Entrevistas

Geografia dos votos em época de eleição

Geografia dos votos em época de eleição

Diretor do Departamento de Comunicação da PUC, professor Cesar Romero Jacob

Em ano de eleição, o Diretor do Departamento de Comunicação da PUC, professor Cesar Romero Jacob, lança, na quarta-feira, 29, às 15h, na Sala 102-K, uma edição do e-book do livro A geografia do voto nas eleições para prefeito e presidente nas cidades do Rio de Janeiro e São Paulo: 1996-2010. A obra, que foi elaborada em parceria com os pesquisadores Dora Rodrigues Hees, Philippe Waniez e Violette Brustlein, tem como novidade a análise geográfica das eleições de 2008 e 2010. O trabalho traz 150 mapas que mostram o padrão dos votos das últimas eleições nas cidades do Rio de Janeiro e de São Paulo. Cesar Romero destaca a contribuição do livro para o momento atual. O lançamento com palestra será nesta quarta-feira, 29/08, às 15h, na sala 102K.

Em que se baseia o livro?

Cesar Romero Jacob: Esse trabalho tem duas grandes preocupações. A primeira questão é a respeito do voto para presidente e para prefeito. Frequentemente, diz-se que o presidente da República é um grande cabo eleitoral dos candidatos a prefeito. A indagação é ver se, dependendo do nível da eleição, o eleitor faz escolhas pelo mesmo partido ou por partidos diferentes. Há uma preocupação se o presidente da República é um bom cabo eleitoral ou não. O livro vai tentar responder esse tipo de questão, a partir de um mapeamento de oito eleições seguidas, entre 1996 e 2010. Buscamos entender se há recorrência de comportamento.

Como foi feito o trabalho de pesquisa?

Cesar: Nosso trabalho é feito em base de dados oficiais. Não trabalhamos com pesquisas de opinião, e sim com resultados das urnas. E aí entra a segunda questão. Se haveria, nessas cidades, uma segmentação do voto a partir de escolaridade, renda e filiação religiosa. Porque há muitas cidades dentro do Rio e São Paulo. A questão é analisar se, dentro de ambientes sociais complexos, é possível identificar uma escolha partidária homogênea. Há também um terceiro elemento no trabalho, que é o governador e a eleição para prefeito. Frequentemente, diz-se que o governador é um grande cabo eleitoral. No entanto, quando se olha para o Rio e para São Paulo, a experiência histórica é diferente. Em São Paulo, só houve coincidência em uma de sete eleições, o candidato do governador só ganhou uma vez, e, no Rio, duas.

Quais foram os resultados obtidos?

Cesar: No caso de São Paulo, eles são claros, você vê em oito eleições sucessivas. O PSDB é muito votado em bairros de escolaridade e renda alta. À medida que você sai da parte central e caminha para os extremos do município, o campeão de votos é o PT. No Rio, isso é um pouco mais complexo. Existe uma parte da cidade, a metade sul, que é a área com escolaridade e renda mais altas. Essa parte tem uma divisão muito clara, na área de classe média, você tem uma parte com voto mais conservador, que seria a “orla”, como Barra, Leblon e Ipanema. Há uma outra parte, também de classe média, onde os candidatos de esquerda sempre têm mais votos, que é a grande Santa Teresa. Há a metade norte do município, a parte da Leopoldina e Central, que é uma parte de escolaridade e renda média, onde se identifica um tipo de voto. E a zona oeste também tem um tipo de segmentação. No Rio, você não encontra a segmentação tão claramente em primeiro turno, só em segundo turno.

Qual é a contribuição que o livro traz em época de eleição?

Cesar: É uma contribuição às pessoas interessadas em eleições municipais que querem entender exatamente o que acontece, porque quando você olha uma eleição e não vê a história, você olha só uma coisa. Por exemplo, se um governador não conseguiu se eleger uma vez, é algo pontual. Mas se isso é sistemático, o que significa e representa? Escolhi essa data porque é um bom momento, espero que o livro seja útil para as pessoas entenderem. Elas votam muito em função das paixões do momento, do calor da campanha. Achamos que o livro pode contribuir para as pessoas entenderem melhor a história eleitoral dessas cidades.

Com base nas pesquisas, há alguma previsão para as eleições de 2012?

Cesar: O trabalho pode nos ajudar a entender o que tem acontecido ao longo do tempo, mas ele não é uma pesquisa de opinião. Ele nos permite refletir um pouco mais sobre essas questões todas, mas não consigo fazer nenhum prognóstico sobre o resultado das eleições. São Paulo está mais indefinido. Mas não dá para se dizer nada agora, porque podem acontecer fatos que alterem o jogo.