Habitar o Mapa: Exposição analisa a favela Vila Parque da Cidade
Por: Victória Reis
3 de dezembro de 2021 as 06:30
Até 31 de janeiro, o Museu Histórico da Cidade, no Parque da Cidade, na Gávea, exibe produtos desenvolvidos por alunos da PUC-Rio durante a primeira fase do projeto “Potências locais: cartografias de reconhecimento e ação”. A ação reúne diversos mapas críticos que analisam a comunidade Vila Parque da Cidade, com o objetivo de iniciar um diálogo coletivo sobre o espaço urbano. O trabalho foi realizado pelo Escritório Modelo de Arquitetura e Urbanismo (EMAU-DAU), na época supervisionado pela professora Vera Hazan, que morreu vítima de Covid em julho deste ano. A coordenação ficou a cargo do Laboratório de Arquitetura Humanitária da PUC-Rio e envolve oito estagiários. A mostra fica aberta de quinta-feira a domingo, das 9h às 16h, com entrada gratuita. Há também arrecadação de alimentos não perecíveis, itens de higiene e produtos de limpeza. O coordenador do projeto e ex-aluno do Departamento de Arquitetura e Urbanismo, Felipe Gonzalez, e a estudante do 8º período do DAU Lara Michelli revelam detalhes da exposição.
Como surgiu a ideia da exposição?
Felipe Gonzalez: A exposição, na verdade, não foi a ideia inicial de produto do projeto, surgiu mais como uma forma de explorar o ambiente urbano da Vila da Cidade, e o EMAU já estava envolvido em dois projetos na comunidade. O projeto começou mais em um âmbito investigativo, de onde seria a exposição, e, em certo momento, criamos uma série de mapas relevantes, não só como um modo de pesquisa para nós, mas também para a população local. E tivemos a ideia da exposição como forma de tornar mais público os nossos produtos, que também estavam sendo desenvolvidos não só com a gente do EMAU, mas com colaboradores da própria comunidade.
Como foi a interação inicial com a comunidade do Parque da Cidade?
Felipe Gonzalez: Inicialmente foi complicado. Acho que a pandemia foi muito decisiva nessas complicações porque tivemos que nos adaptar aos meios digitais de interação. Ainda mais em situações que gostaríamos de estar lá com eles desenhando no mapa, já que é a parte mais interessante e dinâmica. Tivemos que encontrar outras formas, utilizando o Miro, um software que possibilita o trabalho colaborativo. Precisamos ter uma comunicação muito boa entre a equipe e quem ia falar com os responsáveis da comunidade. Porque tínhamos várias frentes de contato com a comunidade, tanto com a associação, o museu e os moradores. Logo, foi complexo, mas acho que conseguimos administrar bem. E foi justamente essencial para darmos um pulo no projeto de uma fase de mapeamento por imagem de satélite e Google Street View, Google Earth, e outras bases de dados, para algo mais social e próximo à realidade deles.
Qual a importância do projeto Potências Locais: Cartografia do Reconhecimento e Ação?
Felipe Gonzalez: Acho que são três importâncias. Uma, do meu ponto de vista de pesquisador já formado, e acredito que a Lara possa falar da sua importância como estudante. E o de maior relevância seria a importância do projeto para a própria comunidade. Fazemos isto pela construção de pontes entre a PUC e a comunidade, que não é só feita pelo curso de arquitetura. Para mim, é interessante porque é um prosseguimento da minha metodologia da dissertação de mestrado, e uma chance de botar isto em prática. De repente, ter a possibilidade de levar estes resultados mais teóricos para algo mais no chão. Acredito que para a comunidade seja importante por causa da relevância dos dados que estamos criando com eles, que são mais mapeados na cidade formal do que na propriamente dita informal.
Lara Michelli: Para mim foi único ter uma pesquisa que fosse desenvolvida de forma tão conjunta com os moradores. Esta colaboração que foi feita trouxe um enriquecimento para o projeto que que não havia nas disciplinas comuns da Universidade e acho que a maior parte dos colegas da equipe terá esta mesma percepção. Esta relação com o projeto é algo enriquecedor para nós, alunos. E ressalto que a importância para os moradores é maior ainda, como o Felipe apontou.
Quais são os pontos fortes da exposição?
Felipe Gonzalez: Acho que são dois pontos. Um é o levantamento de dados, já que estamos criando dados que até o próprio governo não está tão atento. E o outro é a criação de uma ponte mais forte com a comunidade. Por exemplo, o último painel da exposição é interativo, no qual a população pode participar diretamente conosco, posicionando adesivo nos painéis, que são como eles se sentem na comunidade, se gostam mais de alguns locais e como é esta relação. Acho que são estas duas questões do levantamento e criação de dados e pontes com a comunidade que conseguimos levar para a frente em outras fases do projeto.
Lara Michelli: Acho que vai nesse sentido mesmo, de que a própria exposição puxa a continuidade do projeto e reforça tudo o que foi procurado antes e durante a produção.