmos pessoas para os demais.

O que um jovem estudante ou outra pessoa da comunidade universitária pode esperar encontrar, em termos de ações concretas, caso busque a Pastoral Universitária?
Padre Paulo:
Em termos de ações concretas? Amor! Santo Inácio de Loyola dizia que “o amor se mostra mais em obras do que em palavras”. Então, para as pessoas de fé, o que temos de concreto é amor traduzido em Missas, celebrações e Grupos de Vida Cristã, por exemplo. Mas também temos amor traduzido em compromisso social nas atividades do Pré-Vestibular Comunitário e no Voluntariado para a Amizade Social – VOAS; o grupo inter-religioso Andar Ca’Fé é amor concreto para além das fronteiras religiosas; e assim por diante. O espaço não permite detalhar estas e tantas outras ações. Por isso, convido a todos a nos visitarem e nos contactarem para conhecer mais ações concretas.