Entrevistas

G20 no Rio: a cooperação global e o papel do BRICS Policy Center

G20 no Rio: a cooperação global e o papel do BRICS Policy Center

Marta Fernández, diretora do BRICS Policy Center (Foto: Arquivo pessoal)

O Fórum Internacional do G20 reuniu líderes das principais economias globais nos dias 18 e 19 de novembro, no Rio de Janeiro, com o objetivo de fortalecer a cooperação em questões financeiras e econômicas de relevância mundial. Este encontro anual visa à coordenação de políticas para enfrentar desafios globais, promovendo um desenvolvimento econômico sustentável e inclusivo e abordando temas como estabilidade financeira, comércio internacional e mudanças climáticas. Desde 2017, o BRICS Policy Center (BPC) da PUC-Rio, uma think tank vinculada ao Instituto de Relações Internacionais da Universidade, acompanha as discussões do G20, contribuindo para a Força-Tarefa de Reforma da Arquitetura Financeira Internacional. Em 2023, pesquisadores do BPC produziram nove notas técnicas sobre temas como financiamento climático e reforma da ONU, oferecendo recomendações para a Declaração Final do G20. Além disso, o centro lançou o “Caderno para Entender o G20” e promoveu debates públicos em parceria com organizações como REBRIP e INESC, com o intuito de democratizar as discussões internacionais. O PUC Urgente conversou com Marta Fernández, diretora do BPC, sobre o papel do centro nas pautas do Fórum Internacional. Confira a seguir.

O que é o BRICS Policy Center?
Marta Fernández:
O BRICS Policy Center é um think tank vinculado ao Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio. Funcionamos em Laranjeiras, nas Casas Casadas, a partir de um convênio com a Prefeitura do Rio. Buscamos contribuir para o debate e a formulação de políticas públicas voltadas para a redução das desigualdades globais, sempre a partir de uma perspectiva do Sul Global. O centro de estudos completará 15 anos de existência em 2025 e tem sido reconhecido como uma plataforma de diálogo e de construção de convergências entre uma pluralidade de atores nacionais e internacionais: acadêmicos, agentes públicos, organizações não governamentais e movimentos sociais, entre outros. Desde sua fundação, o BPC visa influenciar instituições públicas, legisladores, sociedade civil e demais responsáveis pela tomada de decisões relevantes. Atualmente, os principais programas de pesquisa são: BRICS-Urbe, Unidade do Sul para Mediação Global (GSUM), Laboratório de Cooperação e Financiamento para o Desenvolvimento (LACID), Plataforma Socioambiental, Pesquisa sobre Escravidão Contemporânea, Economia Política das Relações Sul-Sul, Segurança e Desenvolvimento no Sul Global (SEED) e o Programa de Inovação e Governança do Desenvolvimento. Os programas de pesquisa do BPC são coordenados por pesquisadores e pesquisadoras do Instituto de Relações Internacionais da PUC-Rio, com o apoio de estudantes de pós-graduação (mestrandos e doutorandos) e estagiários (graduandos) do mesmo Instituto.

De que forma o BRICS Policy Center tem contribuído para as discussões das pautas do G20?
Marta Fernández:
O BPC vem acompanhando a agenda do G20 desde a presidência da Alemanha em 2017, por meio de sua participação no T20, grupo de engajamento dos think tanks. Este ano, estamos tanto no Conselho Consultivo Nacional do T20 quanto na coordenação da Força-Tarefa de Reforma da Arquitetura Financeira Internacional. Pesquisadores e pesquisadoras do nosso Centro produziram nove “policy briefs” (notas técnicas) sobre diversos temas, como Economia do Cuidado, Financiamento Climático, Investimentos Públicos Globais, Reforma das Nações Unidas, entre outros. Essas notas técnicas, publicadas no site do T20 e entregues aos representantes dos Chefes de Estado e governo, contêm uma série de recomendações que visam incidir na Declaração Final do G20. Além disso, o BPC tem como propósito democratizar e popularizar temas de política internacional que, em geral, são vistos como abstratos e complexos. Para isso, lançamos o “Caderno para Entender o G20”, disponível em nosso site, e promovemos uma série de debates públicos sobre os limites e potencialidades do agrupamento. Vale destacar que o Caderno foi produzido em parceria com organizações e redes da sociedade civil, como a rede Jubileu Sul, a Abong, a Rede Brasileira Pela Integração dos Povos (REBRIP) e o Instituto de Estudos Socioeconômicos (INESC). Um dos traços distintivos do BPC tem sido essa produção de conhecimento e políticas de forma colaborativa com essas organizações. No âmbito do G20, tivemos um diálogo produtivo com o C20 (grupo de engajamento da sociedade civil), o que resultou na publicação de declarações temáticas conjuntas nas áreas de reforma da arquitetura financeira internacional, transição energética justa e transformação digital inclusiva.

Com o Brasil na presidência do G20, que pontos da agenda são considerados prioritários?
Marta Fernández:
A presidência brasileira definiu três eixos prioritários: o enfrentamento à fome, à pobreza e à desigualdade; o desenvolvimento sustentável; e a reforma da governança global. Durante a Cúpula, o Brasil lança oficialmente a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que consistirá na mobilização de recursos financeiros e conhecimentos acumulados para avançar nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS), com a ambição de promover até 2030 a erradicação da pobreza (ODS 1) e a fome zero e agricultura sustentável (ODS 2). Outra prioridade concreta da presidência brasileira, para a qual conseguiu amplo consenso ministerial, é a taxação das grandes fortunas visando a criação de um fundo destinado ao financiamento de bens e serviços públicos.

De que forma as universidades têm contribuído para a reflexão de temas que serão tratados no G20 e que são fundamentais para o país?
Marta Fernández:
As universidades têm contribuído significativamente para um dos legados centrais do processo do G20 no Brasil, que é o formativo, capacitando a sociedade para debater com maior fluidez temas internacionais. Além disso, o G20 vem promovendo uma maior consciência sobre a interdependência entre diferentes disciplinas acadêmicas. O debate sobre a promoção de uma transição energética justa, por exemplo, atravessa várias disciplinas e se enriquece com diálogos interdisciplinares. Outro ponto importante é o incentivo que o G20 pode proporcionar à extensão universitária, pois vem possibilitando a construção compartilhada de saberes a partir de coalizões com diversos atores sociais. De fato, uma marca do processo brasileiro do G20 foi o engajamento entre diferentes setores da sociedade civil, empresas e outros grupos de interesse.

O que se espera deste G20, com o Brasil na presidência rotativa?
Marta Fernández:
Um ponto a destacar é como o Brasil tem colocado a questão da desigualdade como transversal às diferentes pautas do G20, cobrando do Norte Global uma maior responsabilidade pela distribuição justa dos recursos no mundo. Essa visão tem tido certa continuidade, considerando que a atual Troika (formada pelo último país a assumir a presidência do G20 – Índia –, o atual – Brasil – e o próximo – África do Sul) é composta por países do Sul Global e membros do BRICS. Há, portanto, uma expectativa de que o tema das desigualdades esteja no centro da agenda tanto da próxima Cúpula do G20, na África do Sul, quanto da Cúpula do BRICS e da COP30, que serão sediadas pelo Brasil em 2025.